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Ultraje
Desfaçatez dos políticos à cata de impunidade contém outro imenso risco: deixar intactos os múltiplos esquemas de corrupção.
Desfaçatez dos políticos à cata de impunidade contém outro imenso risco: deixar intactos os múltiplos esquemas de corrupção.
O boato de que o ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Facchin, relator da Operação Lava Jato, vai liberar o sigilo das delações premiadas da Odebrecht, colocou Brasília em suspense. Há, no entanto, uma quase unanimidade entre a classe política, abrangendo o próprio presidente Michel Temer e a presidente do STF, ministra Carmem Lucia, a favor da liberação do sigilo das delações.
Vivemos “tempos interessantes”, como se algum chinês da antiguidade nos tivesse jogado essa praga. Viver em tempos turbulentos como o nosso exige do homem público esforço adicional, mas pode revelar grandezas insuspeitadas ou misérias conhecidas.
A decisão de transferir para os Estados a tarefa de estabelecer as regras da nova Previdência referentes a professores e policiais, ficando fora da reforma do setor federal, é politicamente um alívio para a maioria dos deputados e senadores, e não afeta o objetivo do governo de viabilizar um equilíbrio das contas no setor.
A esta altura já parece claro que faltou à Polícia Federal e ao Ministério Público, no caso da operação Carne Fraca, um sentido de estar à serviço do Estado brasileiro, o que obriga a medir as conseqüências de denúncias tão amplas quanto as que foram divulgadas em uma entrevista coletiva que anunciava ser aquela “a maior operação da história da Polícia Federal”.
Está prestes a ser firmado um acordo entre o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público para destravar os acordos de leniência firmados pelas três maiores empreiteiras – Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Correia – que não vinham tendo efetividade diante de desavenças entre os dois órgãos, e também entre esses e a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia- Geral da União (AGU).
Qualquer caixa 2 é ilegal, seja de grande empreiteira ou do botequim da esquina. Significa que um dinheiro não foi declarado.
Não foi mera coincidência. Ontem, quase ao mesmo tempo, embora separados geograficamente, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Carmem Lucia, e os procuradores da Lava Jato em Curitiba deram entrevistas onde os pontos de vista comuns sobre as questões nacionais podem ser constatados.
O cancioneiro de Cartola é uma autobiografia sentimental de suas esperanças, queixas e confissões. Uma lírica altamente sofisticada de quem tinha apenas o curso primário.
Um ponto fora da curva da tradição política americana recente.
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin fez ontem, em entrevista à CBN, uma declaração peremptória: apoiará o candidato que vencer as prévias, e não sairá do PSDB para concorrer à presidência da República por outro partido. A máquina eleitoral tucana deu ao candidato Aécio Neves em 2014 nada menos que sete milhões de votos de vantagem na eleição presidencial. E não tinha a Prefeitura da capital.
Os paradoxos continuam dominando a política brasileira, liderada desde o impeachment da ex-presidente Dilma por uma figura paradoxal como Michel Temer, que detectou na impopularidade a alavanca para agir como estadista no que toca às reformas estruturais do país, mas, ao mesmo tempo protege, como bom comandante à moda antiga, um grupo acusado por todos os lados de fisiologismo político.
Não são poucos os méritos do livro Machado de Assis e a mundana comédia: cinco peças teatrais. Não me refiro apenas ao recorte definido das cinco peças, mas à qualidade intelectual de dois raros leitores, Carlos Pereyro e Alva Teixeiro, feridos ambos pela palavra, autênticos lettraferits, e sem previsão de alta, graças a Deus!
Proibida a doação eleitoral por empresas pelo Supremo Tribunal Federal, e inviabilizada pelos escândalos que estão sendo revelados desde o mensalão e que agora, no petrolão, ganharam detalhes perversos de utilização dos mecanismos institucionais da democracia para lavar o dinheiro das propinas oriundas de verba pública, a política ficou sem meios de se financiar.
A decisão dos tribunais superiores sobre a utilização da Justiça Eleitoral para legalizar o dinheiro proveniente de propinas é o ponto fundamental da discussão que está instalada sobre a corrupção na política brasileira. Sem que se chegasse a uma conclusão definitiva, já se foi o tempo em que se discutia se o dinheiro de caixa 2 era corrupção.