Maio de 68 continua
Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 30/11/2005
A Queda da Bastilha fez da França a matriz do próprio conceito moderno de revolução e da ruptura das instituições, nascidas de uma consciência profunda da perda da sua legitimidade. A guilhotina de Luiz XVI marcava a virada de página dos absolutismos esclarecidos do começo do Estado-nação de nosso tempo. Paris, de novo, foi protagonista de Maio de 1968, a que, agora, quer se associar, com o mesmo chicote inesperado da insurreição, a força dos incêndios repetidos, que passaram da subúrbia parisiense a ameaçar mais de uma centena de cidades francesas. A sucessão de queimas de automóveis, num braseiro sistemático, sem líderes nem palavras de ordem, até onde indica um desses movimentos de um inconsciente social, tectônico, sublevado? Não estamos mais diante de uma intelligentsia vigilantíssima que levou ao século da enciclopédia, à instituição do ideal político da liberdade, igualdade e fraternidade.