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Artigos

 
  • A nudez do rei e a nossa

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 18/04/2006

    Lendo os jornais e revistas do último fim-de-semana, pela primeira vez na vida fiquei orgulhoso de ser brasileiro, de pertencer a uma nação ética, onde, tirante os governantes, todos são vestais e unânimes em lamentar ou condenar os desmandos daqueles que mandam ou pensam que mandam.

  • A pressa de ser Brasil

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 17/04/2006

    No Brasil, os anos começam uma porção de vezes. Há o início oficial, a 1º de janeiro. Vem depois o início operacional, que acontece na semana seguinte à do Carnaval. Finalmente, entramos no início real, depois da Páscoa, com quatro meses já passados e com gente fazendo previsões para o ano seguinte. Assim sendo, vamos entrar finalmente em 2006 sem Orçamento aprovado, com uma MP do tamanho de um Orçamento federal, a principal companhia aérea brasileira no maior vinagre empresarial da nossa vida econômica, gente indiciada pelo Ministério Público mas com processos previamente adiados para 2007.

  • Meditação ou chocolate

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 16/04/2006

    Acontecem mais ou menos ao mesmo tempo: a Páscoa judaica (Pessach) e a Páscoa cristã, fora do calendário gregoriano, uma vez que são festas móveis. A Páscoa cristã é uma data (e uma festa) essencialmente e exclusivamente religiosa, eixo do mistério da Redenção: um Deus que se entregou em holocausto para salvar a humanidade de sua culpa original. Já a Páscoa judaica é uma festa nacional com fundo religioso. No Seder (a ceia tradicional), há sempre um menino que pergunta a alguém mais idoso: "Por que esta noite é diferente das outras noites?". É contada então a história do Pessach, quando o anjo do Senhor passou por cima das casas e Moisés retirou o povo judeu do cativeiro do Egito. Uma festa de libertação nacional, a maior que eu conheço, maior do que qualquer outra revolução da História. Um povo inteiro, escravo, escolhendo a liberdade. Teve um preço: os 40 anos que formaram a geração do deserto em busca de chão próprio e livre. Ao se transformar na Páscoa cristã, a mensagem de libertação é a mesma, mas não em nível nacional, mas ontológico, teológico, espiritual: a libertação do pecado.

  • O judas do Cantizano

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 15/04/2006

    Apesar da tentativa de reabilitação de Judas, com base num texto escrito 300 anos após o episódio da traição, e em contradição com mais de 80 Evangelhos paralelos e conflitantes, inclusive os quatro que foram adotados pela história ocidental (eram relatos orais que somente mais tarde receberam versão escrita), o dia de hoje, Sábado de Aleluia, terá alguns judas pendurados nos postes de várias cidades.

  • Armação de Bin Laden

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 14/04/2006

    Da sofrida Semana Santa dos meus tempos de infância, a figura que nítida permanece na minha memória, como uma fotografia que não envelhece, é de Verônica, encarnada pela professora Maria Elvira, cujas lágrimas e lamentos cantados nos comoviam até juntarmos ao seu sofrimento o nosso, chorando também.

  • Humanismo integral

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 13/04/2006

    ''Grande homem de nossos tempos, um mestre na arte de pensar, viver e de orar'', assim, sucinta e expressivamente, definiu o Papa Paulo VI a personalidade de Jacques Maritain - filósofo, teólogo e homem público - cujo centenário de adesão ao catolicismo, por inspiração do escritor Léon Bloy, é celebrado neste ano.

  • Questão semântica

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 12/04/2006

    Por mais que pareça incrível, o grande escândalo de nossos tempos, um dos maiores de toda a nossa história, acabou numa questão semântica. O relatório da CPI dos Correios concluiu seus trabalhos afirmando que houve o mensalão, um tipo de corrupção que, embora sem ser inédito, tomou proporções obscenas na era da moralidade pregada pelo PT - que está no governo e que foi o agente e principal beneficiário da tramóia.

  • Abelardo e Heloísa

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 12/04/2006

    Naquela manhã de outono concebo mortos, fantasmas. Dou-lhes formas, vejo-os em cada canto. Eles insistem em me perseguir enquanto desço a Rue de La Montagne Sainte-Geneviève. Esses espíritos, ansiosos por identificar-se, atropelam contudo as palavras. Descubro que são discípulos de Abelardo, na expectativa de que o monge retorne ao bairro latino. Como por milagre, Abelardo surge, incerto quanto à modernidade daquela mulher brasileira, à frente de sua tribo. Ele me fala como se cruzasse o pátio da Sorbonne, e fosse eu sua alma. Ensina-me, assim, a esgrimir princípios metafísicos, sempre úteis em uma época incrédula. Indica-me que ruelas visitar, se de verdade quero reconstituir os restos arquitetônicos da Paris que ele conhecera, antes de sua morte.

  • A força de um poeta

    Tribuna da Impressa (Rio de Janeiro), em 11/04/2006

    Encontra-se Ascendino Leite numa posição de bom isolamento poético na atual literatura brasileira. Na realidade, promove ele, em seus versos, todo um curso de poesia. Ao juntar palavras num determinado ritmo, ergue um mundo em que se condensa o muito que a vida nos oferece como impulso, como percepção, como entendimento, acima de tudo como paixão. E é principalmente pela paixão que se distingue sua poesia, paixão que atravessa toda a sua obra e marca sua presença em nossa literatura.

  • Antes que seja tarde

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 11/04/2006

    Estão esperando o quê? Um desastre com um avião da Varig, com uma centena de mortos? É do conhecimento de todos, do governo principalmente, e do público em geral, as dificuldades que a companhia atravessa, não apenas em seu escalão estrutural mas operacional, com aviões encostados e manutenção problemática.

  • Vivendo nas alturas

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 10/04/2006

    Passar dias em cima de uma árvore. Comer, dormir, realizar todas as atividades, e necessidades, da vida cotidiana, sem colocar os pés no chão.

  • Traído ou traidor?

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 10/04/2006

    Nas águas da mais recente e desvairada ficção pretensamente histórica, a moda é contar a vida de Cristo de forma diferente, atribuindo-lhe um casamento que, a ter sido real, em nada altera sua mensagem e presença na civilização ocidental. Agora, decifrado um manuscrito que teria sido um evangelho segundo Judas, retorna como novidade a versão de que Judas não traiu seu amigo, pelo contrário, teria sido seu parceiro na história (ou na lenda) da Redenção da culpa de Adão.

  • Se tivesse estudado...

    Jornal O Globo (Rio de Janeiro), em 09/04/2006

    Para quem precisa de assunto toda semana, é de esperar-se que excesso de assuntos seja uma bênção. Mas cada dia mais chego à conclusão de que não é, é pior do que não ter assunto. Quando não se tem assunto, sempre se pode fantasiar, por exemplo, sobre Herculano, o gavião que se exibia muito aqui pelo terraço e nunca mais apareceu. Quando se tem assunto demais, a indecisão acomete, todos acabam se intrometendo no texto e fica difícil pôr ordem na miscelânea que insiste em sair.

  • Males e malefícios da democracia

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 07/04/2006

    Alguns leitores, e até mesmo um senhor que me abordou na rua, estranham que eu venha declarando, com insistência, que não acredito e até me recuso a participar da chamada "democracia representativa", tida como o pior dos regimes, com a exceção dos outros. Na velha mania de ignorar o óbvio (a afirmação de uma coisa não implica a negação de outra ou vice-versa), perguntam se eu me converti ao totalitarismo, aos regimes fortes em que o povo não é ouvido nem cheirado.

  • Entre escolhas e brigas

    Folha de S. Paulo (São Paulo), em 07/04/2006

    Uma das tarefas mais difíceis de um presidente é a luta diária para manter a coesão do governo. É de hoje e é de sempre. Briga de ministros é diária, com direito a notas para colunistas, onde a guerra se torna oculta e mais clara.