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Artigos

 
  • Grave preocupação

    O Globo (RJ), em 19/11/2006

    Imagino que o gentil leitor ou a encantadora leitora possam suspirar mal resignados, diante do título acima: lá vem ele com assombrações para o futuro do país outra vez. Ledíssimo engano, pois não estou com preocupação nenhuma em relação a “este país”. As fontes oficiais, a começar pelo presidente, nos revelam que o país está pronto. Está tudo arrumado para o desenrolar do espetáculo do crescimento, chega a dar para sentir no ar o clima de largada para a Grande Disparada à Frente que experimentaremos a partir do próximo mandato. É só esperarmos até o novo ano, não vamos começar agora, com o Natal, o réveillon e a semana santa já aí. A data certa é um belo dia de abril, para ficar tudo ajeitado como devia e o homem dar a bandeirada.

  • Unanimidade para a hegemonia

    Jornal do Commercio (RJ), em 17/11/2006

    A Câmara Americana, por quase dois terços dos seus votos, aprovou projeto de lei que consagra o que Bush pediu a Deus para de vez instalar o reino da hegemonia no país dos direitos humanos. Não foram só os republicanos que optaram pela nova proposta legal, que permite a espionagem indefinida dos telefones americanos, as torturas por imersão, ou levam a penas, até de morte, acusados de terrorismo, sem conhecimento do libelo, nem efetivo direito de defesa. O projeto vencedor, por enquanto, consagra a norma inédita de que caberá apenas ao presidente discernir o que seja tortura grave ou branda. E bane de vez o respeito às Convenções de Genebra, ao que seja o tratamento de prisioneiros quando considerados como insurgentes e não como membros de exércitos regulares. Consagra, a reboque da nova legislação, a permanência indefinida, pois, de Guantánamo, tal como considera como definitivas as confissões obtidas declaradamente sob tortura até 2005. A senadora Hilary Clinton votou com os republicanos, assim como boa parte de seus colegas de partido. A decisão veio a toque de caixa, com vistas às eleições estaduais. E o que importa é o quanto cada partido se tornasse mais duro frente aos eleitores, diante da convicção de estar o país ameaçado pelo terrorismo e possíveis novas catástrofes no território americano. Desapareceu toda a expectativa de que a clássica oposição entre duros e brandos na condução da potência hegemônica obedecesse ainda à clivagem clássica entre o partido de Roosevelt e Kennedy ou de Nixon e Bush. O que estarrece é o quanto, na perspectiva da afirmação das garantias de um estado de direito e do país arcano das liberdades, o arreganho eleitoral imediatista confunde de vez a imagem histórica do país e da sua confiabilidade a largo prazo pela plataforma de direitos humanos nascida com Jefferson, Lincoln e Roosevelt. Não importa esteja Bush no nadir hoje de sua popularidade, aos 28%, quando tinha quase 90% ao caírem as torres do World Trade Center. Se se tacha hoje o presidente de incompetência, nada se tira da dominância nova da política americana de aceitar as regras do jogo e, de vez, da "civilização do medo". O próprio Partido Republicano e figuras-chave dos antigos falcões, como os senadores Warner e McCain, refugaram a liberação ostensiva do regime das torturas como o caminho mais direto ao recrudescimento do terrorismo. Arrefeceram as suas vozes, inclusive de heróis de guerra e torturados no Vietnã, quanto à catástrofe que representaria hoje, em torno de escalada a longo prazo, a violação repetida e crescente dos direitos humanos para intimidar terroristas. O que se vê instalada é, de vez, a "civilização do medo", eliminando-se qualquer calendário de retirada das tropas americanas no Oriente Médio, redobrando-se a convocação de reservistas e trazendo-se agora a sétima frota americana para cercar os portos do Golfo Pérsico. O choque, de que não ouvimos ainda o troar, é dessa maioria no Congresso americano, para além das bandeiras partidárias, que quer de vez criar o fato consumado do país hegemônico, à margem por inteiro do regime internacional de proteção das garantias básicas dos direitos humanos, refratário a que as Nações Unidas se imiscuam em qualquer questão de etnocídios ou de genocídios que decorram da "civilização do medo". Passa a viger a garantir suprema e estrita da segurança nacional americana e a total inviabilidade de que se possa dar qualquer habeas corpus para a salvaguarda da Convenção de Genebra quanto ao respeito aos prisioneiros. Inaugura-se, sim, a figura do combatente inimigo, sem recursos, voz e defesa, jogados no vácuo do arbítrio presidencial, para saber até onde possam ser objeto de estupro, experimentos biológicos e tratamento cruel e desumano. Não está mais em causa a opção feita por Bush quanto ao que dele pensarão no futuro os antigos presidentes de perfil esculpido para sempre no Monte Rushmore. Claro, aí fica de novo a Suprema Corte diante da aliança do Executivo e da legislatura no caminho de opção sem volta oferecida ao eleitorado. Na mesma onda, submerge de vez uma candidatura Clinton, a se manter uma alternativa. O país que irá ao Supremo não sabe ainda quem serão os seus líderes à altura de novos Roosevelts ou Jeffersons.

  • Kuaa Mbo"E

    Jornal do Commercio (RJ), em 17/11/2006

    Não se assustem com a expressão acima. Ela guarda um profundo sentido, na proposta de uma educação indígena, na região Sul e Sudeste do Brasil. Significa, em guarani, Conhecer-Ensinar. Remonta, para os estudiosos, à época dos nossos primeiros tempos, com o trabalho dos jesuítas, acelerado a partir da vinda do padre José de Anchieta, em 1553, na equipe do governador-geral Duarte da Costa. Todos sabemos do quase genocídio dos nossos indígenas, que saíram do número de 3,5 milhões para os atuais 400 mil. Assinale-se, hoje em dia, um dado positivo: cresce o índice demográfico entre eles, tornando distante a possibilidade da sua extinção. Há tribos em praticamente todo o território nacional, embora em muitas registre-se um número inexpressivo de habitantes. Uma forte luz se acendeu, por iniciativa do Consed (Conselho dos Secretários de Educação), do MEC e da Fundação Nacional do Índio, com a criação do Programa de Formação para Educação Escolar Guarani nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Desde 2001, lideranças, pajés e professores guarani reúnem-se para discutir essa proposta. Concordamos com as lideranças que afirmam "ser a cultura muito importante. Vamos aprender a ensinar. Também é importante para que não se esqueça a sabedoria dos nossos anciãos e a memória guarani." Por isso, a Secretaria de Estado de Educação aliou-se fortemente ao projeto. Temos o maior carinho pela Escola Estadual Indígena Guarani Karai Kuery Renda, composta das seguintes unidades: "kyringue yvotyty", em Angra dos Reis (Bracuí), "tava-mirim", em Parati-mirim, e "karai oka", em Araponga, também em Paraty. Somando, são 160 alunos, com professores guarani (bilíngües, pois sabem adequadamente o português), que apostam numa educação diferenciada, que atenda aos seus interesses e tradições. A carga mínima anual é de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias letivos de efetivo trabalho escolar. No currículo, são respeitadas as diretrizes nacionais, de acordo com a legislação vigente no País, e as propostas de cada etnia, em respeito às especificidades étnico-culturais de cada povo ou comunidade, respeitados o saber e a cultura indígenas. Cada grupo tem práticas pedagógicas específicas, todas de caráter presencial, com um calendário próprio, como pôde verificar, em visita feita aos locais, o professor Paulo Pimenta, que registrou, com emoção, a eficácia do aprendizado das crianças das respectivas aldeias. Aulas de forte conteúdo de brasilidade, assim se contemplando a construção de conhecimentos, valores, habilidades e competências. Todas pertencem à rede estadual de ensino e funcionam em regime de tempo integral, nas três aldeias referidas. As salas são arrumadas em ambiente diferenciado. Ao lado, existem as casas de reza e um amplo espaço para caçar, montar armadilhas, pescar, plantar etc. É uma forma de não desvirtuar os hábitos seculares, com suas práticas sócio-culturais e religiosas. Nenhuma imposição, pois esta seria contrária ao espírito de preservação dos principais valores ali estabelecidos. O prof. Pimenta registrou isso tudo, voltando ao Rio com o som do chocalho na cabeça, com os índios dançando o seu tradicional Xondaro. Uma experiência inesquecível de respeito aos costumes verdadeiros dos nossos primeiros habitantes.

  • Chá da meia-noite

    Folha de S. Paulo (SP), em 14/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Embora legalizada em outros países, a eutanásia continua proibida no Brasil. No entanto demos um passo importante em direção à dignidade do único episódio vital que é a morte. Com isso estou lembrando a frase de santo Agostinho: "a vida não é mortal, a morte é que é vital".

  • A poesia permanece

    Tribuna da Imprensa (RJ), em 14/11/2006

    Um analista literário romântico diria que o tempo se esvai, mas a poesia permanece. Foi frase parecida que usei há muitos anos em artigo sobre um jovem poeta, Vitto Santos, que publicava então um livro de poesia chamado "O pássaro de fogo", em cujos versos destaquei uma pureza vocabular que chamava a atenção para o nome do autor. Opinei então que "O pássaro de fogo" podia ser considerado como estréia importante.

  • De volta para casa

    Folha de S.Paulo (SP), em 13/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Lá no fim, depois do imenso corredor, a placa amarela indicava o portão nº 5 -"Gate Five"-, segundo a recepcionista da companhia aérea que o atendeu no balcão. Mas não precisava indicar nenhuma porta ou portão para saber onde ficava o terminal que embarcaria o próximo vôo para o Rio.

  • O povo de Lula no poder

    Jornal do Commercio (RJ), em 13/11/2006

    A vitória do presidente não consagra apenas esta situação inédita da força do petista sem o PT, sem herdeiros, e cobrado a uma responsabilidade histórica sem volta. Por força, fica agora a trégua para a total avaliação, pelo presidente, do novo e amplo horizonte à sua frente, para dizer finalmente a que veio depois da chegada ao Planalto em 2002. Aí está consagrado por esse "povo de Lula", que impôs de vez uma nova consciência de mudança a partir do país da marginalidade e daqueles 33% de brasileiros ainda fora de uma economia de mercado e das condições de melhoria continuada, que passa a assegurar.

  • Ministério de coisa nenhuma

    Folha de S. Paulo (SP), em 12/11/2006

    RIO DE JANEIRO - Nada assanha mais a mídia especializada do que uma reforma ministerial. É natural que fique assanhadíssima quando se forma um novo ministério a cada governo, ministério que, depois de formado, é sucessivamente reformado ao sabor das contingências e das exigências de cada situação.

  • Tradição na formação

    A Gazeta (ES), em 10/11/2006

    O Brasil é um país imenso, com segredos e mistérios nem sempre ao alcance do comum dos mortais. Um grupo de educadores do Sesc, com os quais estivemos reunidos, voltou de visita ao Rio Grande do Sul trazendo uma forte impressão favorável do que lhes foi dado assistir no Instituto de Educação Ivoti, situado em São Leopoldo, com existência superior a 90 anos.

  • Poliglotas em português

    Diário de Pernambuco (PE), em 10/11/2006

    A reunião conjunta das Academias do Brasil e das Ciências de Lisboa resultou de uma idéia a serviço da reflexão em comum. Haverá de ser distinto momento de nossas relações no plano cultural, mas na condição de comunidade ativa e não apenas de contemplação.

  • Tradição na formação

    A Gazeta (ES), em 10/11/2006

    O Brasil é um país imenso, com segredos e mistérios nem sempre ao alcance do comum dos mortais. Um grupo de educadores do Sesc, com os quais estivemos reunidos, voltou de visita ao Rio Grande do Sul trazendo uma forte impressão favorável do que lhes foi dado assistir no Instituto de Educação Ivoti, situado em São Leopoldo, com existência superior a 90 anos.

  • Papai Noel não vai a Caracas

    Jornal do Brasil (RJ), em 10/11/2006

    Chávez proibiu Papai Noel de entrar na Venezuela. É o que dizem os jornais. O argumento é que se trata de um agente americano disfarçado num velhinho de barbas brancas e cara de bondoso para matar os costumes populares venezuelanos, tão bem descritos por Rómulo Gallegos em sua espetacular obra, na qual recordo as coplas de Cantaclaro e a saga de Doña Bárbara, la bonguera.