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Artigos

 
  • Sérgio e a energia nuclear

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 23/10/2005

    O Brasil perdeu uma grande figura da sua diplomacia. E também da cultura. O embaixador Sérgio Correa da Costa, membro da Academia Brasileira de Letras desde 1983, somava uma série de qualidades raras na mesma personalidade. Elegante, com domínio de vários idiomas, historiador de primeira categoria, legou ao seu País trabalhos que jamais serão esquecidos, dado o seu inquestionável valor. Isso foi dito no velório, realizado na sala dos poetas românticos da ABL, antes do enterro no Mausoléu dos Imortais.

  • Queremos ser modernos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 23/10/2005

    Não dei sorte, porque ainda peguei a fase em que não dar cachação em menino era considerado “pedagogia moderna” e coisa de frescos (que tinham que ser muito machos para encarar a barra que era ser fresco naquela época). Então, como o velho sempre pendeu, apesar de uns passageiros surtos de esquerdismo, para um certo conservadorismo, caí muito no cachação. Tenho vasta experiência, pessoal ou indireta, com a pedagogia antiga. Encarei muita surra de cinturão e palmatória, mas nunca me ajoelharam em milho, é uma falha em minha formação. Sempre havia alguém que tinha ajoelhado em milho, alguns enquanto rezavam um rosário, outros entoavam frases sonoras sobre suas culpas, muitas das quais tão floridas e elaboradas que o castigado nem as entendia, como por exemplo “estulto estou por falta de estudo e estulto não estarei se isto tudo estudar”. Lido assim, pode até parecer moleza, mas imagine isso encostado num canto de parede, uma mão levantada acima de sua cabeça e você tendo de dizer tudo com clareza dezenas de vezes encarreiradas. Essa não era, graças a Deus, do repertório lá de casa, era de um colega meu. Havia narrativas mitológicas sobre o que faziam às crianças que agiam mal. Fiquei, creio eu, mais ou menos na média para minha turma da época, se bem que meu pai era hors-concours , justiça seja feita.

  • Os segredos do porão

    O Globo (Rio de Janeiro), em 23/10/2005

    UMA VEZ POR ANO VOU ATÉ A ABADIA beneditina de Melk, na Áustria, para participar dos Encontros Waldzell - uma iniciativa de Gundula Schatz e Andreas Salcher. Ali, durante todo um fim de semana, ficamos em uma espécie de retiro junto com prêmios Nobel, cientistas, jornalistas, duas dezenas de jovens, e alguns convidados. Cozinhamos, passeamos pelos jardins do conjunto monumental (que inspirou “O nome da rosa”, de Umberto Eco), e conversamos informalmente sobre o presente e o futuro de nossa civilização. Os homens dormem na clausura do mosteiro, e as mulheres são hospedadas em hotéis próximos.

  • Referendo inútil

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/10/2005

    Na crônica de ontem, declarei que não votaria no plebiscito de hoje. É uma consulta escapista bolada pelo governo, além de hipócrita e sobretudo inútil. As alternativas, proibir ou não o comércio de armas, não resolverão o problema da violência que se alçou à "pole position" de nossas misérias: concentração de renda, juros escorchantes, corrupção em vários níveis da vida pública, desemprego etc.

  • A voz dos intelectuais

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 22/10/2005

    Todo o Brasil está sendo testemunha de um clamor generalizado contra o ''silêncio dos intelectuais'', título de um ciclo de conferências realizadas em várias cidades do Brasil. Evidentemente há uma boa dose de oportunismo em algumas dessas cobranças, feitas por pessoas mais interessadas em atacar um governo de esquerda que em implantar o reino da moralidade pública, mas as críticas contêm no avesso algo de positivo: um reconhecimento da importância do intelectual e mesmo uma indicação implícita dos rumos que deveriam ser seguidos para que sua função se tornasse mais eficaz.

  • Bobo sabe, o intelectual cala

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 22/10/2005

    Há mais de ano, Adauto Novaes programou, no debate que ora explodiu, a temática sobre o silêncio do intelectual. A perspectiva era ainda, no momento de primeira estabilidade petista, perguntar se, diante de uma possível mudança de estrutura da vida nacional, do papel do pensador no seu seio, estaríamos saindo, de vez, e do papel do acadêmico como ''sorriso da sociedade'', ou de seu demolidor ferrenho, na proto utopia de esquerdas ainda jejunas do poder?

  • Greve de voto

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/10/2005

    Se amanhã não for atingido por bala perdida nem sofrer um seqüestro-relâmpago, terei uma ditosa manhã, passeando pela Lagoa e vendo a plebe rude se esbofar nas zonas eleitorais para decidir se devemos abolir os termômetros para acabar com as febres -não, não é bem isso, o referendo é sobre outra coisa, se devemos aprovar ou condenar o comércio de armas.Já faz tempo que decidi não votar em nada e em ninguém. Não precisam de minha opinião, nem mesmo eu preciso dela. Deixei de votar até mesmo na Academia, as coisas miúdas de lá, prêmios, moções disso ou aquilo etc. Não me sinto em cima de um muro. Simplesmente não vejo nenhum muro a separar a miséria humana.

  • Todos fora, todos dentro

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 21/10/2005

    Frente à abertura do palco das novas eleições, a instância das CPIs, muito mais que um gatilho para apoio de forças eleitorais, transformou-se num impromptu de perplexidades gerais. Seu único enredo possível é o do exit rápido do imbróglio nacional, em vez de pódio para heróis, interditos e promoções, trazidos ao proscênio da campanha por sobre a pobreza dos resultados efetivos do que se poderá definir como a pior legislatura do último meio século.

  • Sobre a vda e o frango gripado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/10/2005

    Os enciclopedistas sistematizaram o conhecimento humano para que pudesse fugir das concepções religiosas em busca da razão, da ciência experimental. Seus antecedentes eram Pascal, Galileu, Bacon e outros menos ou mais votados.

  • Prazo de validade vencido

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 21/10/2005

    Nunca é tarde para se aprender alguma coisa, ainda que inútil, uma coisa que de nada nos serve. Outro dia, num congresso sobre problemas do tráfego, fiquei sabendo que os capacetes protetores da cabeça dos motoqueiros têm prazo de validade; de nada valem, nada protegem, se estão vencidos. Há que os renovar ou os substituir por outros.

  • Quem manda

    Diário do Comércio (São Paulo), em 21/10/2005

    Quem conhece a história da Revolução Francesa sabe que foi no Jeu de Paumes que surgiram as Assembléias Deliberativas, vigentes até hoje na organização política de todas as nações.

  • E elogio da mentira

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/10/2005

    Nunca havia pensado naquilo. Já trabalhava em jornal, sabia algumas coisas e julgava saber outras. Dico, grande amigo meu, mamando um "Ouro de Cuba" (entre outras coisas, ele me ensinou a fumar charutos), me fez uma pergunta que eu não soube responder: "Você já imaginou se no céu soasse um gongo gigantesco e, a partir daquele momento, pelo espaço de apenas dez minutos, só se pudesse dizer a verdade? Como seria o mundo, como seríamos nós mesmos após os dez minutos da verdade?".

  • Crime político em processo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 20/10/2005

    O professor Miguel Reale, meu velho amigo e bi-confrade na Academia Brasileira de Letras e na Academia Paulista de Letras, e companheiro no Instituto Brasileiro de Filosofia, do qual é o fundador, advertiu, em artigo publicado pela revista Digesto Econômico , aos seus inúmeros leitores, para um crime político em processo, como o crime praticado pelo Partido Comunista na extinta União Soviética, pelo nazismo na Alemanha e pelo fascismo na Itália.

  • Bienal:o reinado do livro

    Jornal do Brasil (RJ), em 19/10/2005

    Pedro II andava em viagem por Minas Gerais quando visitou Bernardo Guimarães, em Ouro Preto. O romancista de A escrava Isaura procurou a melhor forma de homenagear o imperador. Ordenou a duas de suas filhas, Constança e Isabel, que levassem ao visitante, numa bandeja de prata com incrustações douradas, o conjunto de suas obras.

  • Saturação da crise e ganho democrático

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 19/10/2005

    Na virada de página da crise, o Planalto, ao receber a bancada petista, sufragou a idéia de que os membros do PT objeto do denuncismo possam desde já renunciar ao mandato e manter, pois, a capacitação política para reeleger-se. As condições do impasse, pastelão cívico, superaram o momento de uma cobrança pública e exigem o ir adiante do governo no seu compromisso de fundo.