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Artigos

  • Sinal vermelho apagado

    NÃO HÁ SANTOS nesse episódio do confronto entre a Geórgia e a Rússia. O Cáucaso, onde se encontra a República da Geórgia, é uma colcha de retalhos de etnias, e suas altas montanhas sempre serviram de fronteira natural entre impérios rivais que convergiam naquele canto do mundo, como a Pérsia, os otomanos e a Rússia. Ali, o argumento da força sempre foi mais ouvido do que os apelos de paz, e a história eslava é uma sucessão de relatos sangrentos, como mostra Hélène Carrère d’Encausse no seu famoso livro sobre o sangue na história da Rússia.

  • Chimpanzés e o bóson

    O Superior Tribunal de Justiça julga um habeas corpus que tem como relator o ministro Herman Benjamin, a maior autoridade brasileira em direito ambiental, para conceder liberdade a Lili e Megh, dois chimpanzés que viajaram clandestinos do zoológico de São Paulo para o de Fortaleza, sem licença do Ibama. A discussão é se o direito de ir e vir deve ser só de humanos ou se estende a animais. Os impetrantes argumentam com o direito à vida e os bichos vivem. Há jurisprudência: o ministro Magri, nos anos 90, disse que "cachorro também é gente". Enfim, o abacaxi está nas boas mãos do ministro Herman.

  • As aves, menos cantos

    Estava preparado para entrar no assunto do dia, a crise financeira que fez os Estados Unidos voltarem a Lord Keynes e negar o neoliberalismo, com US$ 2 trilhões de dólares destinados a salvar bancos e corretoras, quando encontro a notícia, para mim, pior, que é o alerta da Sociedade Espanhola de Ornitologia de que os pássaros do mundo estão ameaçados e que cada vez menos cantos ouviremos – no Maranhão, diríamos gorjeios.

  • Vinte anos da Constituição de 1988

    A CONSTITUIÇÃO de 1988, cujos 20 anos de promulgação estamos fazendo memória, nasceu -fato pouco percebido pela sociedade brasileira- de amplo acordo político, o intitulado "compromisso com a nação". Esse pacto, talvez o mais importante de nossa história republicana, ensejou a eleição da chapa Tancredo Neves/José Sarney, por intermédio do Colégio Eleitoral, e tornou possível, de forma pacífica, a passagem do regime autoritário para o Estado democrático de Direito. Como toda obra humana, é evidente, uma constituição tem virtudes e imperfeições. As virtudes decorrem do contexto histórico em que são discutidas e votadas. No período 1987/ 1988, aspirava-se, antes de tudo, à restauração plena das liberdades e garantias individuais e à edificação de uma democracia sem adjetivos.

  • Sem olhos em Gaza

    A MINHA GERAÇÃO leu um escritor inglês, quase cego, que passou grande parte de sua vida nos Estados Unidos, onde realizou uma grande obra. Chamava-se Aldous Huxley. Hoje ninguém mais edita os grandes romancistas dos anos 30, que ficaram restritos às universidades e cursos de letras. Huxley escreveu um livro com o título ‘Sem Olhos em Gaza’, que nada tem a ver com Gaza. É um volume de mais de 600 páginas que, como tudo o que ele escrevia, tinha muito menos de trama novelesca e mais de dissertações humanistas. Não é o seu melhor livro, que todos reconhecem ser ‘Admirável Mundo Novo’, obrigatório nas nossas leituras.

  • Um papagaio de Nabuco

    A questão da raça negra ficou muito tempo fora dos temas nacionais. Poucos homens públicos dela tratavam. O interesse era mais histórico e científico. Afonso Arinos foi o novo Nabuco no despertar do que significava o sofrimento e a segregação a que estavam submetidos.A Lei Afonso Arinos trouxe o tema ao público. Tornou crime a discriminação racial e fez ver o negro como a população mais marginalizada do país. Juntei-me à sua visão e fui do grupo restrito que sempre achou ser a mancha da escravidão a pior de nossa história e que a Independência, como dizia José Bonifácio, não se completou porque não extinguimos a escravidão e não resolvemos a questão indígena, mantendo com esses a velha fórmula colonial do enfrentamento, responsável pela sua dizimação. Os escravos transformados em homens livres ficaram sem trabalho e sem destino, párias que se arrastaram por décadas, sendo até hoje entre os pobres os mais pobres.

  • O ponto G e o ponto zero

    Muitas teorias existem sobre o ponto G e a maior ambição de todos é encontrá-lo. É o máximo do máximo. Em economia, em tempos de crise, o ponto G é o ponto zero dos juros.

  • O amigo e o democrata

    BUENOS AIRES - Sou tomado nesse momento por um duplo sentimento de perda: a do amigo e a do homem de Estado. Raúl Alfonsín foi, sem dúvida, uma das maiores figuras humanas que conheci, e foi também o homem que abriu, com sua coragem, a integração latino-americana.

  • Raúl Alfonsín: o amigo e o democrata

    Sou tomado nesse momento por um duplo sentimento de perda: a do amigo e a do homem de Estado. Raúl Alfonsín foi, sem dúvida, uma das maiores figuras humanas que conheci. E foi também o homem que abriu, com sua coragem, a integração latino-americana. Tudo o que fizemos para inverter o processo histórico de hostilidade entre Brasil e Argentina, transformando-o num processo de integração, não teria sido possível sem Alfonsín.

  • Um bom furacão

    A Europa recebeu fascinada o presidente Obama. Era como se fosse uma espécie desaparecida que vinha da América redescoberta. Quase o mesmo sentimento com que em Rouen, em 1562, Carlos 9º recebia entre festas e curiosidades os desconhecidos habitantes do novo mundo. Entre os estragos que George W. Bush fez estava a desastrosa separação com os europeus, seus aliados e ancestrais, pelas divergências que alimentou com seu sentimento guerreiro e sua política de fechar caminhos.

  • Recuerdos de Cucaracha

    Salvaram-se em Trinidad e Tobago apenas os Estados Unidos e o Brasil. Ficou evidente a chegada do nosso país àquilo que no passado fora a profecia de muitos pensadores, entre os quais Joaquim Nabuco, primeiro embaixador do Brasil em Washington: nossa condição de potência continental, desempenhando a mesma posição no continente sul que os EUA na América do Norte.

  • Os porcos não perdoam

    RIO - Com Jared Diamond, aprendemos que a evolução da humanidade foi controlada e influenciada pelos germes. O homem criou condições para o desenvolvimento dos germes ao conviver com rebanhos e domesticar animais, e desde então eles atacam em ondas periódicas, destruindo e dizimando. Malthus, no seu prognóstico de que a população da Terra cresceria de maneira insustentável, previa que ela seria regulada pelo aniquilamento dos pobres (dizia com a dureza britânica) pelas guerras, fomes ou epidemias. Evidentemente essa profecia foi conjurada.

  • Águas e crise

    Tom Jobim nos encantou com as águas de março. O Nordeste e o Norte viveram e vivem o que não há na memória da região de tantas chuvas e tantas enchentes. Todos os povos guardam no imaginário do seu povo o tempo de uma grande enchente que engoliu a Terra. Os espanhóis ouviram dos astecas essa lembrança. Os nossos primeiros cronistas, Abbeville à frente, nos falam dessas águas como se fosse uma lenda indígena.

  • A pedra angular

    Conheci e fui amigo de Takeo Fukuda, que foi primeiro-ministro do Japão por muitos anos e fundador do Inter- Action Council, do qual faço parte. Muitas vezes estivemos juntos em reuniões em várias partes do mundo para discutir os problemas do presente e do futuro da humanidade. Em nenhuma delas Fukuda deixou de aproveitar toda e qualquer discussão para inserir a tese pela qual tinha verdadeira obsessão: o controle demográfico. Lembrei-me dele, de suas advertências, nesta crise mundial. Não crescer economicamente significa a eclosão de dificuldades e problemas que vão do desemprego à fome. Já no caso da população é o crescimento que nos dá a previsão de obstáculos insolúveis no futuro.

  • A crise e a testosterona

    Leio num jornal europeu que a crise econômica que varre o mundo, provocando a queda da atividade industrial, gerando desemprego e afetando todos os setores do cotidiano dos cidadãos, também está invadindo outras áreas, impensáveis num mundo que não fosse dominado pela sociedade da comunicação.