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Vivaleitura

 

Enfim, uma boa idéia. Fala-se tanto na necessidade de criar um plano nacional de leitura, artigos são escritos com relativa abundância, mas na prática o que se vê são ações pontuais, que têm duração dos dias da sua realização. Ou seja, nada duradouro, definitivo, como se deve esperar de uma necessidade desse porte.


Busca-se constituir um Plano Nacional de Leitura e do Livro. Não é um esforço isolado, pois tem a participação de 21 nações, no ano de 2005, com o nome de Vivaleitura, que se confunde, de propósito, com o Ano Ibero-Americano da Leitura. Certamente,órgãos como as Secretarias Estaduais de Cultura têm uma presença significativa no evento, como está acontecendo no Rio de Janeiro, por intermédio da Biblioteca Pública Estadual, um centro irradiador de ações expressivas em favor da leitura em nosso País, sob a direção de Ana Lygia Medeiros.


O curioso é que essa idéia coincide com as comemorações, no mundo inteiro, em torno dos 400 anos de lançamento da obra-prima de Miguel de Cervantes, que é o D. Quixote. No Instituto Metropolitano de Altos Estudos, em São Paulo, participamos de um maravilhoso debate sobre essa efeméride, em que falaram intelectuais de diferentes formações, como Ives Gandra Martins, Celso Láfer, Rodolfo Konder, Edevaldo Alves da Silva, Luís Gonzaga Belluzzo, César Calegari e José Aristodemo Pinotti, entre outros. Cada um deu a sua visão sobre a permanência desse clássico, no imaginário popular, elogiando a capacidade de Cervantes, com o seu estilo irônico ou sarcástico, de criticar os romances da época sobre a cavalaria andante.


O engenhoso D.Quixote seria a personificação da busca de utopias aparentemente irrealizáveis, o que deu vida a uma extraordinária música de Chico Buarque, cantada por Maria Bethânia, intitulada "Sonho Impossível".


A propósito, lembramos de dois fatos de grande repercussão: primeiro foi a encenação, no Teatro Adolpho Bloch, da peça "O homem de la Mancha", dirigida por Flávio Rangel, com Paulo Autran, Bibi Ferreira e um incrível Sancho Pança - Grande Otelo. A cena da morte do cavaleiro, suas últimas palavras, levaram-nos às lágrimas. Depois, o Prêmio da Latinidade, concedido pelas Academias Francesa e Brasileira de Letras, em 1998, ao escritor mexicano Carlos Fuentes. Este, ao receber as homenagens pela premiação, em discurso, no Rio de Janeiro, falou sobre "Machado de la Mancha", mostrando prováveis semelhanças entre as obras de Miguel de Cervantes e Machado de Assis. Uma comparação erudita e inteligente, apesar da época em que cada um viveu, com uma diferença de cerca de 300 anos.


Voltamos ao Ano Ibero-Americano da Leitura. Busca-se maior inclusão social e desenvolvimento na região, com o envolvimento de chefes de Estado, para que a leitura se torne tema prioritário nas iniciativas governamentais. O Brasil quer construir uma nação de cidadãos leitores. Deve participar ativamente, com a atualização das suas bibliotecas públicas, a construção de outras, e uma política bastante consistente de valorização do gosto pela leitura. Tudo com a participação de todos os envolvidos no processo.


 


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 07/03/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 07/03/2005