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Artigos

 
  • A luta pela vida

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/10/2005

    Não lembro quem disse, deve ter sido algum filósofo pré-socrático ou letra de algum rock dos anos 60 que não fez sucesso: há poucas razões para viver em paz e muitas para viver em guerra. Nada a ver com a luta pela vida em si. O poeta maranhense afirmou que viver é lutar: a "struggle for life" que acompanha a humanidade desde a sua expulsão do Paraíso terrestre.Compreende-se que devemos ganhar o pão com o suor do nosso rosto, cumprindo a maldição que merecemos pela audácia de provar os frutos da árvore do Bem e do Mal. O problema é que, além da árvore em si, plantada à nossa frente para nos desafiar ("coma deste fruto e serás igual a Ele"), criamos outros desafios que nem chegam a ser árvores, mas capim rasteiro e estéril.

  • Do velho PT ao neolulismo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/10/2005

    As eleições do PT definem o futuro do partido. Parou o faccionalismo. Saíram as estrelas e o próprio Raul Pont reitera que continuará na legenda. É toda uma volta ao bom senso básico de fazer a história e compreender, especialmente por um partido da mudança, o que representam os deveres da vigência. Mencheviques jamais constroem um futuro. E chega a espantar, afinal, o número reduzido de dissidentes que, de fato, se transformaram em refratários em vez de perseguir novos rumos, dentro da continuidade, no dia-a-dia, renunciando às purgas da primeira vociferação.

  • As crises políticas

    Diário do Comércio (São Paulo), em 19/10/2005

    As crises políticas que têm marcado nossa história são brasa dormida para queimar, como marcam a história na maioria dos países. É próprio do homem conviver com crises e delas tirar lições de conduta.

  • Em busca da verdade

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 18/10/2005

    Entre os filósofos dos últimos dois séculos que pensaram em marcar para sempre o nosso pensamento, nenhum está, como Nietzsche, tão perto de alcançar essa meta. Os livros que hoje se publicam sobre ele abarcam todo o vasto campo em que a filosofia se mostra intimamente ligada ao homem como dono do seu destino, ou não.

  • Vivas á vida

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/10/2005

    Acabo de sofrer duro golpe do destino. Sempre acreditei num mundo cada vez pior e num homem igualmente pior. Tinha motivos históricos e pessoais para tanto e tamanho pessimismo, mas eis que dou a mão à palmatória e o pescoço à guilhotina: estamos salvos.

  • Formação cultural

    Diário do Comércio (São Paulo), em 18/10/2005

    Paris, 3 de Outubro. O que impressiona nos quadros políticos da França é a formação cultural da quase totalidade dos membros da Assembléia Nacional e do Senado da República. É comum na relação de nomes dos representantes com assento nas duas câmaras ver os títulos de que são possuidores. Como Giscard D’ Estaing, que tem cinco títulos, Chirac, com três e Mitterrand, que também tinha três. Portanto, um país onde as câmaras de representação popular são constituídas de pessoas altamente dotadas de ciências e letras, que as habilitam conhecer em profundidade os problemas nacionais e internacionais relacionados à França.

  • Boleros e tangos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/10/2005

    Semana passada, no canal espanhol da NET, assisti a nutrido documentário sobre a atual situação do Brasil, com numerosos depoimentos de nossos políticos, intelectuais, artistas e assemelhados. Excelente trabalho profissional da equipe que a TV espanhola nos mandou e, em linhas gerais, os depoentes deram conta do recado, uns mais, outros menos, com análises sinceras e, dentro do possível, patrioticamente possíveis.

  • Personagem midiática

    Diário do Comércio (São Paulo), em 17/10/2005

    Os franceses já estão se preparando para a sucessão presidencial de Jacques Chirac. Dois candidatos disputam a corrida eleitoral, o próprio Chirac, que acaba de sofrer um infarto, e Nicolás Sarkozy. Chirac é conhecido, é um velho palmilhador de caminhos políticos, uns ásperos e outros suaves. Nicolás Sarkozy é descendente de húngaros, pelo que li em sua breve biografia. Tornou-se, de repente, o querido dos meios de comunicação e em todas as sondagens de opinião ele vem em primeiro lugar. Está agora num ministério que tem sob sua responsabilidade a polícia e onde pode sobressair ainda mais. Não será exagero de minha parte prever o seu sucesso eleitoral.

  • Somos todos uns trouxas

    O Globo (Rio de Janeiro), em 16/10/2005

    Poucas vezes testemunhei tamanha confusão em relação a um problema de interesse geral como nessa história do Sim ou do Não para um artigo do chamado Estatuto do Desarmamento. Concluí, em visão talvez simplória, que não iam desarmar os bandidos, que iam fomentar toda uma economia delinqüente em torno do tráfico ilegal de armas e munições e que tais circunstâncias me justificariam dizer “não” à diabólica pergunta a que vamos ter de responder. Assisti a discussões de pessoas esclarecidas, que não conseguiam avaliar o significado de um “sim” ou “não” na hora do voto. O que o “sim” significava para uns queria dizer o contrário para outros. Vi gente quase sair no tapa por causa disso e eu mesmo me peguei cheio de incertezas bem na hora em que começava a achar que tinha certeza.

  • Os monges de Alexandria

    O Globo (Rio de Janeiro), em 16/10/2005

    MAIS ALGUMAS HISTÓRIAS DOS padres que viviam nos arredores do monastério de Sceta, em Alexandria, no Egito, logo no início da era cristã. Estas histórias foram coletadas no “Verba seniorum” (A palavra dos mais velhos) e sobreviveram ao tempo e às perseguições, mostrando que os valores humanos sempre terminam prevalecendo.

  • A orfandade do ensino médio

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 16/10/2005

    Seria arriscar-se a uma injustiça nomear os padrinhos dos nossos diversos graus de ensino. Mas uma coisa é certa: sobrava razão a Anísio Teixeira quando afirmava que o "nosso ensino médio é inteiramente órfão". De lá para cá, ou seja, da década de 50 até os nossos dias não há como escolher este ou aquele educador que se tenha debruçado com ênfase sobre o nível intermediário. Ao contrário, seria mais fácil dar o título de "inimigo" a uma ou outra autoridade que só fez complicar o andamento dessa etapa de ensino. Enquanto tivemos a divisão entre clássico e científico, até que havia uma certa unidade no ensino médio. Os alunos, de acordo com a sua escolha, ligada à vocação, preferiam os cursos que conduziam às ciências humanas (Direito, Pedagogia, Letras) ou ao desenvolvimento científico e tecnológico (Engenharia, Medicina, Ciências Biológicas). Com o nascimento em parto artificial do 2º grau, a pretexto de se valorizar a educação profissionalizante (Lei nO 5.692/71), implantou-se uma "bagunça homérica" no sistema escolar, sob a batuta de um MEC totalmente atordoado. Alguns têm dificuldade de explicar a diferença entre os técnicos e os tecnólogos. Outros sabem que estes últimos são formados em nível superior, em cursos de curta duração (hoje, uma grande atração para os jovens sem paciência de freqüentar cursos mais longos). Mas, robusteceu-se a dúvida: os técnicos são formados em três anos, junto com o ensino médio, ou dependem de um ano adicional? O que verdadeiramente se passa com os egressos dos Cefets? Eles viraram um misto de ensino médio e superior? A sociedade brasileira ainda tem o ranço da Constituinte de 37 (Estado Novo). Getúlio Vargas assinou um artigo afirmando que "o ensino técnico-profissional seria destinado às classes menos favorecidas". Nada melhor para justificar a discriminação, de que não nos livramos até hoje. Cresce a nossa industrialização e o setor de serviços tem o reforço da computação quase desenfreada. Como criar os recursos humanos adequados para enfrentar esses novos tempos? É claro que ninguém é contra o progresso, mas há uma imensa falha quando a escola deve responder às necessidades de oferecer pessoas de competência no nível intermediário. No mundo desenvolvido, esse tipo de problema não existe. Há uma boa oferta de empregos no nível pré-universitário, como vimos na Coréia do Sul e no Estado de Israel. De todos os que freqüentam o ensino médio apenas 1/3 sobe ao nível superior, ficando os demais 2/3 amparados por boas e bem pagas oportunidades. Aqui é que se inventou a teoria de que sem o diploma de nível superior o indivíduo não é ninguém. Prefere-se o formado, mesmo que sem emprego. É preciso promover uma profunda reforma no ensino médio, colocar ordem na sua seriação e na formação dos seus especialistas. Estes conectados ao processo de desenvolvimento econômico e social do País, para que haja maior proveito desse grande investimento que, bem ou mal, está sendo pago pela sociedade brasileira.

  • Direita e esquerda

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/10/2005

    A muito custo, convenci um amigo a assistir a um filme de Jacques Tati, "Meu tio", que volta e meia passa em cineclubes espalhados por aí (tenho um vídeo dele, mas em mau estado). O sujeito foi, chegou a dar algumas risadas, no final achou o filme chato. E disse por que: "Não tem bandido".

  • O pior Congresso dos últimos tempos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 15/10/2005

    O país acompanhou, voto a voto, até, praticamente, os últimos segundos, a opção entre Aldo e Nonô para a presidência da Câmara. Viveu-se um miniplebiscito, a conservar ainda o governo Lula a plena iniciativa no tempo minguante, para manter a confiança do outro Brasil, que o elegeu em 2002. Ganhou o Planalto as maiorias possíveis, a custo, sem retoques, nem maquiagens, empalmando a contagem que lhe permitisse vencer a oposição e a onda temporã do velhíssimo mar de lama, reacordado pelo fantasma lacerdista. O governo foi ao rolo compressor, contou com os votos do baixo clero e reafirmou as políticas da coalizão e das reformas - nariz apertado ou não - do primeiro biênio petista.

  • Já no tempo dos barões

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/10/2005

    Miguel Gustavo foi o mestre dos mestres em matéria de jingles comerciais. Para um tipo de café em pó (não sei se ainda existe), ele fez uma obra-prima: "Já no tempo dos barões, era servido nos salões". Era marca citada em crônicas e romances do século 19, atravessou todo o Império, passou para a República e, nos anos 60 do século 20, mereceu o jingle antológico.São numerosas as práticas (consideradas novas, provocadas pelo nosso tempo e pelos nossos costumes) que já eram servidas nos salões no tempo dos barões. E bota barões nisso. Lembrei, em crônica recente, o suborno pago por Jacó a Esaú. Não eram barões nem tinham intimidade com parlamentares, banqueiros e doleiros, que não deviam existir naquela época. (É uma opinião pessoal, sujeita às chuvas e trovoadas dos desmentidos).

  • A implacável elegância de Sérgio da Costa

    Jornal do Comércio (Rio de Janeiro), em 14/10/2005

    O retrato de Sérgio Corrêa da Costa que fica, logo, na memória é o de capa chibante, de espião em Buenos Aires, na elegância que só tem o diplomata, portando sua inquirição e seu mistério. Deixou o passaporte, e a identidade, para perscrutar do começo da intentona peronista, tão antes da nossa entrada na guerra de 45, e dos cálculos geopolíticos que amarrariam, à época, a Argentina à opção hitlerista. Da aventura nasceu, para publicação meio século após, a Crônica de uma Guerra Secreta.