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Artigos

 
  • O diabo nos detalhes

    O Globo, em 21/08/2022

    Anos 1960 -sim, aqueles da geração rebelde idealizados até hoje. Nos Estados Unidos, o repórter Hunter S. Thompson estava a caminho de se tornar ícone da contracultura por atropelar os cânones do jornalismo e inventar a forma imersiva de fazer 'jornalismo gonzo'. Interessado em compreender um grupo que parecia encarnar os aspectos mais violentos e vingativos da natureza humana - a gangue de motoqueiros Hell's Angels -, ele aceitou proposta da revista The Nation e mergulhou por um ano naquele universo. A fluvial reportagem que resultou desse visceral convívio serviu de base para sua retumbante estreia como escritor. 'Hell's Angels -Medo e delírio sobre duas rodas', publicado em 1966, é cultuado até hoje.

  • Agora é pra valer

    O Globo, em 21/08/2022

    A partir de terça-feira, começou de fato a campanha eleitoral. Agora, sim, vale tudo. Ou quase tudo. Os candidatos até que têm se comportado com decência, como aliás se comportaram até agora. Talvez porque ainda estejam naquela fase de não saber direito o que podem e o que não podem fazer, dizer ou produzir como novidade qualquer para dar uma animada na campanha. Podemos dizer que, quem sabe, o Brasil está voltando a ser o Brasil, um país meio sem regras, tentando inventar um jeito de se comportar.

  • Manias de escritores

    Jornal do Commercio (PE), em 19/08/2022

    Escritores, e grandes personagens, tem suas manias. Ou vícios, como preferirem. E é sempre bom lembrar La Rochefoucauld (Reflexões), 'o que impede de nos entregarmos a um único vício é ter vários'. Beethoven, por exemplo, tomava café enquanto compunha sua 9º Sinfonia. Como tinha refluxo, separava 60 grãos. O suficiente para fazer uma úinica xícara que ia bebendo, aos poucos, até a noite. Já com Voltaire eram 8o xícaras. Dizia sempre 'claro que é um veneno lento' (a frase está em todas as suas biografias), mas morreu só com 83 anos - para sua época, um feito notável. Balzac bebia mais de 50, por dia; e ainda mastigava os grãos, depois, como se fosse amendoim. Monteiro Lobato misturava tudo com farinha de milho e rapadura. Joyce preferia chocolate. E Alexandre Dumas (pai), maçã. Quando tinha prazo para finalizar um trabalho, pedia à empregada para sair de casa levando todas as suas roupas, dado que só nu podia se concentrar e escrever.

  • Democracia na berlinda

    O Globo, em 18/08/2022

    Se nossas instituições estivessem funcionando normalmente, como gostamos de afirmar como que para acalmar os mais pessimistas, o ministro Alexandre de Moraes não precisaria ter feito o discurso que fez ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nem mesmo precisaríamos ter um tribunal superior para cuidar das eleições, espécime raro que não é encontrado com facilidade noutros países. Mas, numa situação que os ventos da política criaram, o ministro teve de assumir com um libelo a favor da democracia e das urnas eletrônicas, tendo a seu lado o presidente Jair Bolsonaro.

  • O direito de escolha

    O Globo, em 16/08/2022

    A campanha eleitoral que começa oficialmente hoje já revela o retrocesso político a que estamos submetidos e a ameaça de não termos futuro promissor à frente. A começar pela defesa do voto útil no primeiro turno das eleições a favor do PT, uma contradição em termos. Os dois turnos existem justamente para permitir que as forças políticas se reagrupem no final, cada qual demonstrando sua capacidade de mobilização cívica no primeiro.

  • Jô jovem, momentos - 1

    O Estado de S. Paulo, em 14/08/2022

    Começo dos anos 60. Duas da tarde, pontual, dona Mercedes, mãe de Jô Soares, pequena e vivaz, descia do taxi diante do jornal Última Hora, então na Avenida da Luz. Entrava direto na redação, eu a esperava. 'Aqui está a matéria do menino', dizia me entregando a coluna de Jô sobre teatro, rebolado e televisão. 'Olhe direitinho, ele pediu para o senhor dar uma arranjada.' A arranjada que eu devia dar era pouca, ortografia, troca de letras - ele era um datilógrafo de dois dedos. Eu mudava um e outro titulozinho de nota para dar mais charme. Na verdade era pretensão minha, dois anos mais velho do que ele. A mãe de Jô executou esse ritual por um bom tempo, quando ele não podia ir ao jornal.

  • Hoje como ontem

    O Globo, em 14/08/2022

    Nas eleições de 2018, produzi neste espaço alguns textos que, embora ingênuos e quase nunca agressivos, acabaram provocando reações diversas e adversas, sendo algumas bastante ameaçadoras. Hoje, quatro anos depois, releio esses artigos e fico pensando em como tudo piorou tanto. Fico pensando em como se comportam hoje os que me ameaçaram em 2018 por quase nada. Será que devo até me esconder deles?

  • O Supremo contra si mesmo

    Estadão Online, em 12/08/2022

    A funcionalidade do Supremo está sendo vítima de ataque externo do Poder Executivo e bolsonarismo. É vítima também de ataque interno.

  • Os Saberes da Língua Portuguesa

    Jornal do Commercio, em 08/08/2022

    O nosso inconformismo com os exageros do uso da língua inglesa na realidade brasileira levou-nos à elaboração de uma palestra, na Confederação Nacional do Comércio, sobre os saberes da língua portuguesa. Pela reação da plateia do Conselho de Notáveis da CNC posso concluir que houve um retorno bastante apreciável, como se pode medir pelo número dos que pediram a palavra após os 45 minutos regulamentares, a partir da engenheira Olga Simbalista, que confessou que a minha palestra lhe abriu o coração. Depois, o conselheiro Nelson Melo e Souza confessou que temos um passado comum, na pessoa do professor Antenor Nascentes, que trabalhou com seu pai.

  • A vida no lugar da morte

    O Globo, em 07/08/2022

    É a Humanidade que está se desfazendo ou são os meios de comunicação que se multiplicaram e se aperfeiçoaram, colocando-nos imediatamente a par de tudo o que está acontecendo no mundo? Num passado não muito distante, nós levávamos um certo tempo para saber o que se passava na Europa ou em qualquer outro continente desse planeta.

  • Purcina mergulhada em trevas

    Folha de S. Paulo, em 31/07/2022

    É um volume pequeno, mas impacta e comove. Atualíssimo. Dona Purcina, a Matriarca dos Loucos, da Oficina da Palavra de Teresina, foi escrito com dor por Cineas Santos, filho desta matriarca nordestina, acolhedora e generosa. Por que a produção do Norte e Nordeste não chega a São Paulo e ao Rio? Há um vácuo e perdemos momentos de emoção. Purcina, figura complexa, autoritária, doce e feita de certezas. Diz Cineas que ela, simples doceira do sertão, 'com sua lógica enviesada, encontrava solução para os problemas mais complexos'. Acrescenta: 'Para os muitos que a amavam foi extremamente doloroso vê-la no final da vida, ausente de si mesma, sequestrada pelo mal de Alzheimer'.

  • Como ser feliz

    O Globo, em 31/07/2022

    Não preciso dizer que nunca vi na minha vida fotos tão belas sobre a Amazônia. Acho que todo mundo está cansado de ouvir isso das fotografias de Sebastião Salgado sobre a região. Eu já as tinha revisto em exposição, no Museu do Amanhã, uma mostra em cartaz com a participação de sua companheira, Lélia Wanick Salgado, mais uma vez preciosa e fundamental a nos iluminar com o que é especial naquilo tudo (só ela é capaz de destacar com precisão o que está exposto).

  • A Paixão segundo Cony

    Jornal de Letras de Lisboa, em 27/07/2022

    Li de uma só vez, com duas pausas, se muitas, da madrugada ao amanhecer, o romance póstumo do inquieto e fascinante Carlos Heitor Cony. Como quem descobre uma carta não enviada, perdida numa gaveta entreaberta, sem destinatário – a todos e ninguém –, consignado, muito embora, o remetente, num jogo de espelhos remissivos. Faltou pouco para escoimar uma e outra parte, cortes e acréscimos, como deixou claro, na última revisão, suspensa em 2005, através de um movimento pendular: frontal e irresoluto, áspero e compassivo. Acenos de utopia e desencanto, estrela e solidão, no céu escuro deste século. Livro que flui para o leitor, na lisa superfície da narrativa, mas que se escreve sob dura condição, áspera e irregular. Legato que repousa na soma de staccati. 

  • Os 125 anos da Academia

    Portal Metrópoles Online , em 26/07/2022

    Fui o orador da sessão de comemoração dos 125 anos da Academia Brasileira de Letras. Para toda a cultura brasileira e não só para nós, acadêmicos, é uma data importante. Criada no final do século XIX por um grupo de escritores sobre uma ideia que já vinha da colônia e que tinha como grande modelo a Academia Francesa, ela se desenvolveu a partir dos jantares mensais da Revista Brasileira, de José Veríssimo. Ali, tendo como ativistas Lúcio de Mendonça e Medeiros de Albuquerque, e como bússola discretos sinais de Machado de Assis, se reuniam ainda Joaquim Nabuco, Graça Aranha, Alberto de Oliveira, Rodrigo Otávio, 'a literatura, a política, a medicina, a jurisprudência, a armada, a administração?', nas palavras de Machado.

  • Um discurso histórico

    O Globo, em 24/07/2022

    O ex-presidente José Sarney, como seu decano, orador oficial da sessão solene dos 125 anos da Academia Brasileira de Letras, fez um discurso unanimemente reconhecido como de importância histórica e política. Sua manifestação pela defesa das eleições e da democracia foi fundamental nesses momentos turbulentos que vivemos. Dito do púlpito da ABL, deu relevo à posição institucional de defesa da cultura e da liberdade de expressão.