
Endireitando as coisas
Parece um ato falho da esquerda nacional: volta e meia clama pela necessidade de "endireitar" as coisas, ou seja, endireitar a vida nacional, o Congresso, o sistema como um todo, os indivíduos em particular.
Parece um ato falho da esquerda nacional: volta e meia clama pela necessidade de "endireitar" as coisas, ou seja, endireitar a vida nacional, o Congresso, o sistema como um todo, os indivíduos em particular.
Talvez não exista critério mais claro da chegada da crise aos seus limites que de uma intervenção inovadora do Supremo no usar, ao lado da guarda da Constituição, o seu poder de normalização do sistema. Nessas interpretações extremas do que seja manter a Carta Magna do País, a Corte se investe da latitude que lhe permita este valor profundo pelo nosso Estado de Direito. Ela não está vinculada ao espartilho das súmulas, nem deixa de levar a interpretação da lei que recomenda o melhor direito romano, no respeito ao bem comum. Há um intrínseco poder moderador da mais alta Corte, que se exerce em favor da estabilidade geral da nação, quer contendo o fio do legalismo extremo, quer não fugindo à norma inovadora, rebelde ao precedente.
Lourival Batista, um estreito amigo e experimentado político de Sergipe, sempre me dava um conselho, que era um pouco inútil, uma vez que eu já praticava esse comportamento: "Não tenha raiva, dá erisipela". Ele, também, no exercício de vários mandatos de senador, fazia uma campanha indormida contra o tabagismo e incluía entre os males associados ao tabagismo ser irascível. Quando viajava, seu hobby no avião, em tempos em que ainda se fumava no avião, era dirigir-se às senhoras que estavam fumando, pedir licença e dizer: "Minha senhora, não fume, a senhora é tão bonita; e fumar provoca rugas e raiva, e ter raiva dá erisipela".
Publicado em 1944, quando Herberto Sales tinha 27 anos, "Cascalho" é o imenso romance que logo se colocou ao lado das grandes obras do nosso ciclo nordestino, iniciado com José Américo de Almeida e prolongado por Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e Rachel de Queiroz.
Há invenções das quais ninguém ouviu falar, nem mesmo do nome do inventor, e que, no entanto, mudaram a face da terra. Cita-se sempre a roda, que os gaiatos atribuem a um português, mas não têm provas. Outras invenções entraram nos hábitos cotidianos e tornaram mais cômoda a vida e ninguém ouve falar do seu autor.
À margem do referendo sobre o comércio das armas, confesso minha preocupação com a gente boa deste país. O povo eleito, bacana, politicamente correto, transparente, saudavelmente pra frente, a turma que nos guia e ilumina com seus conselhos e seu comportamento ético, quebrou a cara com a derrota do "sim", mas o caso não é para o desespero e o ranger de dentes, que, aliás, não ficam bem em gente bem e tão boa.
Fomos, eu e o professor Miguel Reale Júnior, fazer conferências políticas, cada um para um partido, em Piracicaba, na Universidade Metodista.
Ele é o olho do repórter e do jornalista nesta nossa ABL: invariavelmente, aproveita o espaço do expediente das sessões plenárias para dar-nos notícia de um livro publicado, que encaminha à nossa Biblioteca; para comunicar-nos a conferência pronunciada por um confrade, com pedido de inserção nos anais; ou para informar-nos do prêmio concedido a um colega em júri nacional ou estrangeiro.
Vamos e venhamos, foi uma temporada divertida, essa que passou, das opiniões sobre o referendo do último domingo. Besteiras de um lado e de outro foram proclamadas, mas nenhuma delas se equiparou a das feministas que aproveitaram a onda para tirar as casquinhas de sempre.
No princípio era o mercado. No princípio e também por todo o sempre que veio depois. Base de um avanço e de um encontro, chão do homem já civilizado, nada supera o mercado como elemento aglutinador por excelência das comunidades que, mesmo heteromorfas quando unidas por interesses e idiomas comuns, precisam de outros pontos de união e reunião, e de permutas, de entendimento eventual e de trocas de produtos. No princípio era o verbo, e este se exercitava comunalmente nos lugares de compra e venda, em que a necessidade absoluta de comunicação aguçava o raciocínio, despertava idéias e provocava planos itinerários.
Desta vez, a culpa não é nossa, é do próprio Criador, que, não tendo nada o que fazer, nos criou à sua imagem e semelhança e, de quebra, sem necessidade aparente, criou uma tal árvore do bem e do mal para dividir os bons dos maus, os certos dos errados. Resumindo: eu (que pertenço ao mal) e os outros, que formam o bem, no qual não acredito por ignorância ou cálculo.
Tem justificativa a vitória do Não no referendo de domingo.
Dupla assalta joalheria e escolhe marcas de relógio para levar. Um dos ladrões abordou uma vendedora de uma joalheria que inspecionava a vitrine; o assaltante levantou sua blusa, mostrando uma arma à vendedora. Dentro da loja, outras vendedoras foram rendidas e obrigadas a recolher relógios das marcas Breitling, Omega e Mont Blanc da vitrine.Folha Online, 18 de outubro de 2005
Pegaram-me desprevenido: li nos jornais, em letras enormes, que o Brasil finalmente chegara ao seu futuro, via referendo de ontem. Textualmente: "Brasil decide o seu futuro". Qualquer que seja o resultado da consulta popular, estamos afinal no futuro que sempre nos prometeram. Pensava que era mais difícil, ou, ao menos, mais problemático.
O Japão está deixando sepultada no passado a cachação aplicada à sua economia por uma crise inesperada e indesejada. Consideram os comentaristas das suas conjunturas que o pesadelo de alguns anos se dissolveu como fumaça, deixando, embora, lições a serem observadas e eventualmente seguidas.