Cheiro de livro
A discussão aconteceu no âmbito da Academia Brasileira de Letras, depois do recesso regulamentar. O tema era a memória. Um imortal lembrou que a murta, uma flor muito cheirosa, quando irradiava o seu perfume o levava a rememorar a sua infância, no interior fluminense. Dizia ele ter memória olfativa. Outro valorizou a memória auditiva. Músicas que, na sua adolescência, lembravam namoros depois rompidos. O seu gosto oscilava entre "Chão de Estrelas" e "New York, New York", prova do seu ecletismo.
A língua do futuro
Quem se der ao trabalho de levantar todos os termos da língua portuguesa, em sua versão culta, poderá chegar a cerca de 600 mil vocábulos. Só o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem perto de 400 mil verbetes. É uma das 10 línguas mais faladas do mundo, abrangendo povos que, somados, chegam a 240 milhões de falantes. É por essas e outras que existem movimentos de valorização do nosso idioma, como recentemente ocorreu com a defesa da latinidade, em que os próprios franceses se encontram firmemente empenhados. É uma forma, na verdade, de tentar uma reação ao predomínio inglês, graças à parafernália eletrônica de que é pródiga a inclusão digital, como se verá a seguir.
Artemídia e cultura digital
Acompanhamos a instalação Crepúsculo dos Ídolos, de Jarbas Jácome, com TVs ligadas num canal de TV aberta, uma câmera e um microfone. No Sesc Belenzinho(SP), os visitantes foram convidados a produzir algum som próximo ao microfone, provocando distorção das imagens das TVs, de acordo com a intensidade e o tempo de duração do som produzido: ao final, a própria imagem foi transmitida pela TV. Em dois meses, houve mais de 500 mil atendimentos.
Rachel desperta grande interesse
O cenário era o auditório da Casa do Marinheiro, no subúrbio da Penha, no Rio de Janeiro. A 4ª. Coordenadoria Regional de Educação (CRE), da Secretaria Municipal, reuniu 180 alunos e professores para ouvir uma exposição sobre o centenário da escritora Rachel de Queiroz, na Maratona Escolar que conta com o apoio institucional da Academia Brasileira de Letras. O apelo da Secretária Cláudia Costin, interessadíssima em valorizar o gosto pela leitura, fora plenamente atendido.
Educação e defesa do Estado
Durante os mais de 10 meses do Curso Superior de Guerra, que completei na ESG, em 1976, aprendi a respeitar, como estava no Manual Básico, o elenco dos Objetivos Nacionais Permanentes. Os meus colegas da Turma Almirante Álvaro Alberto foram testemunhas, no entanto, de que sempre defendi a tese de que o Poder Nacional poderia ser grandemente enriquecido se acrescentássemos aos ONPs uma palavra mágica: EDUCAÇÃO. Lembrei o fato ao dar a aula magna de 2011 da ESG.
Dificuldades em Paris
Há um clima extremamente favorável ao restabelecimento, em grande estilo, das relações culturais entre o Brasil e a França. Até a II Guerra Mundial vivíamos em permanente lua de mel, embalados pelos efeitos concretos da latinidade prestigiada e reconhecida. Depois, a nossa segunda língua estrangeira moderna tornou-se monotemática, com o avassalador predomínio da língua inglesa. O crescimento em nuvem da informática deu curso a essa troca, que se consolidou sem plebiscito.
Ronaldinho Gaúcho imortal
Foi um gol de letra do presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça. Convidou a diretoria do Flamengo para um almoço na Casa de Machado de Assis, com pelo menos três grandes atrações: o craque Ronaldinho Gaticho, o técnico Wanderley Luxemburgo e a presidente Patrícia Amorim. Para valorizar o evento, Vilaça comemorou os 110 anos de José Lins do Rego, escritor paraibano que era torcedor fanático do "Mengão", como pude observar nos tempos iniciais de jornalista esportivo. Era um consagrado romancista, com o seu clássico "O menino de engenho", mas escrevia com toda paixão a respeito do Flamengo e seus craques da época, entre os quais o inesquecível Zizinho. Aliás, não perdoou o grande atacante quando este se transferiu estranhamente para o Bangu. Zé Lins escreveu contra ele, desdizendo tudo o que, antes, era uma profunda e aparentemente definitiva admiração. Voltemos ao almoço na Casa de Machado de Assis.Ronaldinho foi perguntado por um repórter se agora era "carioca". Agradeceu delicadamente a gentileza e disse que seria "gaúcho" até morrer, mas estava amando o Rio e a receptividade do seu povo. Depois, outro repórter quis saber qual o último livro lido por ele. Ronaldinho ficou sem jeito, disse que não lembrava, mas que iria pedir conselhos aos imortais presentes. Aí, Vilaça mandou descolar um livro de Zé Lins sobre o Flamengo e deu de presente ao craque. "Assim você pode iniciar a sua vida de leitor, porque terá a necessária motivação."
Quem tem medo das antologias escolares?
Já foi tempo em que as antologias escolares faziam muito sucesso em nossas escolas de educação básica. Eram uma fonte segura de conhecimento dos principais autores da literatura brasileira, com resumos que, em muitos casos, estimulavam os alunos a se aprofundar na leitura de livros fundamentais.
Ana Maria Machado e João Ubaldo brilham na Sorbonne Nouvelle
Numa feliz iniciativa do Crepal (Centro de Pesquisas sobre Países Lusófonos), da Universidade Sorbonne Novelle, em Paris III, os escritores e acadêmicos AnaMaria Machado e João Ubaldo Ribeiro realizaram uma bem sucedida Matinée Literária naquela instituição.
Sem professor, só milagre
A ideia é nobre e merece aplausos: ministrar ensino técnico a 3,5 milhões de trabalhadores brasileiros até o ano de 2014. A presidente Dilma Rousseff, com o seu Pronatec, pretende oferecer 500 mil vagas para jovens só em 2011, com ênfase nos setores considerados os mais frágeis do ponto de vista da apropriação de recursos humanos: construção civil (com a ampliação do PAC), serviços (especialmente hotelaria e gastronomia, com as grandes competições internacionais que o país receberá nos próximos anos) e Tecnologia da informação.
Salão do livro de Paris: Leitores cada vez mais exigentes
Ao mesmo tempo que se realizava, em Paris, o 31º Salão de Livro, a revista Figaro publicava uma entrevista com o premiado escritor italiano Umberto Eco, em que ele afirmava que “subestimamos o nível de exigência dos nossos leitores.”
Bulingar ou não, eis a questão
Eu bulingo, tu bulingas, ele bulinga, nós bulingamos, vós bulingais, eles bulingam.
Por uma vida pior
A cada dia somos surpreendidos com incríveis inovações na educação brasileira. Tudo é tão estranho que parece uma armação para que continuemos a patinar nas piores classificações internacionais de qualidade do ensino.
Que educação queremos?
O que parece estar evidente, na sociedade brasileira, é o cansaço do atual modelo de educação. Em quantidade e qualidade não responde aos nossos anseios. Veja-se o caso do ensino superior. O sonho oficial, agora, é elevar o número de alunos para 10 milhões, em pouco tempo, e para isso o governo faz um curioso apelo à iniciativa privada, tão maltratada durante muitos anos.