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Um romance brasileiro
A condenação do ex-presidente Lula a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro é um capítulo — não o último — de um romance assombroso e tristíssimo
A condenação do ex-presidente Lula a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro é um capítulo — não o último — de um romance assombroso e tristíssimo
Temer corre o risco de ser recordado não pelo que gostaria, mas por ter sido o primeiro presidente brasileiro denunciado ao STF por corrupção passiva no exercício de mandato.
Para quem, como eu, acompanhou a trajetória de Lula desde o começo, votando nele quase sempre, é difícil escrever este artigo. Mais pela emoção do que pela razão, não consigo comemorar sua condenação. Meu sentimento é de pena e decepção, não de júbilo, como deve ser o de milhões que o rejeitam. Mas também me recuso a embarcar nessa onda paranoica de que o juiz Sérgio Moro veio ao mundo para perseguir o líder petista. Ao contrário, ele disse que tinha elementos para decretar a prisão, mas não o fez por se sentir “intimidado” pelos possíveis “traumas” que ela envolveria.
O que se viu ontem no plenário do Senado remete a cenas a que estamos assistindo diariamente na Venezuela, com o Congresso sendo invadido por vândalos, e parlamentares submetidos a pressões ilegais por representantes de corporações que cuidam de seus interesses sem atentar para os do país.
É um país com 14 milhões de desempregados, enfrentando a recessão e crise fiscal que tem obrigado a cortes em programas de proteção como o Bolsa Família.
Lembro-me bem, na década de 1950, de quando defendia ardentemente a gratuidade da universidade pública. Era dirigente estudantil na então Universidade do Distrito Federal e não se admitia pensamento divergente.
Quando a UDF foi transformada em Universidade do Estado da Guanabara e depois em Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o que causava espécie aos seus professores era o número de automóveis que lotavam o estacionamento do campus do Maracanã. A garotada não podia pagar mensalidades, mas tinha condições de adquirir veículos, nem sempre muito baratos.
Até agora, o governo já substituiu nove deputados para tentar derrubar a denúncia contra Michel Temer. Com as alterações, é provável que o resultado seja revertido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas de qualquer maneira é uma confissão de fragilidade do Governo. Mudando os membros da Comissão até a última hora, demonstra o receio de perder.
Minha mãe era uma mulher dulcíssima, porém obstinada na educação dos filhos. Fez menção de me sapecar um corretivo.
Assim como não houve golpe no impedimento da então presidente Dilma e sua substituição pelo vice-presidente Michel Temer, também não haverá “o golpe no golpe” se o presidente da Câmara Rodrigo Maia acabar assumindo a presidência da República com o afastamento de Temer, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) o julga por corrupção passiva, a pedido do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot.
Muita gente não sabe que a literatura começou com as fábulas. O próprio Cristo usou e até abusou ao transmitir seus ensinamentos por meio de parábolas, que, no fundo, são fábulas com ensinamentos ou advertências morais.
Nem a sanha de incluir todo dia novas acusações deve impedir que outra versão traga mais luzes.
A gente sabe que a situação não está boa quando as metáforas mais usadas se referem a situações terminais, como a morte. Foi assim com o relator do processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Herman Benjamim, que, ao constatar que a chapa Dilma/Temer seria absolvida “por excesso de provas”, saiu-se com a frase já famosa: “Recuso o papel de coveiro de prova viva. Posso até participar do velório, mas não carrego o caixão”.
Trans é a pessoa que veio ao mundo com características físicas masculinas, mas se sente mulher. Ou vice-versa. Condição normal, que reivindica respeito e inclusão.
Pode ter sido uma decisão “de caráter exclusivamente operacional” a desmobilização da força-tarefa da Polícia Federal, incorporada pela Superintendência da PF no Paraná, mas não é possível aceitá-la sem um mínimo de desconfiança.
A defesa do presidente Michel Temer no processo que será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é mais jurídica do que política, e essa pode ser sua maior falha, no sentido de que, para desvencilhar-se da já famosa mala com R$ 500 mil que seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures arrastou apressado pelas ruas de São Paulo, o advogado Antonio Claudio Mariz garante que o presidente Temer nunca autorizou Loures a fazer “tratativas espúrias” em seu nome.