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Artigos

  • Monteiro Lobato

    Monteito Lobato foi um notável escritor.Seus livros, que primam pela imaginação e pela visceral ligação ao modo de ser brasileiro, fizeram a cabeça de muitos leitores, entre os quais  me incluo. Mas ele não estava imune aos estereótipos de seu tempo.Uma nota do Conselho Nacional de Educação (CNE) aponta referências consideradas desrespeitosas em relação aos negros, do livro Caçadas de Pedrinho (1993).

  • Literatura & medicina

    O próximo dia 20 assinala o centenário de falecimento de um grande escritor, o russo Leon Tolstói, autor de obras primas como Guerra e Paz e Anna Karenina, romances monumentais. Mas Tolstói também escreveu textos mais curtos, e entre eles está A Morte de Ivan Ilitch, por muitos críticos considerada a novela mais perfeita da literatura, uma história que deveria ser lida por todas as pessoas e, em especial, por médicos e estudantes de medicina (há uma excelente edição de bolso da nossa L&PM). Conta a história de Ivan Ilitch, membro do judiciário de São Petersburgo, uma história que, sabemos pelo título, terminará com a morte do protagonista. Mas isto não é importante. Importante é a vivência da enfermidade que, para o arrogante Ivan Ilitch, se constituirá num suplício pior que o da própria agonia. Gravemente doente, Ivan Ilitch consulta médicos que o atendem de forma distante e autoritária, a tal ponto que, numa das consultas, ele se sente como um réu diante do tribunal. Colegas e a própria família também o tratam de maneira indiferente, quase hostil. A única pessoa que o ampara é um empregado, um camponês semi-ignorante que, no entanto, se compadece do sofrimento do patrão e procura ajudá-lo. Ivan Ilitch descobre que sua vida foi despida de sentido, que suas relações com outros seres humanos eram superficiais. Somente um profundo conhecedor da alma humana como foi Tolstói seria capaz de, em poucas páginas, resumir de maneira tão fantástica o drama da existência diante do fim próximo. Particularmente importante é a questão da relação médico-paciente. Naquela época, a medicina ainda não tinha chegado à sofisticação tecnológica que hoje é a regra e que aos poucos vai deslocando os aspectos humanos da prática médica. Neste sentido, podemos dizer que Tolstói foi profético. E esta é mais uma razão para lê-lo. O dr. Carlos Alberto Feldens, do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da Ulbra, viu sua tese de doutorado sobre alimentação infantil e cáries ser agraciada com o Prêmio Capes para a melhor tese de doutorado em Saúde Coletiva/Saúde Pública/Epidemiologia do Brasil. E o dr. Mario Leyser, comentando o texto sobre a carência de pediatras no Brasil, diz: “O pediatra, na cabeça dos responsáveis, fica em plano secundário porque falar sobre as vantagens do leite materno, mamadeiras, vacinas, cuidados mínimos, alimentação adequada ou prevenção das doenças, isso não dá prestígio.” 

  • O sucesso da Fliporto

    Não faltou criatividade à Fliporto, realizada este ano na ensolarada cidade de Olinda (Pernambuco), aliás considerada, com muita propriedade, "uma Jerusalém dos trópicos", tamanha a sua luminosidade. Com vários espaços muito bem montados, pela organização dirigida pelo escritor Antônio Campos, o público pôde se deliciar, por " exemplo, com a "lídiche Shul", reprodução de uma escola judaica, onde eram contadas muitas histórias sobre a presença dos judeus no estado de Pernambuco. Desde o período holandês até os nossos dias. A escritora Clarice Lispector, que nasceu na Ucrânia, passou toda a sua adolescência em Recife, que amava _ como se lá tivesse " nascido. Estudou na Escola Israelita e jamais deixou de cultuar, sobretudo na sua apreciada obra, os valores nos quais foi formada. A apresentação de "O olhar judaico na obra de Clarice Lispector" arrancou aplausos da enorme platéia do "Espaço Literário", onde foram realizadas as sessões principais. Uma das maiores atrações da Fliporto, a nosso ver, foi o dramático depoimento da escritora austríaca Eva Schloss, sobrevivente de Auschwitz. Apresentada e inquirida por Geneton Moraes e o acadêmico Moacyr Scliar, ela recordou seus terríveis pesadelos: "Preferi colocar no livro "A história de Eva" tudo o que vi e sofri, sem jamais perder a minha fé original." Mas faz um alerta: "Apesar do Holocausto e da insanidade que o cercou, ainda existe antissemitismo na Europa. Por isso, dedico a minha vida ao trabalho de educar." 

  • A moda dos braceletes

    É um mistério saber a razão pela qual certas coisas de repente se tornam moda, propagam-se rapidamente, são adotadas por milhões de pessoas e subitamente somem. Onde andam os bambolês, numa certa época verdadeira coqueluche entre crianças e adolescentes?

  • O Brasil dos idosos

    No Império Romano, mostram-no as lápides funerárias da época, as pessoas (os ricos, bem entendido; para os pobres não havia túmulos) podiam esperar viver em média 30 anos. Dois milênios depois, a situação não tinha melhorado muito. Em 1900, a expectativa de vida na Europa era de 45 anos, e, no Brasil, menor ainda: 33,4 anos. Hoje, segundo os dados do IBGE, os brasileiros de ambos os sexos podem esperar viver 73,1 anos. Em termos de expectativa de vida, o Brasil ultrapassa China, Colômbia, Paraguai e Rússia, mas ainda está atrás de Argentina, México e Uruguai. Paralelamente, com a diminuição da natalidade (coisa que, segundo os catastrofistas, jamais ocorreria), há um aumento das camadas mais idosas da população. O Brasil está envelhecendo, como de resto o mundo todo, e isto acontece principalmente na Região Sul. Com uma expectativa de vida de 75,5 anos, o RS está em terceiro lugar no Brasil, atrás apenas do Distrito Federal e de Santa Catarina. As consequências práticas disso já se fazem sentir, por exemplo, na questão da aposentadoria, cujo cálculo certamente vai mudar. Mas temos de pensar também em como será a nossa vida neste novo cenário. Que aliás era previsível. Lembro aqui os trabalhos do pesquisador norte-americano Edward Fries; segundo ele, graças à medicina preventiva, as pessoas envelheceriam com mais saúde, sem doenças, e acabariam morrendo sadias, por assim dizer. A morbidade seria assim “empurrada” para fases cada vez mais tardias da existência. E isto de fato ocorre. Várias pesquisas mostram que a percentagem de idosos com limitações físicas vem diminuindo e pode diminuir mais, com um estilo de vida adequado. Uma palavra-chave para isto é exercício. De um lado, o exercício físico, cujos benefícios ficam a cada dia mais evidentes. De outro lado, o exercício mental, que serve para manter o nosso cérebro funcionando, através da leitura, de “desafios” como palavras cruzadas – e da computação: através do computador as pessoas aumentam seus contatos sociais, suas fontes de informação. Além disso, o trabalho hoje está grandemente informatizado, e os idosos devem pensar em continuar trabalhando, primeiro porque isso faz bem à pessoa, e depois porque é uma tendência já bem definida; nos Estados Unidos, o número de empregados com mais de 55 anos aumentará em 50% na próxima década, passando de 27 para 39 milhões de pessoas. E no Brasil estão surgindo muitas iniciativas neste sentido: em Curitiba, a prefeitura está treinando idosos para atuarem como agentes de trânsito, orientando pedestres e motoristas sobre sinalização e faixas de segurança. Em várias cidades, policiais aposentados que retornam à ativa são cada vez mais comuns. Um bom estímulo neste sentido seria a revisão da aposentadoria de quem permanece trabalhando. Não, não dá para parar. E se vocês querem um exemplo, peguem o do arquiteto Oscar Niemeyer, que no próximo dia 15 faz 103 anos. Ele continua ativo e se reinventa: em homenagem à data compôs um samba que diz: “Minha vida vai ser diferente: camisa listrada, sandália no pé/ andar na praia, vou fazer toda manhã./ Até moça bonita vai ter/ se Deus quiser”.

  • Resoluções: seja esperto

    Todo mundo entra no ano novo com o firme propósito de mudar de vida, principalmente no que se refere à saúde, e principalmente em relação ao estilo de vida, que, todos nós sabemos, têm muito a ver com saúde. Exercício físico, dieta, fumo, álcool: eis aí um quarteto clássico, objeto de muitas e fervorosas promessas.

  • Esporte & grana

    A queniana Alice Timbilili conquistou seu segundo título na corrida de São Silvestre, quebrando o recorde de velocidade. Já seu compatriota James Kwambai, vencedor em 2008 e em 2009, não chegou ao tricampeonato; quem venceu a prova foi o brasileiro Marilson Gomes dos Santos. O que não deixou de surpreender; a vitória de Kwambai era tida como certa, mesmo porque há oito décadas o Quênia é conhecido como um celeiro de maratonistas triunfantes.

  • A síndrome do ninho vazio – ou a glória dos múltiplos ninhos?

    Ano-Novo, vida nova, é um dito clássico. Que, contudo, raramente se traduz em mudança real. Na maioria das vezes, continuamos levando nossas vidas, mantendo nossas rotinas, postergando nossos projetos revolucionários. Mas toda regra tem exceção, e o Beto Scliar é disso um exemplo: ele começou 2011 no seu próprio apartamento, por ele muito bem instalado e decorado. Mais do que isso, e ao menos para seus orgulhosos pais e para a Ana, está se revelando um grande dono de casa. Ou seja, é um marco em sua bela trajetória pessoal e profissional.

  • Lixo e vida

    Um suicida foi salvo após se jogar do oitavo andar de seu apartamento e cair no lixo acumulado nas ruas de Nova York. Devido às nevascas, a coleta de lixo estava suspensa na cidade desde o Natal. O homem de 26 anos foi levado ao hospital. O estado dele era considerado crítico, mas estável. Mundo, 4 de janeiro de 2011

  • Cafezinho frio

    O provérbio faz parte da tradição política brasileira: no final do mandato ou da gestão, o cafezinho é servido frio. Uma constatação muito significativa. O cafezinho não é a mais importante das mordomias, mas é a mais constante.

  • Anorexia e Inteligência

    A notícia chegou com atraso e deu um toque melancólico à passagem do ano: morreu a modelo e atriz francesa Isabelle Caro que, numa foto famosa, mostrou seu corpo magérrimo (pesava menos de 30 quilos) devastado pela anorexia nervosa, da qual ela, como muitas outras garotas, foi vítima. Fez disso uma causa, inteiramente justificada quando se considera as pressões exercidas, sobretudo sobre modelos, para que tenham um corpo delgado. Isabelle defendeu essa causa com coragem e com inteligência.

  • Ai de ti, Copacabana?

    Quando eu era menino, havia um médico que se tornou conhecido em Porto Alegre não por causa de suas qualidades profissionais ou pessoais; não, a razão de sua fama era outra: homem rico, tinha um apartamento em Copacabana. Dele as pessoas diziam, com admiração, respeito e inveja: O doutor X tem um apartamento em Copacabana.

  • A mulher sem medo

    Cientistas americanos estudam o caso de uma mulher portadora de uma rara condição, em resultado da qual ela não tem medo de nada.Folha.com, 17 de dezembro de 2010

  • Moacyr Scliar

    Ao longo de muitos anos no ofício, raríssimas vezes comentei os livros lançados no mercado editorial. Não faz muito, abri uma exceção para Moacyr Scliar, escrevi sobre seu último romance, "Eu vos abraço, milhões". Partindo de um verso de Schiller na "Ode à alegria", o mesmo poema que Beethoven aproveitou para compor sua "Nona Sinfonia", ele contou a história de uma geração atraída pelas conquistas sociais do comunismo romântico que se espalhou pelo mundo após a revolução soviética de 19l7. A mesma geração que mais tarde de desencantou e se arrependeu de ter queimado o "Dom Casmurro" -um "romance burguês para burgueses". Uma geração que não  chegou a ser perdida, como o próprio Scliar nunca se perdeu em sua honesta e brilhante trajetória humana e intelectual.