Economista e escritor, Eduardo Giannetti toma posse na Academia Brasileira de Letras
Publicada em 12/08/2022
Publicada em 12/08/2022
Publicada em 16/12/2021
Publicada em 16/09/2021
A complexidade do Brasil não lhe nega a unidade em que língua e religião reforçam o tecido do país. Assim, a palavra Nordeste vinca seu perfil numa identidade forte e, por vezes, fagueira, a nos mostrar um Brasil plantado no solo, onde é marcante a presença de um humanismo próprio, como a dizer que os avanços da tecnologia não nasceram para desmentir o que há de humano no homem. A poeira das caatingas do solo nordestino nos fala ao imaginário e à consciência de que a realidade jamais se cristaliza, mas desliza nas conversas ao pé do ouvido. É certo que o folclore nos dá conta das tradições que por lá campeiam, mas tudo feito de leveza e de comunicação. O ruído das vozes cantantes, as cantigas improvisadas, as danças regionais, as manifestações religiosas estão a revelar uma inegável especificidade.
Vossa presença entre nós, hoje, é o consectário natural e mesmo obrigatório de um percurso pleno de afirmação literária da mais alta qualidade que, de há muito, transpôs nossas fronteiras. Esta é a vossa casa, que sempre amastes como se evidenciou em vosso discurso na festa de aniversário da ABL, quando, neste mesmo salão nobre, recebestes há dois anos o prêmio maior desta Academia, o prêmio Machado de Assis.
A universidade está em crise de identidade, e sempre estará. Este futuro aparentemente sem saída é precisamente o seu único caminho a trilhar. Isto porque a vida universitária vive e respira a atmosfera do questionamento. E jamais devemos temer a dúvida metódica. Questionar é afastar de vez o fantasma do dogmatismo, das verdades feitas a serem apenas assimiladas pelos espíritos superficiais. A consistência intelectual pressupõe a contínua busca de sentido que sempre foge ao primeiro olhar inquiridor e, muita vez, não se deixa entremostrar à avidez legitima de quantos se entregam à aventura de viver perigosamente.