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Artigos

  • A poesia de Machado

    Tão forte se tornou a posição de Machado de Assis na ficção brasileira, em nossa contística, na crônica e mesmo na análise de nossa cultura em geral, que sua poesia foi sempre colocada em plano inferior e, por isto, muito pouco estudada ou mesmo lembrada. Contudo foi assim que ele apareceu quando o menino de 15 anos, com um soneto, chamado "À Ilma. Sra. D.J.P.A.", que num jornal sem importância, o "Periódico dos pobres".

  • Toda uma poesia

    A cada semana em que faço a escolha de um livro em geral novo a ser aqui analisado, deparo com uma quantidade de obras de poesia que superam em muito a produção em prosa. O mesmo acontece com o texto de hoje, em que avulta uma poesia de alto nível que vem colocar o poeta Reynaldo Valinho Alvarez na vanguarda mesma da poesia brasileira de hoje e de sempre.

  • Presença da santidade

    Sendo a ascese um exercício espiritual em que não só o lado contemplativo como também o místico permitem ligação maior de um ser humano com forças superiores a que podemos ter acesso, o simples fato de conhecermos pessoas dotadas dessa religiosidade nos prepara para o entendimento da santidade como coisa possível e existente. Pode a palavra "coisa" parecer indevida no caso, mas é que vejo a santidade como parte de outras "coisas" a que podemos ligar-nos ao longo de nossa caminhada pelos cantos do mundo.

  • A invenção da verdade

    A percepção e a análise do poema surgem como indicações indispensáveis para que a poesia acabe sendo uma invenção da verdade, ou a invenção de pequenas verdades que, por momentos, elevem o homem acima de sua contingência. Ao dar, já lá se vão quase 25 anos anos, o título de "A invenção da verdade" a um livro meu com ensaios sobre poesia, revelava minha convicção de que a poesia feita num país é o retrato mais seguro para avaliar esse país como digno de atenção e respeito. É o caso de se dizer que um povo que produziu uma "Invenção de Orfeu" pode ter certeza de que ultrapassou os limites da mediania e que o autor, Jorge de Lima, inovou o idioma falado por esse povo para dizer que ele existe.

  • Do poema como cântico

    Apesar de uma corrente poética haver defendido a presença de uma história, de um enredo mesmo, no poema, a preeminência da canção jamais deixou de predominar na poesia de qualquer tempo. A frase de Paul Éluard - "A poesia é a linguagem que canta" - serviu, no século XX, de lema para poetas de várias tendências, embora Ezra Pound haja condenado o cântico exageradamente usado na poesia, tendo mesmo achado muito "declamatório" o verso de Spenser "Sweet Thames, run softly till I end my song" - "Doce Tâmisa, flui manso até o fim de minha canção" - que é um trecho muito citado do poeta inglês.

  • Permanência de Clarice

    A literatura de Clarice Lispector pode ser tida como o grande exemplo da ficção simbolista no Brasil. A linhagem do gênero é larga e longa. Há mais de cem anos que o simbolismo narrativo, tal como o concebemos hoje, começou a se firmar no mundo. Escrevendo sobre Théophile Gautier, dizia Baudelaire que a nova ficção devia ligar-se à poesia, não tomando-lhe emprestado metro e rima, acrescentava, mas aproveitando-se de sua "concisa energia" de linguagem. Num estudo sobre simbolismo em geral,"The literary simbol", enumera Willian York Tindall os motivos pelos quais o romance superou a poesia no século XX.

  • Poesia, palavra feminina

    Desde pelo menos Cecília Meireles soubemos que a mulher brasileira atingira o mais alto domínio da palavra posta em poesia. E outros nomes a seguiram: Marly de Oliveira, no final dos anos 50 do século passado, estreou com sua poesia nova, de que o livro de 1961, "Explicação de Narciso", foi a mais clara evidência de que a poesia feminina passara a representar o próprio país. Em seguida, tivemos, como temos ainda, Stella Leonardos e Astrid Cabral, entre muitas outras.

  • A força da palavra

    Atingiu a crônica brasileira, desde Machado de Assis, tal nível de feitura e tal variedade estilística e vocabular que parece impossível aparecer entre nós um cronista novo. Pois apareceu. Chama-se Tácito Naves Sanglard e acaba de publicar um livro chamado "Palavra contida: (outras crônicas, algumas poesias)". Sua crônica tem marca pessoal, em nada se parece com os mestres do gênero entre nós, uma Clarice, um Paulo Mendes Campos, um Rubem, uma Elsie Lessa, um Drummond (que o foi também, e dos melhores).

  • Quixote para crianças

    Um dos mais importantes livros de todos os tempos - "Dom Quixote", de Cervantes - pode agora ser lido pelas crianças propriamente ditas e pelas crianças que somos todos. Reescreveu-o Arnaldo Niskier de tal maneira que leva a história de Miguel de Cervantes Saavedra a um prazer tanto de leitura como de releitura das aventuras do ilustre personagem que aparece na companhia de outros - Sancho Pança, Dulcinéia e toda a população da Espanha - em suas andanças por sua terra, no decorrer das quais encontra amigos e adversários e entra em luta, inclusive, com um moinho de vento, numa história que mostra as enormes diferenças entre uma pessoa e outra, mas que também revela que, bem lá no fundo , elas se parecem muito.

  • Inédito de Cecília Meireles

    Sob o signo de Cecília Meireles vivemos todos os que nos encantamos com a variedade espantosa da poesia neste País de poetas. No ano de seu centenário, 2001, o Rio de Janeiro, seu chão - hasteou a bandeira ceciliana em forma de conferências, seminários, selo comemorativo, leituras públicas de sua obra. Houve reedições de livros de poesia, como "Ou isto ou aquilo" e "Romanceiro da Inconfidência", que se isolam num altar à parte da nossa poética.

  • O dono da palavra

    Mais do que o dono da palavra, era o dono do som, no qual via uma força emotiva que valia por si mesma. Com isto, ganhou a língua portuguesa, nele, uma amplitude que nenhum outro poeta brasileiro atingiu, principalmente a de unir à sua poética um elenco de palavras que vinham revelar a enorme diversidade atingida pelo idioma que foi de Camões.

  • A história de um jornal

    Além de vinculado a permanente atividade como jornalista, desde 1945, interessei-me sempre em discutir técnicas jornalísticas e sua afinidade com a literatura. Daí, meu livro "Jornalismo e Literatura", lançado há mais de 50 anos e hoje adotado em muitas escolas do setor. A definição básica - de que "jornalismo é literatura sob pressão dupla: do espaço e do tempo", isto é, tem de ser feito para cobrir um espaço determinado no jornal e precisa ser feito para sair amanhã ou dentro de prazo previsível.

  • Poemas de amor

    Escrever sobre o amor é fácil. Escrever sobre o amor é difícil. Em geral, a linguagem do amor é o verso, ritmado, com ou sem rimas, o que a torna, ainda mais, difícil. Contudo, há milênios que o homem vem pegando, em momentos de amor, a palavra de cada dia para mostrar o que sente.

  • Kafka no chão da alma

    Entro com Zora no jardim do sanatório em que morreu Kafka. Estou em Kierling Klosterneuburg, a 50 quilômetros de Viena. Este não é jardim sofisticado, talvez nunca o tenha sido. É um lugar com plantas. Aqui passou Kafka os últimos 45 dias de sua vida.

  • Rosa em 1956

    No sábado, 8 de dezembro de 1956, dediquei meu artigo de crítica literária semanal ao livro "Grande sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, que fora lançado pela Editora José Olympio em setembro-outubro do mesmo ano. Recebi, na semana seguinte, telefonema de José Olympio abraçando-me: era a primeira análise do livro saída na imprensa.