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Artigos

 
  • O paraíso perdido de Euclides

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/03/2005

    Diga-se logo: o paraíso perdido é a Amazônia. Apesar de Alberto Rangel haver chamado a região de Inferno Verde, bastou que lá fosse Euclides da Cunha para descobrirmos que se tratava de um paraíso, embora perdido. Já há dúvidas hoje sobre qual haja sido maior: o Euclides da Cunha do Nordeste ou o Euclides da Amazônia. Não que seja necessária uma opção no caso. Mas é que a evidente importância do lado nordestino da obra euclidiana ofuscou por algum tempo as novidades de seus estudos amazônicos.

  • Mártires da consciência ecológica

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/03/2005

    Dorothy Stang e o Cabo Dionísio Julio Silveira morreram na mira não de quem apertou o gatilho mas de um medo novo do país arcaico, frente à nossa nova, desarmada, inevitável consciência comunitária. O que desaparece cada vez mais é a velha noção da impunidade que derruba o Brasil arcaico. Leonardo, de 21 anos, paramentou-se para a execução do Cabo Júlio, roupa de camuflagem, a espingarda de seis tiros, em dois disparos a três metros da vítima. Requinte da exatidão, como do ato seguinte, de tirar o uniforme assassino e ir para a praça, no horror assumido, de livrar-se de um estorvo ao seu direito de caçar, e fazendo jus à liderança que buscava no seio do grupo. Rayban, na Amazônia, esparrama-se na assentada monstruosa, cinco balas após o estraçalhamento da cabeça de Dorothy, com a sua 38. Mortes avisadas, na proposição de um novo rito macabro, para valer. Difícil de se acreditar na ameaça, de saída, como se estivéssemos no campo das vendetas, ou do abate de desafetos, no crime de interesse pessoal que pára no algoz, e não pergunta do mando. Ou da motivação maior, ou da percepção difusa do que seja a ameaça que ferreteia o futuro assassino. Dorothy e o Cabo Julio abriram mão da segurança oferecida, por não acreditarem que o tiro se seguisse ao telefonema, a desoras.

  • Leituras e improvisos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/03/2005

    Se não bastassem as dúvidas que temos, sobretudo em tempos incertos como os de agora, dias desses encarei uma questão que nem sabia que era questão, nunca pensara nela e não podia acreditar que houvesse alguém neste mundo de Deus que se preocupasse com isso.

  • A derrota de São Paulo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 09/03/2005

    Se Ibrahim Nobre fosse vivo, provavelmente escreveria outra página, como " Minha terra, minha pobre terra ", mas por outro motivo que o de 1932; pelo colapso da Vasp.

  • A volta de Cavalcanti

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 08/03/2005

    Até que enfim aparece entre nós um livro que faz justiça ao brasileiro Alberto Cavalcanti. Tendo sido, como foi, um dos responsáveis pela criação da linguagem cinematográfica no mundo, raras vezes citamos, no Brasil, seu nome como tendo influído poderosamente naquela que antigamente chamávamos de "sétima arte".

  • Citymanager

    Diário do Comércio (São Paulo), em 08/03/2005

    Espírito prático dos americanos levou-os a tomar, na fase ascensional de sua atividade urbana e a rural na proporção de suas possibilidades, uma medida da maior importância para o seu desenvolvimento: os americanos simplesmente erigiram cidades pequenas como capitais e criaram na administração pública, para que ela fosse eficiente, o city manager , ou, em português, o gerente da cidade.

  • Velhas e queridas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 08/03/2005

    Outro dia, em Belo Horizonte, quiseram tirar uma foto minha no escritório de famoso escritor das Gerais. Sentaram-me na poltrona em frente à sua mesa de trabalho, num escritório bacana, com paredes revestidas de nobre madeira, tapetes orientais, lustres murano e uma velha máquina de escrever que servira para desovar pelo menos duas obras-primas de nossa literatura.

  • Movimento da bolsa

    Diário do Comércio (São Paulo), em 07/03/2005

    O presidente da Bolsa de Valores nasceu ouvindo falarem, até compreender, de títulos, cotações baixas e cotação do dólar. Seu pai foi um dos mais conceituados e acatados corretores de bolsa, dono de uma palavra de ouro, contra a qual ninguém ousava protestar ou tentar sair da linha reta da enérgica profissão. O filho não poderia ser diferente.

  • Vivaleitura

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 07/03/2005

    Enfim, uma boa idéia. Fala-se tanto na necessidade de criar um plano nacional de leitura, artigos são escritos com relativa abundância, mas na prática o que se vê são ações pontuais, que têm duração dos dias da sua realização. Ou seja, nada duradouro, definitivo, como se deve esperar de uma necessidade desse porte.

  • A tolice e o crime

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 07/03/2005

    Mais uma distorção do atual governo. Dando prioridade à economia, continua tratando o social de forma secundária, dando e tirando verbas ao sabor de uma demagogia eleitoreira (para 2006) e reforçando o caixa para apresentar índices com que os nossos guarda-livros provocam elogios aqui e no exterior.

  • A solução é clara

    O Globo (Rio de Janeiro), em 06/03/2005

    A julgar por muitas entrevistas, artigos, ensaios, poemas, discursos e outras manifestações a que tenho sido exposto, às vezes com requintes de crueldade mental, as tentativas de elucidação dos problemas brasileiros começaram desde Cabral, talvez até muito antes. Os índios parecem ser considerados por quase todo mundo os primeiros habitantes do Brasil, os verdadeiros brasileiros. Tenho que fazer considerável esforço para aceitar esse raciocínio que, acatado por tanta gente, deve estar certo. Eu é que sou tapado e já fui até chamado de racista e inimigo dos índios, pois a triste verdade é que ainda me atrevo a discordar, pela óbvia razão de que não existia Brasil nenhum, antes dos processos deflagrados pela colonização e não encerrados até hoje.

  • Pau para cada um

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/03/2005

    Começa a esquentar a briga entre Lula e FHC. Foram cordiais um com o outro até recentemente. No passado, estiveram juntos em diversos lances de nossa vida política. O rompimento, que ainda não parece definitivo, nada tem a ver nem com o passado nem com o presente, mas com o futuro, e atende pelo nome de sucessão presidencial.

  • As uvas da ausência

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 05/03/2005

    A morte de Guillermo Cabrera Infante, em Londres, na semana passada, após 40 anos de exílio, deveria servir de reflexão sobre as relações dos intelectuais com o regime cubano. Como se sabe à exaustão, há uma tendência de compromisso entre escritores e artistas com o socialismo implantado por Fidel Castro, que logo se tornou comunismo e sobrevive hoje sob a forma, sem dúvida simpática, de castrismo.

  • A bolsa e a vida Severina

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/03/2005

    O fracasso da eleição de Greenhalgh, no zênite do poder do PT, só demonstrou, ao mesmo tempo, como as raízes da força de Lula permanecem intactas por fora de qualquer agenda clássica de respostas à expectativa popular. Nos mesmos dias em que o PT foi varrido da Mesa da Câmara, continuam os percentuais do apoio básico ao presidente. Mais ainda, reforça-se a conclusão peremptória: continua imbatível para um segundo turno.