Ao mesmo tempo que se realizava, em Paris, o 31º Salão de Livro, a revista Figaro publicava uma entrevista com o premiado escritor italiano Umberto Eco, em que ele afirmava que “subestimamos o nível de exigência dos nossos leitores.”
Pois essa exigência esteve presente na colorida Exposição de mais de 1.100 editores, livrarias e escritores, que conseguiu atrair ao Pavilhão de Versalles cerca de 180 mil visitantes e compradores, nos seus quatro dias de duração.
Os organizadores promoveram uma surpreendente homenagem à literatura de cinco países nórdicos (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia), além de celebrar Buenos Aires (presentes mais de 20 escritores argentinos) como a Capital Mundial do Livro, eleição esta feita pela Unesco e válida para o ano de 2011.
Uma visita ao Pavilhão, que lembra um pouco o nosso Riocentro, permitiu contato com uma literatura diversificada, reunindo romances, ensaios, mangá e livros em série, revelando a interessados do mundo inteiro as últimas tendências do mercado, incluindo os impressionantes livros eletrônicos e, no caso argentino, reviveu-se a memória de escritores desaparecidos sob a ditadura, com trabalhos especialmente dedicados à juventude. Para eles, “Buenos Aires é mais do que uma cidade, é uma inspiração.”
Pôde-se notar, no clima da festa, que os profissionais do livro queriam saber para onde caminha o mundo. Houve conferências em meio à exposição, sempre com grande comparecimento de público. A Editora Gallimard, num imenso estande, festejou seus primeiros 100 anos. As conversas giram desde os que não acreditam no futuro do Ipad, até a violência do tsunami recente no Japão.
Para nós, brasileiros, o triste registro de que não enviamos a Paris uma representação oficial de escritores. Como se fosse possível desconhecer que a língua portuguesa representa um mercado de 240 milhões de pessoas. É assim que se quer internacionalizar a força da nossa cultura?
Voltemos aos países nórdicos. Convidados de honra, os vikings do romance policial conquistam novos e importantes mercados. Stieg Larsson fez sucesso com a trilogia Millenium, já com mais de 50 milhões de exemplares vendidos. Outro sucesso faz a jovem Camilla Läcberg, com o seu “O menino alemão”. O norueguês Gunnar Staalesen criou com êxito o “heroi humanista” Varg Veum, um combatente anti-tóxicos.
Outro norueguês, Joe Nesbo, comemorava o sucesso de “O leopardo”, em que se abordam os delicados temas do ópio e do alcoolismo. São verdadeiramente produções de massa. Pode-se registrar na literatura nórdica a defesa total da igualdade de sexos e uma recorrente crítica aos neonazistas. São livros que vieram para ficar, como aconteceu com a poderosa linha de autores suecos de obras para crianças, hoje expostos com o mesmo vigor daquelas que são destinadas a jovens e adultos.
O ingresso para descortinar esse mundo fascinante era de 9 euros, com gratuidade para professores e jovens com menos de 18 anos. Os estudantes com menos de 26 anos também poderiam obter gratuidade, desde que fizessem uma pré-inscrição. Para os idosos (!) só um dia de gratuidade; Segunda-feira, entre 13 e 18h. Não é uma forma de discriminação? Achamos isso estranho.
O Dia (RJ), 6/5/2011