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Artigos

 
  • Falemos de feios famosos

    Zero Hora (Porto Alegre), em 02/07/2006

    Em época de Copa do Mundo, só se fala em futebol, visto inclusive pelos aspectos mais inusitados. Entrem, por exemplo, no site www.uglyfootballers.com e vocês encontrarão uma seleção dos jogadores mais feios do mundo. Ali estão, por exemplo, Carlos Valderrama, da Colômbia, e Diego Maradona, da Argentina. O Brasil está representado por dois craques: Sócrates (que nisto equivale a seu homônimo filósofo; ver mais adiante) e Ronaldo Nazário. Agora, a pergunta: mesmo que Maradona e Ronaldo sejam feios (e muitas mulheres discordarão disso) será que o detalhe tem importância?

  • O cacoete do gerúndio

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 01/07/2006

    Caminhando, apesar do gerúndio, foi uma canção de muito sucesso. A canção marcou época, na voz do seu autor, Geraldo Vandré. Até hoje é muito lembrada. Essa história de empregar o gerúndio, na língua portuguesa, nem sempre é bem recebida. Ao contrário, há certa ojeriza por essa forma verbal. A razão não é bem conhecida.Há épocas em que o gerúndio fica quieto no seu canto. Tipo dor lombar, que só aparece de vez em quando. Estamos vivendo um período de recrudescimento do gerundismo e, naturalmente, as reações são as de sempre. Um grande mal estar tomou conta da praça, como se a praga vernacular devesse ser eliminada o mais rápido possível.A mania vem, principalmente, das empresas operadoras de telemarketing, hoje com 630 mil profissionais. Não se trata de certo ou errado, como a nossa imprensa quis qualificar, mas de adequado ou não adequado. Reparem: "Vamos estar transferindo sua ligação." - diz a representante da empresa de call center. Não seria muito mais simples e direto afirmar "Vamos transferir a sua ligação?" Outras são mais enroladas ainda: "Vamos estar podendo confirmar seu pedido." Ou "A empresa vai estar enviando sua compra." Por que esse circunlóquio, essa volta desnecessária?Já existe até uma cartilha em preparo para amenizar esse vício. Aliás, os seus organizadores vão aproveitar o embalo e tentar colaborar para evitar outros erros corriqueiros, como acontece em regências, concordâncias, acentuação e pontuação. Quantos de nós estamos nos habituando a ouvir a palavra "rúbrica" em vez de rubrica? E o popularíssimo "gratuíto" que tanto incomoda os nossos ouvidos?A cartilha, em três versões, será distribuída por escolas públicas estaduais e municipais. É mais ou menos como uma campanha contra a dengue, que exige cuidados especiais. Com direito até a camionete que espalha pela região afetada o pó salvador, o que mata o mosquito. Em nosso caso, um antídoto contra os cacoetes de linguagem, hoje lamentavelmente incorporados à forma como se ensina a língua portuguesa em todo o país. Há graves lacunas, algumas específicas de determinadas regiões, mas no conjunto a exigir uma ação enérgica de correção por parte das autoridades que ainda amam a língua "inculta e bela" no dizer do poeta, que herdamos dos nossos colonizadores.Um bom conselho que se pode dar aos organizadores dessas campanhas é a dessacralização do livro. Torná-lo mais popular, bem mais, para que seja alvo do interesse do público jovem. Se não se cria um hábito, que pelo menos nasça o gosto pela leitura, que o livro seja um bom companheiro dos jovens, em todos os momentos. Ocorre-nos a lembrança de repetir o que se faz no México, nos trens do seu metrô. Coloca-se à disposição dos passageiros livros na entrada do vagão, livros de bolso, mas de bons autores, para serem manuseados durante as viagens. Quando salta, o passageiro se obriga, disciplinadamente, a devolver o volume, recolocando-o numa prateleira. Assim, todos têm acesso democrático ao livro, podendo complementar a sua leitura, se for o caso, em duas ou três viagens. Por que não se adota esse procedimento em nosso sistema metroviário?Recordemos Miguel de Unamuno: "Ler, ler, ler, viver a vida que outros têm sonhado/ ler, ler, ler, a alma se esquece das coisas que passaram." A leitura é o espaço da originalidade, não percamos isso de vista.

  • História de cachorros

    Extra (Rio de Janeiro), em 01/07/2006

    Marizete Lorenzo conta a história de um caipira que ganhou três cachorros e resolveu levá-los para a fazenda onde vivia. Colocou coleiras e amarrou-os atrás do carro de bois que os levaria até lá. O primeiro cão ia à força, mordia a corda, caía, era arrastado. O segundo resignou-se e seguiu o carro de bois. O terceiro, porém, pulou dentro da carroça, dormiu e chegou descansado ao seu destino. “Quando resistir é inútil, o melhor é adaptar-se. O mais sábio é aquele que consegue tirar proveito das circunstâncias inevitáveis e fazer com que elas funcionem a seu favor”.

  • Cararaô são dois temas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/06/2006

    Hoje é dia de muitos assuntos. Um só não cabe, seria longo demais. Como dizia Vieira, "não tenho tempo de ser breve". Começo pelo Roberto Rodrigues e o quanto fiquei triste com a sua saída do ministério. Disse que seus motivos não eram nem políticos nem pessoais. Jânio Quadros definiu esse quadro de segredo como "forças ocultas". Mas vai fazer falta.Leio a celeuma criada com a usina de Belo Monte, no Pará, que deverá ser a maior hidrelétrica brasileira (Itaipu é de dois países, Brasil e Paraguai), com 11.000 megawatts. Ninguém quer que seja construída, tem ONGs e vespeiro de professores. Pensei que fosse pelo nome. Era Cararaô e passou a ser Belo Monte, o verdadeiro nome de Canudos. Esta guerra, sim, jamais devia ter ocorrido. Trocaram o nome ninguém sabe por quê.

  • Renúncia de Ministro

    Diario do Comercio (São Paulo), em 30/06/2006

    A saída de um ministro da Agricultura, como no atual caso de Roberto Rodrigues, não é a saída convencional de outro ministro. Vamos à situação do Ministério da Agricultura para justificar a queda de Roberto Rodrigues. Desde Fernando Costa, que saiu carregado pela morte, o ministério não tinha um titular com tanta atividade, que transformou a Pasta num bloco de utilidade permanente, atuando junto com o ministro Luiz Fernando Furlan na expansão das exportações. Era sabido que o Ministério da Agricultura não tinha importância alguma, indo para lá, geralmente, candidatos ao ócio e não ao negócio. Foi o convite à Roberto Rodrigues que transformou o ministério de lago plácido em ariete de combate, ao intensificar as exportações de medíocres quantias em dólares de formidável magnitude. Foi uma virada de vida extraordinária para os ministros Luiz Fernando Furlan e Roberto Rodrigues.

  • Nada de desculpas

    Extra (Rio de Janeiro), em 30/06/2006

    Nós vivemos cercados o tempo todo por uma atmosfera de culpa. Nós sempre nos sentimos culpados por tudo o que há de autêntico em nossa existência: por nosso salário, por nossas opiniões, por nossas experiências, por nossos desejos ocultos, por nossa maneira de falar. Nós nos sentimos culpados até mesmo por nossos pais e nossos irmãos. E qual é o resultado prático dessa culpa toda que deixamos tomar conta de nossa vida? Paralisia. Ficamos com vergonha de fazer coisas que sejam diferentes do que as que os outros estão fazendo. Também não queremos frustrar as expectativas que os outros criam em nós. Não expomos nossas idéias e justificamos essa atitude dizendo: “Jesus sofreu, e o sofrimento é necessário”. Esse tio de desculpa não nos redime de nossa paralisia. Não se pode ocultar a covardia de tomar atitudes que realmente precisamos tomar com desculpas, senão o mundo inteiro não segue adiante.

  • Blue chips

    Diario do Comercio (São Paulo), em 29/06/2006

    Dizia o meu saudoso chefe, Assis Chateaubriand, que o Rio de Janeiro tinha três pessoas poderosas: o ministro da Guerra, D. Hélder Câmara e o presidente do Banco do Brasil. O banco foi usado pela política dominante várias vezes, chegando, mesmo a dar origem ao suicídio de um presidente, Getúlio Vargas. Temos agora outro Banco do Brasil, o que oferece pela Bolsa de Valores ações ao grande, médio e pequeno investidor. É só falar o nome do banco para suscitar o apoio risonho dos investidores que desejam tornar-se ativos investidores. Essa é a grande notícia que o Banco do Brasil dá ao País, com a certeza absoluta do sucesso do lançamento.

  • O poder das palavras

    Extra (Rio de Janeiro), em 29/06/2006

    Jesus dizia: “Que o seu sim seja sim, e que o não seja não”. Se você assumiu uma responsabilidade, vá até o fim. Mantenha sua palavra, porque ela é preciosa. Cada vez que sua palavra é honrada por seus gestos, ela se torna mais forte. Quando você dignifica sua relação com os outros, dignifica também a relação com você. Os que prometem e não cumprem vivem criando problemas para si mesmos. Perdem o respeito próprio, têm vergonha de seus atos. As pessoas gastam muito mais energia desonrando a palavra do que os honestos gastam para manter compromissos.

  • Lula com ou sem a Copa

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/06/2006

    Se, por catástrofe, perdermos a Copa, nem por isso uma purga nacional, ou mesmo um ato de masoquismo, fará o país penalizar Lula, como espera ainda a oposição. Um voto em Alckimin não é corretivo histórico simbólico para uma desgraça na Alemanha. Não se confunda anticlímax, com autopunição nacional, ou execução sacrificial pela decepção com o hexa, cada vez mais impossível.

  • Caminhos abertos pela crítica textual

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/06/2006

    Quando alguém se dispõe a ler um texto – literário ou não – está longe de imaginar o quanto de armadilhas ele encerra no processo que vai da fase de elaboração do autor, passando pelo editor, pelo preparador de texto, pelo revisor e compositor até chegar às mãos de quem vai lê-lo, na convicta esperança de que o que tem na mão reflete a vontade real e final do autor.

  • A esposa furiosa

    Extra (Rio de Janeiro), em 28/06/2006

    A esposa do rabino Iaakov (o Iehud) era uma mulher difícil, que vivia procurando um motivo para discutir. Iaakov nunca respondia. Em certa ocasião, num jantar com amigos, o rabino terminou discutindo ferozmente com a mulher, surpreendendo a todos. “O que aconteceu?”, perguntou um amigo de Iaakov, emendando: “Por que abandonou seu costume de jamais responder?”. Ele respondeu: “Porque percebi que o que mais a perturbava era o fato de eu ficar em silêncio. Agindo assim, eu permanecia distante de suas emoções. Minha reação foi um ato de amor”.

  • O governo na eleição

    Diário do Comércio (São Paulo), em 27/06/2006

    Tenho escrito que qualquer candidato com o poder de usar a máquina administrativa para o seu sucesso eleitoral não hesitará em lançar mão dela. Atualmente, por acaso histórico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é quem pode usar esse poder. Repito que ele o faz, como o faria qualquer outro candidato em seu lugar; o candidato usa apenas da faculdade de que lhe foi atribuída para permanecer mais quatro anos na direção suprema do Estado. É o que não viram, no momento oportuno, os pré-candidatos. Assim sendo, o candidato Lula terá no Bolsa-Família e no aumento dos servidores a garantia da sua reeleição, a menos que haja uma improvável virada do eleitorado.

  • História dos ossos

    Extra (Rio de Janeiro), em 27/06/2006

    Havia um rei na Espanha que era conhecido por sua crueldade com os mais fracos. Certa vez, andava com sua comitiva por um campo em Aragon, onde anos antes havia perdido seu pai numa batalha. Ali viu um homem santo remexendo uma enorme pilha de ossos. “O que fazes aí?”, perguntou o rei. “Honrada seja Vossa Majestade”, disse o homem. “Quando soube que o rei de Espanha vinha por aqui, resolvi recolher os ossos de vosso falecido pai para entregar-vos. Porém, por mais que procure, não consigo achá-los: são iguais aos ossos dos camponeses e dos pobres”.

  • Ovo frito

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/06/2006

    A maioria não gostou do uniforme do Brasil contra o Japão -a camisa amarela e o calção branco. Uma combinação estranha, admito. A menos que o Vaticano (cujas cores oficiais são as mesmas) decida entrar na Fifa, o visual brasileiro do último jogo me agradou bastante. Chegou a dar movimentação maior à seleção, que, na realidade, muito se movimentou em campo.

  • O padre ganhou mais uma

    O Globo (Rio de Janeiro), em 26/06/2006

    A Holanda é uma espécie de queridinha aqui na Europa, por ser considerada uma injustiçada, desde os tempos do carrossel, da laranja mecânica ou que outro nome dê, ao futebol inegavelmente de boa qualidade, que a tem levado até bem perto de títulos importantes como o da Copa. Há até quem diga que havia esquemas armados para favorecê-la desta vez, embora tudo seja na base da fofoca.