
Na trilha de Herodes
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.
Acho que todos os brasileiros estamos sentindo uma espécie de complexo de Herodes; co-responsáveis nesse morticínio espantoso de recém-nascidos do qual diariamente jornais, radio e TV dão notícia.
Nos áureos tempos do cinema-novo, havia perplexidade entre as cultas gentes ligadas ao setor. Os mestres da câmara na mão e uma idéia na cabeça olimpicamente não entendiam como suas obras não alcançavam o grande público, que continuava preferindo filmes dos Trapalhões e Mazzaroppi.
Quarenta anos depois da morte de William Faulkner, anuncia-se no Brasil a publicação de um de seus primeiros escritos: uma série de 17 contos, de 1925, só recuperados em 1957, quanto Faulkner já conquistara o Prêmio Nobel de Literatura (atribuído em 1949 e recebido em 1950). Foram esses contos traduzidos agora no Brasil, com edição marcada para breve. Título original: "New Orleans Sketches", tradutor: Leonardo Fróes, edição da Jusé Olympio Editora.
Uma das coisas que me distraem, durante as campanhas eleitorais, é tomar conhecimento pelos jornais e TVs das comidas, petiscos e acepipes vários que os candidatos são obrigados a ingerir, metade por cortesia, metade por cálculo.
Sou leitora contumaz da seção de cartas de leitores dirigidas aos jornais. E tenho visto com freqüenta cartas de pessoas que voltam a defender a pena de morte. Isso me assusta, embora compreenda a revolta de muitos contra o atual estado de coisas: violência e morte em grau jamais alcançado entre nós.
Quem residiu no interior, conhece perfeitamente o diapasão cotidiano das conversas nas esquinas, nos bares e nos clubes, à noite. São sempre sobre política, sobre candidaturas, sobre este ou aquele candidato, se merece ou não o voto e, também, para ficar dentro da regra, falar mal da vida alheia, ainda que não seja nada ofensivo. Enfim, o interior do País, e os bairros populares, onde muitos se conhecem, as conversas não são diferentes.
Não é mais possível que se entenda e avalie a realidade da escravidão africana no mundo e no Brasil sem o extraordinário levantamento feito por Alberto da Costa e Silva no seu livro de mais de mil páginas, "A manilha e o libambo: a África e a escravidão, de 1500 a 1700". Antes havia ele estudado, em "A enxada e a lança", a mesma África no período que foi até a chegada dos portugueses ao continente negro.
Mal saído de uma gripe que colocou em risco minha condição de imortal da ABL, peguei um entupimento da trompa de Eustáquio que me causou vexames. Eu pensava que esta tal trompa desse tal Eustáquio fosse alguma coisa ligada ao aparelho genital feminino, daí minha surpresa quando o otorrino me garantiu que eu tinha uma, aliás duas, uma em cada ouvido.
Alguns de vocês (a maioria, meu Deus do céu?) é capaz de não suportar jornalistas e, portanto, achar merecido o que passamos, em horas, por exemplo, como estas que atravesso, tendo de já ter escrito sobre uma final de copa sem ter visto nem um lancezinho. E em que circunstâncias, meu caro senhor? Nas mesmas efetivadas no dia do jogo com a Inglaterra, na hora em que alguém inventou que só ganharíamos o jogo se o assistíssemos no boteco, com o resultado de que o boteco ficou entupido de gente exaltadíssima para ver o jogo já por volta das oito horas - e vocês podem muito bem imaginar o que aconteceu devido a isso, eis que diversos companheiros tiveram que ser reconduzidos às suas residências bem antes de o jogo começar.
Mais uma vez, os defensores do Governo na mídia e fora dela estão se esbofando para deletar a suspeita que ronda há tempos a vida nacional: a Polícia Federal está a serviço da nação ou do esquema interessado na eleição de Serra?
Tornou-se comum a crítica à qualidade da educação. Não sem uma certa razão. Entretanto, não é necessária nenhuma percepção especial para concluir que o ensino médio brasileiro passa por um processo de explosão quantitativa. É possível estimar para os próximos três anos a meta de 10 milhões de alunos. Como o ensino superior está longe de acompanhar esse crescimento, também não é difícil supor que haverá uma imensa crise na sociedade brasileira, pela ausência de oportunidades de formação e emprego.
Um estranho que observasse, do lado de fora, o planeta Terra, diria talvez que a sua história, monotonamente, sempre se caracterizou pela luta dos oprimidos contra o opressor e a tentativa de revanche dos dominadores contra os rebelados. Desde a rebelião dos Anjos contra o Senhor, passando pela desobediência de Adão e Eva, chegando até os séculos 19, 20 e 21 (que já está se revelando ser um dos mais ferrenhos).
Antigamente até que se achava bonita a palavra megalópole e todas as suas implicações. Hoje é o grande vilão do mundo moderno. O que foi a Londres imperial, a gigantesca Nova York, poderosa expressão de uma grandeza emergente, tornou-se agora sinônimo de conflito e retrocesso. As megalópoles - tais como as cidades do México, São Paulo, Pequim, Calcutá, são sintomas, não de força e riqueza de um país, mas de miséria e injustiça social. Pois que todas essas grandes metrópoles, passando algumas dos doze milhões de habitantes ou chegando perigosamente aos vinte milhões, representam uma maioria que é vítima da miséria torçal, do desemprego, do subemprego e mais gradações da extrema pobreza.
Pode não parecer, mas a vida do jornalista é muito dura. Não me refiro a casos como o do Tim Lopes, que, como tudo mais o que de criminoso se faz no Brasil, nunca vai ser satisfatoriamente apurado. Lá se foi mais um herói, movido por vocação e ideal, porque por fama e por dinheiro ele não era. Jornalistas como ele morrem aos montes, em toda parte do mundo, vítimas de quem quer que contrarie interesses poderosos. Acontece aqui, acontece no Oriente e até no chamado Primeiro Mundo, só que com métodos mais sofisticados, como carros-bombas e semelhantes. Ninguém liga, como ninguém praticamente ligou à passeata em memória do Tim Lopes, um bando de gatos-pingados passeando comoventemente pela orla do Leblon. E nisso mesmo vai ficar, posso apostar.
Escrevi, mais de uma vez, que o Brasil está no mesmo mundo de todos os demais países em crise, mas tem resistido, e continuará resistindo, de sorte a não jogar seu povo numa crise terrível como a que devasta a Argentina. Tenho escrito, também, sobre a Argentina, país que admiro sem conhecer, um dos poucos, deste mundo. Mas também a Argentina se safará de sua crise atual e voltará a ser a grande nação da América que já foi, podendo ser um sustentáculo da Alca, a ser criada.