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Artigos

 
  • O 'Livro do Apocalipse' do século 20

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 30/03/2005

    Quando citamos o admirável mundo novo de celulares, laptops, internet e MP3, estamos nos esquecendo dos milhões de excluídos sobre a face da Terra, que não têm nem o que comer. As cifras são chocantes: mais de um bilhão de pessoas no mundo (sobre)vive com menos de um dólar por dia; 11 milhões de crianças morrem anualmente de doenças que poderiam ser facilmente evitadas; 840 milhões de pessoas vivem com fome crônica e outro bilhão não tem acesso a água potável. Este é o panorama traçado pela maior pesquisa sobre a pobreza no mundo, elaborada por 265 especialistas em desenvolvimento e divulgado pela Organização das Nações Unidas em Nova York em 17 de janeiro de 2005.

  • A vaca e o sonho

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/03/2005

    Podem não acreditar: nunca fui dado a alucinações, nunca vi fantasmas, nunca ouvi vozes, nunca vi disco-voador. Ultimamente, estou começando a duvidar de uma das minhas certezas pessoais: acho que estou entrando no perigoso terreno das visões.

  • Essa MP 232

    Diário do Comércio (São Paulo), em 30/03/2005

    Todos sabem que os acadêmicos têm o dever de respeitar a língua, evitando erros de gramática, mas, sobretudo, não usando gíria de espécie nenhuma, inclusive em língua estrangeira. Mas, eu direi que é preciso expulsar dos meios de comunicação, com a sua derrota, a maldita MP 232, que eleva os impostos e vai, ainda mais, oprimir os menos favorecidos, os pobres, enfim, e, mais ainda, os mais pobres, sobre os quais tomba como uma mole de chumbo o peso insuportável dos impostos, como são cobrados pelos governos brasileiros.

  • Autran relê Machado

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 29/03/2005

    Há, no conto, uma verdade poética, um tom de música de câmara que o torna uma arte de compreensão, com as palavras que o compõem sugerindo mais do que dizendo. Às vezes, até a prosa ganha o ritmo do verso, com trechos de sete sílabas, ou decassílabos, imiscuindo-se no caminho da narrativa, levando-a ao limite mesmo do poema puro e simples. Assim vejo a obra de narrador realizada por Autran Dourado, que vai mais longe agora com seu livro recente, "As imaginações pecaminosas", em que dá uma nova dimensão ao conto brasileiro.

  • A lei da misericórdia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 29/03/2005

    O caso da moça que deseja morrer por estar há anos numa vida vegetativa transformou-se em assunto que empolgou a opinião pública mundial, o governo e o Judiciário dos Estados Unidos, autoridades religiosas de todos os credos, cientistas e curiosos em geral.

  • Substituição de ministros

    Diário do Comércio (São Paulo), em 29/03/2005

    Quem melhor soube jogar com os ministérios e seus titulares, até hoje, ao menos na República, em que as demissões são da alçada do presidente, quem se saiu melhor foi Getúlio Vargas.

  • O dragão, a fera da rua larga

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 28/03/2005

    Há movimentos aparentemente contraditórios, hoje, no trato da língua portuguesa. De um lado, alguns jovens de escolas da Zona Sul divertem-se em seu computadores economizando vogais ou recriando o que se entende por fonética. O não é naum, assim como você se escreve simplesmente vc. Ainda não percebemos aonde querem chegar, mas o movimento está aí.Como uma espécie de reação, embora difusa, cronistas de jornais consagrados promovem um movimento a seu modo. Resolveram atrair de volta à cena vocábulos que dormiam no esquecimento ou frases que pareciam abafadas num confortável arcaísmo. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o inspirado Joaquim Ferreira dos Santos (O Globo), na crônica "As doces sirigaitas".

  • O "in" e o "off"

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/03/2005

    Caíram em cima do Severino porque deu aquilo que os colunistas políticos e assemelhados classificaram de "ultimato" ao presidente da República, a propósito da reforma ministerial que todos queriam, menos o próprio Lula.

  • Lembranças bem antigas

    Diário do Comércio (São Paulo), em 28/03/2005

    Lembro-me, ó se me lembro, e quanto, da minha adolescência em Rio Claro, particularmente, na Semana Santa. O respeito pelas comemorações da vida, paixão e morte de Jesus Cristo era total.

  • Adeus velho Chico

    O Globo (Rio de Janeiro), em 27/03/2005

    Já li várias vezes que os especialistas do governo têm completa certeza de que a planejada transposição das águas do Rio São Francisco vai funcionar e resolverá praticamente todos os problemas da região. Contudo, oponho modestos argumentos, alguns dos quais já expus em outras ocasiões, mas estou seguro de que muita gente não lembra, até porque nunca os juntei numa peça só, como espero fazer agora, pelo menos aproximadamente. Em primeiro lugar, não apenas eu mas muita gente desconfia um pouco das assertivas e informações do governo. Por exemplo, já de muito se anunciou o espetáculo do crescimento e o único crescimento que a maioria percebe é o dos impostos, juntamente com o das despesas oficiais, com destaque para mordomias e aparentadas. Mas deve ser má vontade nossa. Afinal, crescimento é crescimento e somente o pessoal do contra é que dá importância a pormenor tão irrelevante.

  • Palavras que merecem reflexão

    O Globo (Rio de Janeiro), em 27/03/2005

    GERALMENTE É CONFUNDIDA com a famosa frase de Lampedusa: “Melhor mudar um pouco, de modo que tudo possa continuar a mesma coisa.” E quando pressentimos que chegou a hora de mudar, começamos inconscientemente a repassar um vídeo mostrando todas as nossas derrotas até aquele momento. É claro que, à medida que ficamos mais velhos, nossa cota de momentos difíceis é maior.

  • A guitarra e a fome

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/03/2005

    Tirante idéias gerais, que incluem o combate à miséria, a luta pela justiça social, pela melhor saúde e educação, idéias que formam o núcleo de qualquer programa de qualquer político, o que se vê na prática, num governo sem metas precisas, é a perda de tempo e de energia a que o presidente da República se obriga para reformar um ministério que nem ele sabe qual deve ser.

  • Judas e o Sacadura

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/03/2005

    Desde que a sociedade passou a defender valores politicamente corretos, não mais se malha o Judas como antigamente. Acredito também, mas sem certeza, que os manuais da Redação de todo o mundo igualmente condenem a velha e gostosa prática da malhação daquele que passou à história (ou à lenda) como o símbolo maior da traição. (Ia dizer "emblemático da traição", mas preferi a fórmula de outros tempos).

  • O PT a a volta por cima

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 25/03/2005

    A eleição do deputado Antonio Carlos Biscaia para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara marca a reação nítida do PTB neste segundo tempo do mandato com vista à conservação do recado e do perfil eleitoral do PT, no dizer a que veio para a mudança brasileira. Fora da Mesa da Casa o PT apetrecha naquele órgão básico da tramitação legislativa a marca do comportamento ético e da vigência das prioridades brasileiras frente à vitória inesperada do baixo clero na ameaça de retornarmos ao país da cosanostra. Só se reforçam os piores presságios da anedota chegada ao grotesco, da madrugada da consagração dos Severinos no terceiro poder da República. Não se tratou de quebra-de-braço ideológica, nem de mudança consciente do peso de poder, nem de articulações distintas do a que vem, para valer, como hoje se espera, o exercício da vontade política. Só se somaram, no lusco-fusco ainda do raiar do dia, quando ainda são pardas todas as alianças, o exercício mais escancarado do fisiologismo ocorrido no núcleo mesmo do primeiro poder do povo, no seu fazer de futuro.