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Artigos

  • Rumo à Sorbonne tropical

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 17/06/2005

    O ano França-Brasil está permitindo, em encontro inédito, um novo horizonte de cooperação, em nível universitário, entre os dois países. A Sorbonne nouvelle vai ouvir o depoimento de 12 reitores brasileiros, a partir do desenho geral da nossa nova política pública de ensino superior, por iniciativa do Secretário Geral do Sesu, Nelson Maculan. Recolheremos a contrapartida francesa, no empenho desenvolvido pelo presidente da Paris III, Bernard Bosredon, voz, hoje, de importância tão estratégica na completa reavaliação e prospectiva desta colaboração internacional.

  • Crise e subcultura política

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 15/06/2005

    O vai-e-vem da instabilidade nesses últimos dias finalmente parou em anticlímax pela concordância do governo com a CPI dos Correios. A expectativa de iminência de abalo do regime é uma compensação imediata, ao não deparamos os sinais claros de um governo em movimento, e de nítida realização de suas metas. Não alcançamos a verdadeira maturidade política de um cotidiano, sem fogos de artifício nem traumas, tal como resistimos ainda à severidade das rotinas de normalização continuada de um Executivo à obra. Da euforia, que não vem, passa-se ao escândalo logo de todos os pânicos e urdiduras. O velho establishment político brasileiro continua preso ao catastrofismo de rigor, próprio às tribos do situacionismo de todo o sempre, por uma vez desatarraxados do poder no Planalto.

  • A reforma universitária pede passagem

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 10/06/2005

    O segundo texto da Proposta Universitária, antes de qualquer discussão do seu impacto, marca uma definitiva inovação em nossa cultura política. Não temos precedente de uma busca tão profunda das opiniões, discordâncias, teses de fundo, a criar um contraditório deste porte no debate brasileiro. O crédito vai logo, e todo, ao ministro Tarso Genro que tanto recebe, finalmente, a nova versão, tanto não tranca também a busca da última proposta, antes de começar o debate no Congresso Nacional. E a profundidade das trocas de ponto de vista só fez, por outro lado, reforçar o constitutivo essencialmente dialogante do modo de ser do atual situacionismo brasileiro.

  • A outra América Latina

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 03/06/2005

    Ninguém discutirá que o maior trunfo até agora do Governo Lula é o do novo protagonismo internacional do Brasil. Largou-se, de vez do Prata, empolgou a América do Sul, chega até à mediação das Farc, contém e apóia Chavez, e se lança ao maior desdobramento intercontinental. Mas fica fora de tudo isso o México e este novo portento que, na prática, criou uma condição cada vez mais bipolar - senão contraditória - nesta latinidade do novo mundo. Tem demorado o contato do presidente com esta Norte-América talvez a esperar a mudança do Governo Fox, e a eventualidade de que seu amigo de décadas, Cuauhtémoc Cárdenas, represente um outro caminho entre o PRI e o liberalismo de Salinas, herdado pelo atual regime. Ou que dependa o futuro do avanço do prefeito da megalópole, López Obrador, figura também a ganhar uma outra dimensão de identidade e mobilização que a do populismo ou das máquinas de poder em que se cristalizou a enorme força sindical do país.

  • O letárgico fascínio de Lula

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 01/06/2005

    A permanência do capital político de Lula independe dos anticlimaxes, da falta de resultados concretos, e até mesmo de novas idéias-força para manter a expectativa eleitoral. A convicção se arraigou nesta quase que inexpugnabilidade do apoio ao presidente, já claramente vertido para toda probabilidade de ganho nas próximas eleições. O vai-e-vem da nova e possível comissão de apuro das fraudes nos Correios, na verdade, não abala esta convicção de fundo.

  • A igreja adulta de Bento 16

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/05/2005

    A despedida na praça de São Pedro de João Paulo 2º numa unanimidade mundial só faz redobrar a atenção para o passo seguinte da igreja. A sideração desbordou toda volta à simples seqüência, de conservantismo ou mudança. Um aluvião de consenso criou uma expectativa única que redobra a escuta do mundo exposto à "civilização do medo" e das cruzadas para justificá-lo. É um próprio sinal dos tempos o acesso ao trono de Pedro de um teólogo e intelectual rigoroso, que tem o dever da autocrítica e se investe, agora, da mais radical humildade para a sua nova toma da palavra. Encontrar os ouvidos para o anúncio implica, ao mesmo tempo, fugir às retóricas do continuísmo como das repartidas fáceis.

  • O castigo do aliancismo a todo custo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 27/05/2005

    A determinação do respaldo de Lula aos aliados contra a CPI no caso de Roberto Jefferson pode se ter transformado no meridiano invisível, de passagem para o longo prazo de sua presente estratégia de poder. Ou seja, a da absoluta prevalência da realpolitik sobre a volta à iniciativa programática, no a que veio ao Planalto o PT. É a pertinácia desta última crença, inclusive, que tem permitido a marcante disciplina, ainda, do partido. Seus próceres mais importantes querem a mudança de dentro, contra toda ruptura pelo purismo doutrinário. O PSOL, de Heloísa Helena, não fez verão, nem ampliou a fratura, acreditando num brusco amadurecimento do fator ideológico no alinhamento político do País. A própria idéia-mestra, original, da opção socialista parece esfumar-se, como remota estrela polar. Mais ainda, a própria articulação, a prazo médio, do querer político não marcha para um programa de onde se possam cobrar prioridades e, sobretudo, tempos definidos de expectativa. A candidatura Plínio Sampaio, por exemplo, para a próxima presidência do PT é exemplar na aposta pela superação da estrita realpolitik em novo mandato.

  • Respondendo à fome de universidade

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 20/05/2005

    Aí está claramente a contribuição do ministro Tarso Genro em tornar a pauta da educação, sem dúvida a mais relevante, na fronteira das conquistas sociais a que responde especificamente o recado do Governo Lula. Não se trata apenas já de mostrar os índices desses dias da baixa a 3% da falta de escolaridade básica no País. O avanço do Prouni, com o apoio logrado da área pública e, sobretudo, decisivamente privada do terceiro grau, mudou uma atitude, inclusive, nesse avanço qualitativo do ensino brasileiro. Passa-se a sobrelevar este outro dado, tão percutente quanto o do analfabetismo que era o da massa de estudantes capacitados à entrada no campus, e barrados pela falta de vagas da área pública, de par com a ausência de poder econômico para ingressar na área particular.

  • Tango e terrorismo em Brasília

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 18/05/2005

    O desaguisado de Kirchner, no desfecho da nossa cúpula de maior amplitude intercontinental, não perturbou o ambicioso desígnio de Lula. Nem retornaremos ao poço sem fundo das nossas relações com o Prata. Ou ao desgaste do Mercosul, tanto se vá ao cerne da pauta comercial do empresariado brasileiro com o portenho, e se o liberte da condição de refém da nossa persistência protecionista. O arrufo presidencial é de um script que persevera, desde o ano passado, mas passou ao destempero, frente à escala de nosso protagonismo emergente.

  • Avanços que fazem a história

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/05/2005

    A unanimidade mundial nas exéquias de João Paulo II fizeram de um Papa o símbolo contundente contra a “civilização do medo” que nos rodeia. A seu sucessor, no rastro deste momento único, impunha-se desbordar a expectativa do vai-e-vem entre a conservação e o progressismo. O sorriso novo de Bento XVI no balcão da basílica trazia muito desta quase transfiguração, nas palavras do novo pontífice, tão longe do cardeal Ratzinger, como estrito guardião da fé. Refletiu a humildade radical e o peso descomunal da investidura. Ainda na Sistina, cabeça baixa após os votos, um novo homem se levantava, cativo da escolha esmagadora. O fascinante de agora não é uma prospectiva de embate com a prévia lógica de Ratzinger, mas do que seja, nos tempos modernos, um primeiro Papa, teólogo e intelectual exigentíssimo, neste retorno ao profetismo do Vaticano II.

  • A reunião de Brasília e a "civilização do medo"

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 13/05/2005

    A reunião em Brasília da primeira Cúpula Árabe-Latino-Americana demonstrou, no êxito e nos percalços, toda uma nova fronteira para a presença internacional das periferias do antigo Terceiro Mundo. Marcou, ao mesmo tempo, essa nossa indiscutível liderança externa, a que Lula tem dado o melhor de nossa visibilidade no após 11 de setembro, e da dita "civilização do medo". A deselegância Argentina, no rompante da saída de Kirchner, só confirmou o desconforto com o paroquial, no rompimento de nossas cláusulas de negociação mundial.A cúpula com os países do crescente foi como que o assento, ou retorno, de um grande salto começado pela busca do eixo Pretória-Nova Deli, que marcou o primeiro ano do Governo petista. O importante é que, ao abrir esses novos espaços, o País também reflui sobre as suas matrizes continentais. Mas, para dissociar-se das velhas amarras do Mercosul, como se aceitássemos um delineio político marcado pela maximização dos mercados aparentes e das projeções naturais do desenvolvimento, na sua expressão geográfica tradicional. É este Brasil largo que já logrou, inclusive, de saída, e nas Conferências de Cancún, o próprio apoio hindu ou sul-africano à quebra das visões tradicionais da OMC, na busca de uma nova perspectiva nos pactos tarifários e, sobretudo, na trazida dos Estados Unidos a um jogo de contrapesos e ao decalque da economia hegemônica no mundo contemporâneo.

  • A União Européia a perigo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 06/05/2005

    Não mais do que de repente eis o grande propósito da União Européia a risco do plebiscito de sua Constituição. Um "não" majoritário não acarretaria necessariamente a quebra do conseguido até agora. Mas, sem dúvida, um possível revisionismo das medidas à frente, contidas na Carta Magna, e dispostas a transformar uma estrita união de estados no avanço de uma efetiva cidadania européia. Ficaria este progresso crucial exposto às revivescências das velhas soberanias nacionais. Os países do Benelux deram a partida, na consagração indiscutível, pelas suas populações, do marco adiante que representa o verdadeiro pacto federal proposto. E, no mesmo passo, segue-se a Espanha, onde o Governo socialista de Zapatero ganhou, hoje, a nitidez de uma busca real de alternativa ao eixo liberal que parecia o tônus do primeiro lustro do velho continente neste século. O núcleo, entretanto, de toda a solidez do projeto continua o eixo Berlim-Paris e, de mais a mais, o "não" surge inesperadamente como a tônica do plebiscito francês do dia 29 de maio.

  • A tentação da cristandade

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 04/05/2005

    Não se flagrará mais a humanidade na praça, como se a viu nas exéquias de João Paulo II. Uma coesão universal filtrava, a mão na mão, por entre o mirar aberto de um mundo em trégua, numa solidariedade transbordante. Ou num estado de graça percutente, subversivo às rotinas da ''civilização do medo''. Era o escape, que, inconscientemente, clama pela perenidade do instante, ou desliza às nostalgias de um mundo tornado à cristandade. A tentação seria de retornar-se ao universo mental que o Vaticano I procurou conter frente aos tempos modernos. O Concílio de João XXIII já foi o de um pleno desposar da Igreja pelos nossos dias e à busca de seus sinais, como o dos chamados de uma Igreja encarnada.

  • A latinidade frente à hegemonia americana

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 29/04/2005

    A Academia da Latinidade vem de concluir em Ancara e Istambul o XI Simpósio sobre a interrogação, ainda, das diferenças culturais no seio de um mundo ameaçado pela configuração hegemônica. Trata-se de buscar uma interlocução, em que esse Ocidente flexível, mediterrâneo, vindo de uma tradição pluralista, confronte a dureza crescente do fundamentalismo nascido do Salão Oval. Ou da determinação da cruzada, decretada a partir dos restos fumegantes da queda das torres de Manhattam, como revide à deflagração da ameaça difusa e pertinaz de um terrorismo sem quartel.

  • A humanidade na praça

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 22/04/2005

    O mundo viveu nesses dias a condição inédita de um consenso universal em torno da morte de João Paulo II. Mais do que qualquer protocolo de aparências entre a emoção e o longo preparo para o desfecho em que se fez o preparo à perda do pontífice, neste misto único de despedida e alegria quase radiosa na massa comprimida entre as colunatas de Bernini. O Arcebispo Camilo Ruini, de Roma, deu o mote desta transposição quase luminosa no dizer que João Paulo II já "tocava o Senhor". E a mobilização de todo o mundo dobrou e redobrou a peregrinação única dos tempos modernos que, afinal, socou-se junto à fachada de Miguel Ângelo, a fortalecer o recado do Papa ao mesmo tempo sem concessões e congraçador dos caminhos do mundo. Indiscutível o portento na quebra de escalas nas boas avalanches da humanidade, na materialização única do seu peso, e de uma voz universal.