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Quixote para crianças

 

Um dos mais importantes livros de todos os tempos - "Dom Quixote", de Cervantes - pode agora ser lido pelas crianças propriamente ditas e pelas crianças que somos todos. Reescreveu-o Arnaldo Niskier de tal maneira que leva a história de Miguel de Cervantes Saavedra a um prazer tanto de leitura como de releitura das aventuras do ilustre personagem que aparece na companhia de outros - Sancho Pança, Dulcinéia e toda a população da Espanha - em suas andanças por sua terra, no decorrer das quais encontra amigos e adversários e entra em luta, inclusive, com um moinho de vento, numa história que mostra as enormes diferenças entre uma pessoa e outra, mas que também revela que, bem lá no fundo , elas se parecem muito.


O estilo de Arnaldo Niskier se mostra de plena adequação aos incidentes, às aventuras e às personalidades de cada habitante da história, no estilo em tudo apropriado ao espírito do autor original que foi o próprio "Cavaleiro da Triste Figura", assim chamado por muitos analistas para equilibrá-lo com a alegria solta existente no livro.


Como sátira de um povo sonhador, a obra de Cervantes difere das de outros escritores de seu tempo. Tendo sido único na literatura de qualquer tempo e ficando como único na linguagem e no estilo que escolheu para mostrar o homem despido e imune a muitas características de auto-defesa.


Para muitos, criou ele o romance moderno, elevando a um nível novo a arte de contar histórias. Taí a força de sua obra. Há estatísticas, antigas e mais recentes, que mostram estar "Dom Quixote" entre os três livros mais lidos nos últimos séculos, tendo mesmo ocupado o primeiro lugar em muitas épocas e países.


Sendo um livro para todas as idades, muitos pedagogos são de opinião que ele pode ser considerado como leitura para jovens que podem, através dele, entrar em contato com um mundo alegre, capaz de aceitar ao mesmo tempo o sonho e a realidade.


Na Espanha, o "Quixote" é motivo de sucessivos concursos de redação, realizados em praticamente todos os colégios do país. É ele também dos poucos livros traduzidos para praticamente todos os países do mundo e publicado em edições, como a de agora no Brasil, especialmente para jovens.


Lembre-se que os três grandes escritores europeus dos séculos XVI e XVII - Camões (1524 - 1580), Cervantes (1547-1616) e Shakespeare (1564 - 1616), representaram, com perfeição, o temperamento de seus países: o espírito épico da conquista dos mares pelos portugueses, a mistura de sonho e sátira do espanhol e a busca ao mesmo tempo da tragédia e da comédia na arte inglesa. Pode-se também dizer que o gênero literário usado em cada um dos três representava a marca de um povo no escolher sua linguagem cultural.


Assim, a poesia em Camões, a narrativa em Cervantes e o teatro em Shakespeare faziam parte da preferência de cada um na escolha de uma forma literária capaz de atrair a atenção de um número ponderável de pessoas. Cada um acabou por representar o seu país e a contribuição dos três em mostrar à preeminência da Europa ao avanço do que, à falta de melhor palavra, chamamos de civilização.


A presença de Quixote na cultura de um jovem é essencial ao seu entendimento geral da história do homem. Para realçar a narrativa tão bem refeita por Arnaldo Niskier, nada melhor do que as ilustrações de Mario Mendonça, que não apenas retrata a história, mas interpreta-a na larga firmeza de seu traço. "Dom Quixote para crianças" sai sob a égide das Edições Consultor e da Fundação Biblioteca Nacional. É dedicado a Oscar Niemeyer, um dos raros gênios deste País.


Tribuna da Imprensa (RJ) 8/1/2008