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Artigos

 
  • Um obstinado e discreto gênio da literatura

    O Globo (Rio de Janeiro), em 17/12/2005

    Costuma-se dizer que o desinteresse relativo à vida de Machado de Assis (1839-1908) é simetricamente proporcional ao interesse gerado por sua obra: enquanto a produção literária de Machado não cessa de ser mais e mais valorizada, sua biografia estamparia apenas o morno transcurso de um exemplar funcionário público, de um esposo fiel e devotado à dona Carolina, de um ser algo distante das questões políticas, e, juntando-se as duas pontas da existência, de alguém que, vencendo barreiras da origem étnica e de uma frágil constituição física, alçou-se ao posto de nosso escritor máximo, tornando-se também o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.

  • Penicos e escarradeiras

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/12/2005

    Ignorante em economia, leigo em mercado e negócios, nunca entendi por que uma lata de sardinhas da mesma marca e tamanho custa tanto em determinada loja e custa menos ou mais em outra. Já me explicaram. Ou não entendi ou esqueci.

  • O preço da cabeça de Dirceu

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 16/12/2005

    Nenhuma arruaça ou estrépito se seguiu ao placar contundente da derrubada de José Dirceu na Câmara. Embotaram-se até, gestos ou comentários, diante de um vazio que não some pela mera retomada das rotinas da casa, quando os ritos se cumprem, por demais, para aspirar-se a qualquer mudança. Pretendeu-se dar conta da crise, por uma lógica primária de compensação política. Mas a cassação aponta a um crescente desconforto-cidadão, que talvez seja o primeiro saldo de um amadurecimento político face aos golpismos moralistas, da tradição do País, reptado pelas eleições de 2002.

  • Um terremoto que não valeu

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/12/2005

    O ano político já foi. No balanço, pesam mais as denúncias e revelações do que os resultados concretos. Ainda estamos no terreno de conclusões e ambigüidades. Sob pressão da sociedade, foram entregues duas cabeças aos tigres.

  • Ilha Grande - verde e barroca

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 16/12/2005

    Como na Roma de antigamente, na baía de Angra dos Reis (365 ilhas, uma para cada dia do ano), todos os caminhos levam à Ilha Grande. Principalmente por mar. Para as naus de Gonçalo Coelho que ali chegavam, ela se destacava não apenas pelo tamanho, mas pela altura e pela vegetação que estreitava o horizonte à medida que as caravelas com a cruz de Malta dela se aproximavam.

  • Aumento do léxico

    Diário do Comércio (São Paulo), em 16/12/2005

    Os descaminhos da política, como ciência do governo da nação pelo Estado, estão oferecendo para os lexicógrafos material de valor menor, mas sempre valioso, na composição dos dicionários. Até há pouco tempo, antes da crise fenomenal que se abateu sobre o Brasil, poucos brasileiros tinham ouvido falar de valerioduto, mensalão, mensalinho, ética que a maioria não sabe definir, e outras palavras que serão incluídas nos léxicos dos futuros estudantes e escribas em geral.

  • Caixa 2 do bem

    O Globo (Rio de Janeiro), em 15/12/2005

    A ida de Eduardo Azeredo à tribuna do Senado para renunciar à presidência do PSDB empatou o jogo da escalada das cassações. Aí está o jorro, democraticíssimo, do valerioduto, comprometendo todos os partidos no caixa 2, na prática universal da corrupção sistêmica, entre tucanos impolutos e petistas acima de qualquer suspeita. E aí está, pois, a proposta do líder Artur Virgílio, de levar-se adiante, como compete ao patriciado político do Brasil, a boa lógica dos “mais iguais”, a partir do país-bem. Vamos à lavagem da corrupção do bem - a que só pestifera o trigo e não o joio, e levemo-la à condescendência, senão ao perdão radical pelo Congresso, já hoje preso, sem retorno, à concupiscência dos acordões. Ingenuidade de Azeredo ou deslumbramento de Delúbio?

  • Mandatos elásticos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/12/2005

    José Serra, um dos presidenciáveis do PSDB, manifestou-se contra a reeleição e a favor do mandato de cinco anos. Espantoso como o interesse pessoal muda a cabeça dos políticos. Na Constituição de 88, foram fixados quatro anos para os períodos presidenciais.

  • O populismo está vivo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 15/12/2005

    Passando os olhos pelas estantes da minha biblioteca, fixei-me por alguns segundos nos 40 volumes escritos e subscritos pelo grafômano revolucionário Lenine e me veio a lembrança que o populismo é a doença inflável da democracia. Ao contrário do que diziam Aristóteles e Santo Tomás, para quem a doença da democracia era a demagogia.

  • Jorge Amado, um grande romancista

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 14/12/2005

    Desde o berço, o sobrenome de Jorge Amado emitiu sinais de que viria a ser amado pelo seu povo. Aquele homem, que tinha a cara de árabe, mas de jeito baiano, estava destinado a criar uma obra que deitaria raízes no imaginário da sua gente.

  • A crise depois de Dirceu

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 14/12/2005

    Todos os processos de cassação, exceto o de Rômulo Queiroz, passam ao ano que vem. Sem mais, pois que não há ânimo no Legislativo para as convocações extraordinárias. Não se vai à luta, pois, no romper do ano, mas tão-só - e se Deus quiser - depois do Carnaval, que ninguém é de ferro e o país precisa manter-se fiel à boa memória curta. Morre a crise de morte morrida, ou seja, a do cansaço mesmo, e do desfecho das duas cassações-símbolo, ou torna-se inútil diante dos jogos feitos implicitamente para o ano eleitoral e das apostas para chegar às urnas?

  • Golpe e contragolpe

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 14/12/2005

    Não é hábito comemorar ou lembrar datas que não sejam redondas, quando então todos falam de um mesmo assunto e mais ou menos com as mesmas palavras. Acontece que ontem o AI-5 fez, se minha aritmética estiver correta, 37 anos. Se vivo fosse, estaria entrando na idade da razão.

  • Luxo e capitalismo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 14/12/2005

    Quem tratou bem do luxo como força propulsora do capitalismo econômico foi o grande historiador alemão Werner Sombart, na sua monumental obra sobre o capitalismo moderno. Quem vai às páginas da história apurar como o historiador demonstrou a influência do luxo no capitalismo, encontra resposta na realidade dessa implicação.

  • A liberdade e a mudança

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 13/12/2005

    Em cenas descritas e com tons de extrema verdade dramática, a romancista Wanda Fabian, em seus quase 20 livros publicados, exibe o ser humano a nu, vibrante e inquieto na pureza de suas duas condições inarredáveis: a da liberdade e a da mudança.

  • Luiz Alberto Bahia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 13/12/2005

    Com algum atraso, escrevo hoje sobre Luiz Alberto Bahia, falecido nos primeiros dias deste mês. Foi um tipo raro de jornalista, antes de mais nada pela formação humanística, que nele se sobrepunha aos macetes técnicos que fazem parte do equipamento básico de um bom comunicador. Conhecia os segredos e truques da profissão, foi um dos mais notáveis chefes de Redação de um grande e histórico jornal.