Bush bis, sem trégua
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 31/12/2004
É difícil se encontrar passagem de ano onde os jogos de uma realpolitik fechem de maneira tão clara o futuro lá fora. A ida de Rumsfeld a Bagdá, o aperto de mão, duro, os mesmos semblantes baços, os mesmos ritos, marcam a percussão do mesmo, transposto já ao simulacro. Repete-se o rito pelo secretário da Defesa, após o presidente, o ano passado, como se se baixasse à instância das rotinas, sem ilusões de mudança. Nenhum afrouxamento do petrecho militar no Oriente Médio. Nem alteração do projeto da redemocratização com maiorias sintéticas, por mais que somem os atentados, e se amplie o pessimismo das Nações Unidas quanto à legalização formal do regime, como relevante para a paz efetiva no Iraque. Claro, aí está, quase como mecanismo automático, o do gesto de congraçamento após o 20 de janeiro, que levará Bush a Bruxelas, e às alvíssaras de conversa com a outra ponta do Primeiro Mundo. A queda pertinaz do dólar está muito longe de apresentar, ainda, qualquer risco estrutural da boa entente econômico-financeira dos dois lados do Atlântico.