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Revista Brasileira nº.112 - 113 (2022. 296 pp.)

Essa publicação faz parte da coleção Revista Brasileira

Editorial

Rosiska Darcy de Oliveira

Que tempo cheio de História, este segundo semestre do ano de 2022! Celebramos, neste número, a emergência de vozes ancestrais que, ao longo dos séculos, geraram uma cultura original feita do encontro e mistura de uma gente de origens tão distantes para dar vida a quem somos nós, os brasileiros. Essas vozes, ainda que abafadas por séculos de abandono, escravidão, preconceito e discriminação, sempre estiveram presen- tes em quem somos, embora ainda tenham, hoje, que lutar para se fazer escutar. A Revista Brasileira dá a palavra a essas vozes que hão de ser, cada vez mais, influen- tes na nossa identidade.

Comemoramos o bicentenário da Independência, tema de alta complexidade, que suscita controvérsias: há, sim ou não, o que comemorar? Sobre que bases jurí- dicas foi proclamada a Independência? Em nome de que interesses políticos e econômicos? Onde e como se foi dando esse processo que culminou na ruptura dos laços com a Metrópole e deixou como herança muito do que hoje é o país?In- dependência que os historiadores, duzentos anos depois, ainda inter- pretam colocando um bemol no entu- siasmo. A História do Brasil pede um largo vitral de opiniões que permita uma visão mais clara de quem somos.

A fundação da Academia Brasileira de Letras, há 125 anos, fechando o século XIX, é também um marco que merece comemoração, já que ninguém conta melhor a verdade de um país que a sua literatura. Ao longo de sua história, a ABL, reunindo os grandes ficcionistas, historiadores, pensado- res e cientistas, guarda em seus anais e nas obras de acadêmicos e acadêmi- cas um formidável registro da História do Brasil, contada em forma de ficção, poesia, ensaio, ciência e arte.

Por 125 a nossa ABL foi palco de debates que, parecendo, ao primeiro exame, dedicados a assuntos internos, de fato refletiram tensões que estavam presentes na efervescência da sociedade. Foi assim com a crítica ao suposto con- servadorismo da Casa, que levou um jovem rebelde, de nome Jorge Amado, a fun- dar, com outros rapazes inquietos, em um centro espírita de Salvador, a Academia dos Rebeldes para opor-se à ABL. Anos mais tarde, ainda e sempre rebelde, ao tomar posse na Academia, o grande Jorge evocou com carinho, em seu discurso, essa insólita aventura.

Arrastou-se por oito décadas o debate sobre a não elegibilidade de mulheres, tão longo quanto a sobrevida dos preconceitos e tão anacrônico quanto a visão do mundo de que se inspiravam.

Mais duradoura ainda, persiste a interrogação sobre a exclusividade das Letras como fronteira da Academia. A ampliação do campo da literatura a outras formas de expressão como teatro, cinema, poesia cantada, televisão, dilui essa fronteira e complexifica a resposta.

A Revista Brasileira, comemorando a diversidade dos brasileiros, põe em cena essa pluralidade de vozes que, dissonantes, exprimem a riqueza de um país mul- ticultural que se vai fazendo mais e mais democrático. Comemorando a Inde- pendência, celebra nossa Nação como uma comunidade de destino que se faz à medida mesma em que se vai cumprindo.

Nos 125 anos da Academia Brasileira de Letras, a Revista presta tributo aos bra- sileiros, à Literatura e aos criadores em língua portuguesa que a ABL abriga, e à liberdade, o ar que respiramos. Esse tributo é o nosso fervoroso elogio à Demo- cracia, quando ela tanto precisa de nós.

Ficha da Obra

Ano: 
2022
Páginas: 
296
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