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Revista Brasileira nº.125 (2025. 176 pp.)

Essa publicação faz parte da coleção Revista Brasileira

Editorial
Rosiska Darcy de Oliveira

Ocupante da Cadeira 10 na Academia Brasileira de Letras.

Empilhadas na mesa, as capas da Revista Brasileira resumem este ano de 2025 que se vai acabando. Foi, sim, um tempo sem nome, um atropelo de todo o conhecido, desafiador de conceitos, definições e maneiras de estar no mundo, tempo de atentados e guerras, desencontro nas coisas e nas pessoas, de gente nas estradas arrastando colchões, à procura de um pouso, quase nunca encontrado.
 
A lava escorrendo dos vulcões supostamente extintos anuncia, pela voz surda da Natureza, o transe da Terra. A disritmia das estações, sentida na pele, aflige.
 
Pior, a alma de homens e mulheres, como que contaminada pelo medo que esses tempos inspiram, foi se deixando seduzir pelos argumentos da força bruta. Medo e ódio são os piores conselheiros e ambos buscam a sombra protetora de “líderes” que prometem uma autoridade que não têm senão pela violência que semeiam e que cresce nesse clima de insegurança, às vezes de pavor. Tempo de autoritarismo contagioso, se espalhando como uma peste já conhecida e que tanto mal já fez, e tantos mortos, minando as democracias como um cupim invisível, mas operoso.
 
Esperamos do Ano Novo que nos traga a certeza de um chão e teto nossos, nossa pátria, nosso território, nossos deuses, língua, a nossa gente, Soberania. Nossa soberania é mais do que o exercício do poder sobre um território
físico, é viver em um território amoroso, um pertencer sofrido que nos faz querer bem ao nosso país, apesar de todos os seus pesares.

Vamos fechar o ano com o tema da Soberania, que, se por um lado aponta para as sombras, por outro lembra que ainda estamos aqui e nadamos contra a corrente em busca de paz.

Como os peixes de Piracema, que sobem o rio no sentido oposto ao das correntes, em busca de suas origens. Piracema é o espetáculo que festeja os cinquenta anos do Grupo Corpo.

Quem mais garante nossa soberania senão nós mesmos, quando nos reconhecemos nessa dança encantatória, nesses corpos tantos, perfeitos e imperfeitos, nessas trilhas sonoras inauditas, com que o Grupo Corpo inventa o Brasil? Nesse estranhamento primeiro, em que logo nos encontramos, sem saber por quê.

É a memória coletiva guardada em algum lugar secreto da nossa história em que já estivemos todos. É ela, a cultura, que faz a liga de um país soberano, que nos pertence e a que pertencemos. Precisamos da cultura para nos dizer quem somos. Precisamos da beleza, de uma beleza que ninguém melhor que nós para sentir o quanto é bela. Precisamos do Grupo Corpo, do milagre da família Pederneiras.

Precisamos de outros milagreiros, como Ariano Suassuna, que, como um Cid, depois de morto ganha a batalha do coração volúvel dos internautas com aulas sábias e hilárias. Logo ele, tão avesso à internet.

Precisamos de Tom Jobim, cujas janelas davam para o Brasil onde quer que estivesse. Cantou tão bem a alegria de voltar que ganhou um aeroporto com seu nome. Todos eles se juntaram neste número de fim de ano e, vivos e redivivos, vieram passar o Natal.

A Revista Brasileira da Academia Brasileira de Letras deseja a todos os leitores um ano em Paz, que não virá por nenhum milagre, mas pelo esforço dos que entram o ano dispostos a nadar contra a corrente deste tempo sem nome, contra o transe da Terra, contra o autoritarismo e a afirmar a nossa Soberania.

Foi o que fizemos na Revista Brasileira no ano que passou. É o que faremos com o concurso de todos os nossos colaboradores e leitores a quem dirigimos um carinhoso agradecimento. Feliz Ano Novo! 

 

Ficha da Obra

Ano: 
2025
Páginas: 
176
Leia a obra completa: