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Artigos

 
  • O ritual do esperneio

    O Globo, em 14/07/2013

    Pode ser que, diante da rápida sucessão de acontecimentos notáveis que temos testemunhado, meu assunto deste domingo já haja caducado, apesar da importância que lhe deram. Tudo agora é soterrado num passado cada vez mais próximo do presente e o famoso de hoje é o anônimo de amanhã, assim como a novidade tecnológica já sai obsoleta das prateleiras e as modas passam antes mesmo de pegar de todo. Nas últimas semanas, a velocidade de certos eventos chega a ser atordoante, para quem está, por exemplo, acostumado ao ritmo quelônio do Congresso Nacional e seu toque de bola no meio do campo, sem nunca chegar ao gol, mesmo porque o bicho já está garantido, quer haja gol, quer não haja. Até a renomada semana de três dias foi pressurosamente esquecida, uma coisa em que a gente só acredita porque viu na televisão.

  • Um gesto americano

    O Globo, em 13/07/2013

    O governo dos Estados Unidos está disposto a fazer, nos próximos meses, uma revisão de seu sistema de monitoramento de informações no exterior. O gesto é um reconhecimento da dificuldade criada aos países da Europa e da América Latina que foram alvos de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês).

  • O novo e o velho

    O Globo, em 12/07/2013

    Pode-se dizer que no confronto entre o velho e o novo, entre o moderno e o arcaico, as mobilizações dos movimentos sociais perderam a hegemonia das ruas para as convocadas pelas redes sociais. De acordo com parâmetros anteriores às manifestações do mês passado, o Dia Nacional de Lutas convocado por entidades como as centrais sindicais , a UNE e o MST, com pauta centrada em questões trabalhistas - contra o fator previdenciário, a terceirização, pela  jornada de trabalho de 40 horas semanais -, até que poderia ser considerado exitoso.

  • Eles têm juízo

    O Globo, em 11/07/2013

    Confirmando a célebre frase do deputado Ulysses Guimarães, segundo quem “a coisa que mais mete medo em político é o povo na rua”, os senadores encontraram uma maneira regimental de rever a posição do dia anterior, que estava provocando enorme irritação nas redes sociais, e aprovaram uma emenda constitucional apresentada ontem mesmo pelo senador Francisco Dornelles, reduzindo de dois para um os suplentes e proibindo a candidatura de parentes diretos, sejam cônjuges, parentes consanguíneos ou afins até o segundo grau do titular.

  • Cartola e Pasolini

    O Globo, em 19/06/2013

    Fiz uma visita emocionada ao Morro dos Macacos, de mãos dadas com um verso de Pier Paolo Pasolini: “a favela fatalmente nos esperava”. Essa imagem revelou-se mais nítida e grávida de futuro, dentro da creche  que abrigou num fim de tarde a Flupp. Não poderia haver sinal, outro e melhor, que o da creche, radicado numa cidade que espera crescer no seio de uma cultura de paz e igualdade.

  • Desastre na Síria

    O Globo, em 15/05/2013

    Damasco é uma das mais belas cidades do mundo, que não sei e não posso abandonar. Velha e soberba capital do califado omíada, cujas fronteiras se estendiam do Afeganistão à Península Ibérica. Promotora de um convívio admirável entre culturas e religiões diversas, Damasco era conhecida como “cidade do amor” na alta e refinada tradição da poesia árabe.

  • Autonomia da Escola

    O Globo, em 14/04/2013

    Levamos séculos para descobrir que a infância não é uma doença que ataca os seres humanos quando nascem, tão dependentes e incompletos se mostram. A criança não passaria de um adulto imperfeito, para o qual se devem ministrar remédios, que consistem em apressar-lhe o crescimento, mediante atribuição de tarefas e compromissos, que dissolvam a profunda poesia em que se move.  Um crime de lesa-humanidade que se prolonga, infelizmente, sob diversas modalidades.

  • Economia e Humanismo

    O Globo, em 20/03/2013

    As manifestações nas ruas de Lisboa, ocorridas semana passada, ilustram terrivelmente o peso das medidas  econômicas impostas pelo governo à sociedade civil. E com uma recessão absurda, imoral, que deve atingir o patamar de  2,3 % ao longo do ano. Apesar da indignação, nenhuma surpresa. Os tecnocratas são sempre os mesmos, e não perdem os vícios de linguagem, em todos os quadrantes da Terra. 

  • Uma Nova Europa?

    O Globo, em 20/02/2013

    Ouço em Budapeste, e não somente aqui onde me encontro, uma exaltação quase febril pelos profetas que cantaram os últimos dias da Europa. Dentre todos, "A decandência do ocidente”, de Oswald Spengler, lembra um cartório abandonado e  coberto de poeira, onde se guarda, nas prateleiras apocalipticas, o certificado de óbito da comunidade europeia, o fim do novo e derradeiro  império romano, abatido e cansado, vítima de uma crise de identidade sem precedentes. 

  • Um Poeta que escrevia na língua de ninguém

    O Globo, em 02/02/2013

    Acaba de sair um livro oportuno sobre o romeno Ghérasim Luca, da autoria de Laura Erber, pela coleção Ciranda da Poesia, da EdUerj, dedicada à poesia contemporânea. Não merecem passar em brancas nuvens, o livro e o poeta, e não somente pela efeméride dos cem anos de seu nascimento — porque não lhe devem faltar outros no futuro —, mas pelo vigor de um laboratório verbal que ainda produz uma linguagem de combinações químicas em estado latente. 

  • Democracia e Diversidade

    O Globo, em 16/01/2013

    O Brasil é uma república teocrática e de cunho fundamentalista. Eis a conclusão a que chegaria um marciano, se sua leitura dependesse exclusivamente da tevê aberta no país, captada (digamos) nas terras baixas do planeta vermelho, onde trabalha hoje o robô Curiosity.

  • Esplendor e decadência da Grécia

    Folha de S. Paulo, em 04/01/2013

    Para provar que nada tenho contra os deuses gregos, aqui vai uma declaração de amor a todas as divindades, gregas ou não, pois nem só de grego vive um deus. Acontece que nem mesmo o meu piedoso amor salvou os deuses gregos de uma avacalhação generalizada, que pouco a pouco foi substituindo o temor e a poesia que envolviam tantas e tamanhas divindades.

  • Feliz ano novo

    O Globo, em 30/12/2012

    Como acho que já contei aqui, meu primeiro emprego, aos dezessete anos, foi em jornal, na época em que não havia escola de comunicação e a gente tinha de aprender no tapa, ouvindo esbregues dos superiores (ou seja, todo mundo na redação, porque o status do foca equivalia ao de um recruta dos Fuzileiros Navais) e imitando os veteranos que mais admirávamos ou invejávamos. Fui um repórter esforçado mas bisonho, e desconfio que, nos primeiros tempos, só não me demitiram porque eu falava inglês e quebrava o galho da cobertura local, entrevistando os gringos que se hospedavam no velho Hotel da Bahia, então o único de nível internacional em Salvador.

  • Poltrão e lírico

    Folha de S. Paulo (RJ), em 30/12/2012

    Não adianta consultar o dicionário, acho que ninguém sabe o que seja esta palavra que o finado Jânio Quadros ressuscitou em 1961, chamando aquele distante ano de "poltrão".