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Ana Maria Machado e João Ubaldo brilham na Sorbonne Nouvelle

 

Numa feliz iniciativa do Crepal (Centro de Pesquisas sobre Países Lusófonos), da Universidade Sorbonne Novelle, em Paris III, os escritores e acadêmicos AnaMaria Machado e João Ubaldo Ribeiro realizaram uma bem sucedida Matinée Literária naquela instituição.

De saída, o que nos impressionou foi o auditório completamente lotado, com mais de 150 estudantes e  pesquisadores de diferentes nacionalidades(sobretudo brasileiros e portugueses). Não foi trabalho de mão única, pois as atraentes performances foram seguidas de debates com o público. Um sucesso completo!

Ana Maria Machado teve a sua obra “Tropical Sol da liberdade”, relativa ao período militar, analisada pelas especialistas Jacqueline Penjon e Cláudia Poncioni. Fizeram aprofundada análise do seu livro – e se referiram aoapreço da autora, em todos os momentos, pelo conceito e a prática da liberdade. Foi comparada com a importância de Monteiro Lobato.

A seguir, o acadêmico Didier Lamaison, membro correspondente da Academia Brasileira de Letras, dirigiu um autêntico jogral com 10 alunos, cada um deles lendo parte do texto selecionado,o que se transformou num espetáculo bastante agradável. Houve lembranças do período de obscurantismo no Brasil e a violência que acabou por vitimar o estudante Edson Luís(“O enterro do estudante”).

Ana Maria Machado, então, contou parte da sua experiência como jornalista e escritora: “Escreve-se por inspiração da memória, das nossas várias lembranças.” Mostrou que escrever para adultos ou crianças apresenta diferenças, por vezes sutis. Afirmou que todo bom escritor gosta de reler.  Demonstrou que o mercado infantil tem crescido muito, sobretudo a partir da década de 70.  E com qualidade.  Houve compras volumosas por parte do Governo. Citou entre os grandes escritores brasileiros de literatura infantil os nomes de Lígia Bojunga, Ziraldoe Ruth Rocha. Ela mesma é autora de livros que alcançaram o impressionante número de 19 milhões de exemplares. Criticou o pequeno contingente de bibliotecas públicas: “Temos que desenvolver o gosto pela leitura.”

Depois foi a vez de João Ubaldo Ribeiro, apresentado por Jacqueline Penjon e Rita Godet. Os alunos trabalharam sobre uma crônica de sua autoria, muito bem-humorada , ehouve muitos risos da plateia. O autor de “Viva o povo brasileiro” contou a influência do pai, desde Sergipe, para levá-lo ao gosto pela leitura: “Mas os livros, para mim, eram uma brincadeira como outra qualquer.” Afirmou que gosta  mais de ler do que escrever e que recebeu, na sua formação, forte influência de Monteiro Lobato: “Nunca aceitei a sua morte.”

João Ubaldo contou da sua intimidade com Gláuber Rocha (desde os tempos da Faculdade de Direito da Bahia) e do estímulo dele recebido para se tornar escritor. Elogiou também o reitor Edgard Santos pela efervescência cultural da Bahia e confessou aos presentes: “Quanto mais velho eu fico, mais me afeiçoo a Itaparica. Aquilo é muito rico!”

Ubaldo, sempre bem-humorado, afirmou que “sem Jorge Amado e Dorival Caymmia Bahia  seria outra”. Emocionou-se com a lembrança dos dois amigos falecidos.

Após as conferências/debate, muito aplaudidas, os dois acadêmicos brasileiros foram homenageados com um simpático almoço na Embaixada do Brasil, por iniciativa do Embaixador José Maurício Bustani.

Jornal do Commercio (RJ), 8/4/2011