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Artigos

  • Assim falou Vidigal

    Numa sala imensa, confortável, Brasília com 20 graus de temperatura, portanto fria, sou recebido calorosamente pelo ministro Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça. "Deixei milhares de processos, todos urgentes, para conversar um pouco sobre jornalismo e literatura com o amigo." Agradeço a deferência e estico a mão, para entregar ao grande jurista e professor a última edição do meu livro "O padre Antonio Vieira e os judeus".Os olhos do presidente se iluminam. "Como todo bom maranhense, adoro o padre Vieira... E o tema não poderia ser mais oportuno. Quero conhecer detalhes dessa obra, pois tenho ascendência judaica." O papo aquece e depois deriva para a experiência de magistério de cada um de nós. O ministro é professor de Direito Penal em Brasília e em São Paulo. Mas fala mesmo com orgulho de um dos seus feitos no STJ: "Combinei com a Universidade de Brasília, onde leciono, que se deveria estender aos nossos estagiários, no Tribunal, as cotas para afro-descendentes. É uma preocupação que justifico como amplamente democrática."

  • Apocalipse pedagógico

    O atual estágio da educação brasileira, com 60 milhões de alunos, analisado no 7º Fórum Nacional das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), mostrou que estamos ainda com graves deficiências.

  • O tema de todos os temas

    Não há dúvida de que a TV Digital, começando a funcionar no próximo ano, representará um enorme ganho tecnológico. As imagens dos aparelhos de TV serão muito mais perfeitas, com o fim dos detestáveis chuviscos e outras imperfeições do envelhecido sistema analógico.

  • Quando falha a memória

    Outro dia, homenageou-se no Rio a memória do grande pensador San Tiago Dantas. Eram 40 anos da sua morte. Dele pode-se recordar uma frase lapidar: "O pré-requisito básico da cultura é a memória."

  • Os livros devem ser mais barato'

    Sabemos que se lê pouco em nosso País. Menos de dois livros por habitante. Não se diga que a causa está no alto índice de analfabetos. Não é mais assim. Temos 16 milhões de analfabetos, número decrescente, embora seja altamente expressiva a quantidade de semi-alfabetizados.Entre as causas objetivas, podemos citar o alto preço dos livros. São caros, de modo geral. Outro fato é a ausência do gosto pela leitura desde cedo. Quando isso ocorre na idade adulta é tudo mais difícil. O fenômeno é o mesmo que acontece quando deixamos para aprender uma língua estrangeira moderna (francês, inglês ou espanhol) depois dos 18 anos. As inibições tornam a operação bem mais complicada.

  • Empregabilidade 2

    A palavra empregabilidade chegou a ser contestada por Jô Soares. Ela hoje faz parte da linguagem popular e ninguém duvida que logo estará pelo menos no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.

  • Lembranças de José Veríssimo

    A primeira lembrança de José Veríssimo vem à minha memória a partir de uma visita feita à Oficina Literária Afrânio Coutinho (Olac), no Leblon. Discutimos o futuro da educação brasileira e o grande crítico literário me aconselhou a ler o que pensava o autor paraense, nascido em Óbidos, em 1857. Havia idéias que, já naquela época, se adotadas continham uma nítida característica de modernidade. O nosso grande Afrânio subiu as escadas da sua biblioteca e trouxe lá do alto um volume fininho, mas denso, que me deu carinhosamente de presente. Jamais me afastei dele. Era sobre a educação brasileira.

  • Um malandro especial

    Na linguagem popular, registrada pelos nossos melhores dicionários, como o Aurélio, o Antenor Nascentes e o Koogan-Houaiss, malandro é um indivíduo que não trabalha, vive de expedientes, que pode ser também vadio, matreiro, finório. A despeito disso tudo, aprendemos a respeitar a figura de Moreira da Silva, sucesso como cantor e homem de rádio há tantos anos.Sempre que se apresentava, era lembrada sua condição de malandro, o que aliás, contrariava o trabalho que fazia, na defesa da música popular brasileira. Ele foi, indiscutivelmente, um dos grandes nomes da MPB, mas ficou com a fama com que era tratado. A malandrice fazia parte de sua personalidade.

  • Língua sem extremismos

    É preciso cuidado no trato da língua portuguesa. Aprendi isso com um mestre acima de qualquer suspeita: Antônio Houaiss. Quando ele preparava os verbetes do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, dirigindo uma equipe altamente competente, sempre chamou nossa atenção para a diferença entre Vocabulário e Dicionário. Aquele pode conter palavras efêmeras, até de outras línguas, desde que sugestivas de uma época vivida. Podem ser retiradas no futuro. Este, que lida com o significado dos verbetes, tem um número menor de palavras e há um cuidado todo especial na sua adoção, pois em geral não saem mais do dicionário. Podem ficar para sempre, às vezes transformadas em arcaísmos.

  • Internet e língua portuguesa

    A Comemoração dos nossos primeiros 500 anos encontra a língua portuguesa diante do que talvez seja o seu maior desafio: a globalização. Explico: cada vez que a Internet se populariza um pouco mais, com os seus milhões de endereços eletrônicos, há uma tendência por ora incontornável de supremacia da língua inglesa. Como se ela representasse, hoje, o esperanto antes sonhado por Zamenhoff.

  • Palavras sem fronteiras

    Sérgio Correa da Costa, da Academia Brasileira de Letras, é não apenas um grande diplomata brasileiro, mas ensaísta e historiador de grandes méritos. O seu livro "Palavras sem fronteiras", primeiro lançado com muito sucesso na França, chegou ao mercado brasileiro, destinando-se a uma bonita carreira. Resultado de uma pesquisa pioneira de dois anos, pode ser apreciado pelo que tem de utilidade e também de surpresas que fazem parte do seu conteúdo. Uma delas é o predomínio do francês sobre o inglês, nas palavras comuns a dois dos idiomas mais falados no mundo; a outra é a colocação do latim em terceiro lugar, sem contar as expressões próprias do direito. É assim que surge a expressão habeas corpus e até o habeas data, hoje na Constituição brasileira.

  • Uma família

    A contribuição da presença, no Brasil, de imigrantes da Rússia, da Polônia e outras regiões da Europa de população predominantemente judaica, foi de tal maneira que nos é possível hoje termos toda uma bibliografia sobre eles e seus descendentes em vários setores da vida brasileira. São brasileiros como Clarice Lispector, como os Bloch (Adolpho e Pedro), como os Niskier (Arnaldo, Odilon e Celso), como os Scliar (Moacyr e Carlos), como os Sauer e como tantos outros que nos ajudaram a criar o Brasil de hoje.

  • A batalha do bom senso

    Há uma generalizada reclamação, no Brasil, de que as nossas crianças estão chegando à quarta série do ensino fundamental sem os adequados conhecimentos das propriedades de ler, escrever, contar e raciocinar com autonomia. Isso traz reflexos em toda a carreira da aprendizagem. Gostaria de defender uma tese: é possível que isso seja decorrência dos processos adotados de alfabetização em nossas escolas, especialmente as públicas. Há 25 anos que a criatividade tropical inventou o "método Piaget", batizado de construtivismo, quando na origem o autor suíço produziu uma teoria - e não um método.Repetidas vezes temos denunciado o fato, com variada repercussão. Ora recebemos aplausos, ora somos criticados, como aconteceu, na Baixada fluminense, quando a maioria das professoras presentes a uma conferência quase se revoltou contra as nossas idéias. "Que coragem de criticar Piaget" repetiram as simpáticas mestras, quando não era esse o caso. Piaget deve ser sempre elogiado por sua educação pela inteligência, mas daí a virar método de alfabetização é um grande equívoco.Encontramos a professora Zoé Noronha Chagas Freitas, que se debruça há muitos anos sobre educação infantil. Foi uma pioneira na educação artística, ao lado do pintor Augusto Rodrigues. Discípula da genial Helena Antipoff, não concorda com a adoção do método global (construtivista) e confirma que as crianças, nesse caminho, decoram uma frase e repetem até a quarta série, sem conhecer o seu exato significado. É francamente favorável ao método silábico e aponta o que está ocorrendo na França, onde há uma vigorosa virada de perspectivas, depois de ter ocorrido o mesmo na Inglaterra, como pôde verificar.O ministro Gilles de Robien, no início de 2006, como registra a revista Le Figaro número 1318, publicou uma circular, impondo o retorno do bê-á- bá, na aprendizagem da leitura. Não trata da escrita, nem da gramática, da ortografia ou do cálculo. Ele prioriza a "batalha do bom senso", mais oxigênio na educação francesa, com a adoção do método silábico, que concretamente produz resultados apreciáveis a partir de três meses de uso. Voltamos a Helena Antipoff para lembrar o que hoje repete D.Zoé: "Obrigar a criança a aprender a ler só por um método é não aceitar as suas diferenças." Essa volta também está ocorrendo nos Estados Unidos.Retomamos as palavras do ministro Gilles Robien, hoje com grande popularidade entre os pais de alunos franceses: "As pesquisas sobre o funcionamento do cérebro determinaram a minha decisão. Por que a maior parte dos países utiliza o método silábico? Não é impossível aprender a ler com o método global, mas há uma clara preferência pelo silábico. Deixar os alunos irem adiante sem saber ler é condená-los à exclusão."Afirmando que "a nostalgia não é o fermento do meu ideal", o ministro francês (não esqueçamos, é língua latina) está estimulando os professores, no seu ofício apaixonante, a produzir materiais silábicos ou fono-sintéticos, no que já se empenham as grandes editoras do país. Só falta mesmo saber quando o Brasil caminhará nesse sentido, com bom senso, mesmo que preservando o seu estilo descentralizado e mais livre de agir, no que se refere aos fatos da educação.

  • Zorra Total

    Quando ninguém se entende, com quem fica a razão? Em pleno mês de junho de 2006, o presidente Lula decidiu enviar novamente ao Congresso Nacional o projeto de lei da reforma universitária. Sem grandes modificações em relação à castigada versão do MEC e também com uma estranha recomendação: para ser examinada sem pressa, ou seja, com a convicção de que não é para ser votada num ano eleitoral. Vai dormitar em algumas gavetas das comissões da Câmara.De todo modo, cabe um comentário sobre o documento, que não é exatamente um complemento ao chamado "decreto-ponte" há pouco trazido a lume pelo Ministério da Educação. Confirmamos o comentário feito em conferência na Associação Comercial do Rio de Janeiro: ele é inoportuno, cheio de lacunas e perigosamente omisso em relação à autonomia universitária, especialmente das universidades federais. Até hoje não se pôde entender exatamente a razão da sua existência, a não ser que seja para marcar, com tinta forte, que ninguém se entende sobre a matéria, nas diversas instâncias do governo federal. Se o projeto de lei estava pronto para subir ao Congresso, para que um incompreensível decreto-ponte? É estranhíssima essa terapia ocupacional, enquanto os grandes problemas nacionais relativos ao ensino superior permanecem como desafio imbatível.O projeto de lei, na sua quarta versão, cortou as polêmicas cotas para a rede pública. É certo que existe outro projeto tramitando na Câmara dos Deputados a respeito do assunto, mas aí se caracteriza bem a colcha de retalhos em que se transformou a educação brasileira, com tiros em todas as direções. Enquanto isso regrediu, o que nos parece uma barbaridade foi mantido: de todos os recursos financeiros do MEC, nada menos de 75% serão destinados ao ensino superior. Não se fala em aumento de percentuais para a educação como um todo, mas numa nítida despreocupação oficial com a educação básica, que ficaria à mercê de Estados e Municípios combalidos. Onde fica a lógica? Parece mesmo configurar um tempo de zorra total.Mantém-se a lista tríplice nas eleições para reitor, cabendo a escolha final ao presidente da República, no caso das instituições oficiais. Tirar o primeiro lugar, na decisão soberana da comunidade, de nada adianta. O tema continuará escandalosamente politizado, como é hoje, de pouco valendo o que se entende por mérito. Como a confusão é um estilo, o projeto estima novas regulamentações para a oferta de cursos e a abertura de instituições de ensino, nessa babel criada agora pelo decreto-ponte, que só conseguiu um resultado concreto: desmoralizou o Conselho Nacional de Educação, atribuindo-lhe papel secundário naquilo que foi durante tantos anos a razão principal da sua existência.São 58 artigos que estarão em discussão no Congresso, com o propósito caricato de "democratizar, garantir o financiamento, ampliar o acesso e qualificar as universidades brasileiras". Seria uma espécie de marco regulatório do ensino superior com uma incrível novidade: até 30% das nossas instituições poderão pertencer a organizações ou pessoas físicas estrangeiras.Há exigências de mestrado e de doutorado e prevê-se a participação da sociedade civil nos órgãos colegiados, ainda que de forma obscura. Enfim, o texto ensejará muito pano pra manga.