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Artigos

 
  • Enfim o acordão, Ufa!

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/12/2005

    Às vésperas das rabanadas de Natal o Congresso nos garantiu a digestão esperada da crise pelo grande acordão. Nada mais, nada menos do que o deputado Romeu Queiroz, de alcance estrondoso no valerioduto - nesses seus R$ 350 mil - sai ileso de qualquer castigo. Tutta bona gente, que o parlamentar é o amigão de todos, gente boa e gente fina, e não passa pela cabeça impor-lhe o desagrado da expulsão do paraíso. Vá o ano em paz, e por aí mesmo assegure esse as boas festas dos companheiros vistos a caminho do cadafalso, ainda há um mês. Como baixar-se o cutelo sobre os pescoços menos óbvios já que a acusação é a mesma, só que muitas vezes em ganho de trocados e não da lauta soma, pela qual o Conselho de Ética pretendeu tornar irretorquível o bater do martelo condenatório.

  • 'Coronel, coronéis' após 40 anos

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/12/2005

    A complexidade do Brasil não lhe nega a unidade em que língua e religião reforçam o tecido do país. Assim, a palavra Nordeste vinca seu perfil numa identidade forte e, por vezes, fagueira, a nos mostrar um Brasil plantado no solo, onde é marcante a presença de um humanismo próprio, como a dizer que os avanços da tecnologia não nasceram para desmentir o que há de humano no homem. A poeira das caatingas do solo nordestino nos fala ao imaginário e à consciência de que a realidade jamais se cristaliza, mas desliza nas conversas ao pé do ouvido. É certo que o folclore nos dá conta das tradições que por lá campeiam, mas tudo feito de leveza e de comunicação. O ruído das vozes cantantes, as cantigas improvisadas, as danças regionais, as manifestações religiosas estão a revelar uma inegável especificidade.

  • O mundo de Kafka

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 27/12/2005

    Visitei, há alguns anos, nos arredores de Viena, o pequeno sanatório em que Franz Kafka morreu. A casa é hoje um museu dedicado ao escritor, com a cama em que dormiu, ou não, suas últimas semanas de vida.

  • O papa e Herzog

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 27/12/2005

    Gostei da homilia proferida pelo papa durante a missa do Galo, na medida em que me entediei com seu pronunciamento, no dia seguinte, na praça do lado de fora, quando disse o óbvio, as coisas que todos dizem em datas festivas ou marcadas por alguma tragédia.

  • ACM diz o que é preciso dizer

    Diário do Comércio (São Paulo), em 27/12/2005

    É bem conhecido da classe política o senador Antonio Carlos Magalhães. Suas intervenções a propósito dos males da nossa democracia são sempre comentadas, sua cólera contra inimigos e adversários e suas reações ao que não o agrada também. O senador não tem freios, diz o que pensa, gostem ou não do que ele diz. Evidentemente, o senador tem defeitos.

  • Aquela inconfiável arma, o pitbul

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 26/12/2005

    Durante meses tentou arranjar emprego. Inutilmente. Era muito jovem e inexperiente, ninguém queria contratá-lo. A situação tornava-se desesperadora: vivendo ao relento, numa cidade distante da casa paterna, já estava até passando fome. E o pior é que não conseguia nem mesmo alimentar o cão.

  • Orgasmos múltiplos

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 26/12/2005

    Já foi dito por gente mais autorizada do que o cronista que aliás não tem autoridade alguma: no Brasil, a campanha eleitoral começa no dia seguinte ao da posse do novo presidente. Em outros países também deve ser assim mas tendemos ao exagero e ao assanhamento. Noel Rosa diria: coisas nossas.

  • 60 anos de CNC

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 25/12/2005

    Antonio Oliveira Santos foi homenageado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro com a concessão da sua maior láurea, a Medalha Tiradentes. Uma bonita e concorrida solenidade, presidida pelo deputado Jorge Picciani (PMDB), em que igualmente foram comemorados os primeiros 60 anos da Confederação Nacional do Comércio.

  • A qualidade de vida ataca novamente

    O Globo (Rio de Janeiro), em 25/12/2005

    Claro, eu sabia que não ia durar muito. Há bastante tempo minha qualidade de vida tem sido de baixíssimo nível e, como se sabe, é impossível sobreviver hoje em dia sem cuidar da qualidade de vida. Do contrário, o sujeito morre depois de ler as seções de saúde dos jornais, tamanho é o terrorismo que fazem em relação à qualidade de vida. Devia haver um aviso nessas seções, advertindo que sua leitura contumaz leva a todo tipo de doença imaginável. Eu, apesar das exigências de minha atividade jornalística, procuro evitá-las, mas não adianta porque os efeitos delas se alastram como fogo em mato seco, a começar pela própria família do sofrente.

  • Conto de Natal: um lugar no Paraíso

    O Globo (Rio de Janeiro), em 25/12/2005

    ANOS ATRÁS, VIVIA NO NORDESTE do Brasil um casal muito pobre, cuja única posse era uma galinha. Com muito esforço, economizando o máximo, conseguiam se sustentar vendendo os ovos que ela colocava.

  • Retórica do diálogo e cultura do medo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 23/12/2005

    As meninas de coletinhos de dinamite, que beijam os pais e explodem nos ônibus de Gaza, são comandadas por Bin Laden? Até onde o terrorismo é uma operação de guerrilha incessante e mundializada, fora dos grotões do mesmo comando e sua disciplina? Ou o que divisamos hoje é um gigantesco levante do inconsciente coletivo de nosso tempo, insubordinado com os preços do progresso a todo custo e a perda da alma de suas coletividades? Vamos ou não, afinal, entrar nas novas guerras de 100 anos, como prega o Salão Oval, diante da "cultura do medo", e de um mundo a perigo, de que as explosões de Madrid, ano passado, ou dos ônibus de Londres, nesses últimos meses, demonstram a permanência múltipla e generalizada? E como ignorar, nas montanhas do Paquistão o culto a Mohamed Ata, e a fotografia da sua passagem desafiante pelas roletas do aeroporto de Boston, a caminho da derrubada do World Trade Center?

  • O menino Jesus de minha aldeia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/12/2005

    "Num meio dia de Primavera / Tive um sonho como uma fotografia / Vi Jesus descer à terra. /... / Tinha fugido do céu". É assim que Fernando Pessoa começa o seu poema sobre o Menino Jesus, que convivia com ele na sua aldeia, correndo campos e colinas. Tinha fugido do céu. Lá tudo era muito solene e sempre havia o desejo de que ele se tornasse homem e o colocassem numa cruz com uma coroa de espinhos.

  • O AntiCristo que o mundo perdeu

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 23/12/2005

    Reconheço: nas vésperas de mais um Natal em que se comemora o nascimento do fundador do cristianismo, é de mau gosto falar em Nero, considerado pela maioria dos historiadores cristãos o Anticristo previsto no Apocalipse. A desculpa que ouso apresentar é meio furada. Pretendo aproveitar o gancho (Nero) para, mais uma vez, expressar a falta de credibilidade da história, qualquer história, desde a universal, até a história miúda que estamos vivendo.

  • Tudo passa

    Diário do Comércio (São Paulo), em 23/12/2005

    Dentre as expressões correntes no linguajar cotidiano, o que mais se destaca, impondo-se mesmo como lugar comum, é a certeza de que o tempo vai passando velozmente. Os comerciantes, dotados que são de uma astúcia sensibilíssima, hábil na captação das correntes que os interessam, anunciam os artigos de Natal a quatro meses das festas.

  • Razão da idade

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 22/12/2005

    Já lembrei aqui o centenário de Jean-Paul Sartre que seus devotos estão comemorando. Grande parte da crítica e a maioria dos leitores o consideram superado, tanto na filosofia como no ensaio, no teatro, conto e romance. Concordo em parte com esse tipo de datação, mas continuo admirando sua ficção.