Esquerda não tem chance
A oposição foi desfeita pelos acordos do Bolsonaro com o centrão, além de acordos individuais.
A oposição foi desfeita pelos acordos do Bolsonaro com o centrão, além de acordos individuais.
Sérgio Paulo Rouanet, embaixador, historiador e estudioso das ideias iluministas contou certo dia para um grupo de amigos a seguinte história: ao fim da Segunda Guerra Mundial soldados nazistas prenderam um garoto polonês, cruficicou-o e assassinou-o a rajadas de metralhadora.
Rodrigo Maia está deixando a presidência da Câmara do Deputados, aparentemente, com uma derrota fantástica.
Muito tem se falado ultimamente sobre a possibilidade (necessidade) de impeachment do presidente Bolsonaro, ou, na pior das hipóteses, em sua derrota na disputa pela reeleição no próximo ano.
Jeremias, o profeta, durante o reinado de Zedequias, foi puxado, com cordas, da cisterna, onde se achava, para o pátio.
A primeira vez que entrei na Câmara dos Deputados, no Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, em 1955, ainda como suplente — e sem conhecer a cidade, que tinha visitado poucas vezes —, fiquei deslumbrado, nos meus 25 anos.
Assim como a velhice pode ser considerada uma boa situação levando em conta a alternativa, que é a morte, também o presidente Bolsonaro ter vendido a alma ao Centrão pode ser uma boa alternativa para ele, diante da ameaça do impeachment.
A decisão do ministério da Saúde de não garantir a compra das 54 milhões de doses de Coronavac produzidas pelo Instituto Butantan não tem explicação, a não ser essa interminável guerra política entre o governo central e o governador de São Paulo João Dória.
Pela simbologia da vitória dos dois candidatos que apoia na Câmara e no Senado, Bolsonaro está dono da situação.
O fato de os gigantes tecnológicos poderem se tornar mais poderosos política e economicamente que estados soberanos preocupa governos de todos os matizes ideológicos, da China aos Estados Unidos, passando pela Rússia e a União Européia.
Nós, que não somos do primeiro mundo, estamos arriscados a ficarmos sem vacina.
Pouco antes de o procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitar ao STF — e conseguir — a abertura de inquérito para apurar a conduta de Eduardo Pazuello durante a crise da saúde no Amazonas, o próprio ministro da Saúde embarcava para Manaus para “ficar o tempo que for necessário”, sem previsão de “voo de volta”.
Na coluna de ontem, citei estudo da cientista política professora Kathryn Hochstetler, hoje na London School of Economics (LSE), que aponta três razões para um presidente não terminar seu mandato na América do Sul: ausência de uma maioria parlamentar de apoio ao presidente, mobilização popular e envolvimento pessoal do chefe de governo com escândalos de corrupção.
Para que o impeachment de um presidente ganhe condições políticas para ser desencadeado, é preciso o povo nas ruas, como vários de nossos líderes têm apontado.