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Artigos

  • E o futuro?

    Quando as eleições estão a 75 dias, falar do futuro parece ingenuidade. Todos pedem que se fale sobre o presente. Mas o presente, diz Eliot, é uma soma do passado e do futuro.

  • A Fidel o que é dele

    A metade do século passado foi marcada na América Latina pela Revolução Cubana. Cuba foi o pivô da maior crise ocorrida durante Guerra Fria. A firmeza de Kennedy e a sensatez daquele camponês esperto Nikita Kruschev conjuraram o conflito nuclear. Como hipotecas ficaram a retirada de armas nucleares da Turquia e o compromisso dos Estados Unidos de não invadirem Cuba.

  • Desatar os nós

    Não há mais diagnósticos a fazer nem cabe especular sobre as causas, concausas ou delírios. O Brasil tem uns nós a resolver e pedras, não no meio do caminho, mas obstruindo o caminho. Afastemos os julgamentos pessoais. Vamos dar uma pausa no hábito nacional de jogar pedras. Para abreviar o julgamento vamos generalizar, mesmo com o risco de estar errados: somos todos responsáveis.A verdade é que o nosso modelo, que vem dos primórdios do século 20, é de concentração de renda, de sublimação dos extremos de riqueza e pobreza que se exerce sobre pessoas, famílias e território. Nele as regiões pobres e esquecidas do país serviram de abastecedoras de matéria-prima barata, mão-de-obra pior ainda, para criar bolsões de concentração de riqueza em determinadas áreas do Sudeste, que terminaram na tragédia de quase da metade da população nacional viver em favelas, mergulhadas na miséria, na periferia das grandes capitais.O presidente Lula é uma revolução política, porque concluiu o processo democrático de trazer a governar os operários, a classe que se julgava afastada e para sempre condenada a coadjuvante. Sua biografia e o apoio popular que respaldam sua última eleição lhe dão a autoridade, que nenhum outro presidente teve, de procurar um terreno comum que possa reunir não somente as forças políticas, mas todos os segmentos da sociedade para superarmos os entraves que estão aí, atravessando todos os governos e todas as vontades.O primeiro deles, a modernização política. Não se pode ver o contraste da máquina eletrônica apurar a eleição em três horas e convivermos com práticas da República Velha e mecanismos que remontam ao século 19.Não se pode continuar com a situação de penúria do Nordeste e sem nenhuma perspectiva para a Amazônia, mergulhada na sua solidão histórica.Os obstáculos de um corporativismo obstrutivo e uma burocracia arcaica e bolorenta. Temos de enfrentar o problema de distribuição de renda e de estrangulamento pela especulação financeira. Temos de crescer e para crescer temos de ter energia, indústrias de base e descentralização de riqueza.O presidente Lula inverteu as setas. Não se fixou na prioridade econômica e foi fundo nos programas sociais. São um colchão para evitar a explosão. Mas é preciso avançar muito mais. Ter a coragem de desatar os nós. Libertar-se das peias ideológicas de alguns, punir os que o traíram, traindo o seu governo, e fazer um chamamento para que se faça uma cruzada nacional acima de tudo e de todos, e erigir como sua protetora no segundo mandato Nossa Senhora Desatadora dos Nós.

  • Opinião: Banana e De l'Amour

    Conheci no Amapá dois tipos inesquecíveis. O Banana, que de banana não tinha nada, e o Frank de l'Amour, cantor de chapéu malandro que só falava em francês e cantava velhas canções de Piaff. Há duas semanas, emocionado com os sons de La vie en rose, caiu vítima de um enfarte fulminante. Aos 25 anos, Frank de l'Amour viajou com sua alegria. Deixou lembranças e saudades.

  • Opinião: Vieira e a Carta de Veneza

    Em Paris surge uma controvérsia sobre conservação e restauração. Discute-se a Carta de Veneza, a bíblia do Iphan, feita com ajuda de Rodrigo Mello Franco de Andrade. Aqui ela tem uma interpretação que vai se consolidando em dogma, como se não tivesse uma visão de maleabilidade, sem fugir ao seu objetivo maior que é salvaguardar o patrimônio artístico e histórico.

  • Opinião: Chávez em seu labirinto

    Quando discutíamos com Alfonsín e Sanguinetti, em 1985, o que seria a integração da América Latina, a começar pelo Cone Sul, duas coisas surgiram como excludentes de quaisquer outras: a democracia e o crescimento. Era um tempo em que quase a maioria dos países desta área eram ditaduras. Tínhamos duas pedras grandes em nosso caminho: o Chile de Pinochet e o Paraguai de Stroessner. A cláusula democrática os excluiu, apesar de participarem do nosso espaço econômico e geográfico. A democracia era prioritária. Eu mesmo afirmei nas Nações Unidas que o caminho do desenvolvimento passava pela democracia. "Crescer juntos" foi nosso slogan.

  • Opinião: Um segredo energético

    Uma vez o comandante Maranhão, pioneiro na exploração do táxi-aéreo, inventor e iluminado, procurou-me para dizer que descobrira um novo combustível que ia desbancar o petróleo. Queria registrar a patente, receoso que fosse roubada. Procurei dele uma pista qualquer para entender o seu delírio. Ele pedia garantia total de sigilo, que eu não falasse a ninguém. Só entregaria os detalhes ao presidente da República. Seu invento ia revolucionar o mundo. Ele gozava do prestígio ser o único piloto que sabia cair: três vezes sem vítimas e em segurança!

  • O livro resiste

    ELIO GASPARI , há alguns anos, escreveu que duas coisas jamais desapareceriam: o livro e o jornal. Eles venceriam todas as tecnologias de informação e com elas disputariam o seu espaço. Li, ontem, em Clóvis Rossi, que a crise dos jornais fez parte da agenda do Fórum Econômico de Davos, com a conclusão de que ainda não é hora do suicídio. Eterna vida.

  • Opinião: Parlamento de roupa nova

    Ontem instalou-se uma nova Legislatura. Longe está o tempo em que esse fato não era tido como o exercício da rotina da democracia representativa. O Brasil atravessou o seu gargalo político com absoluta tranqüilidade e sabedoria. Muitas nações ainda patinam nessa direção, algumas com grande desenvolvimento econômico. A China em algum momento terá de confrontar-se com a liberdade política. Na antiga Cortina de Ferro, muitos países ainda têm hipotecas democráticas a pagar.

  • Opinião: Partidos e partidos

    É Duverger, esse notável estudioso da política, quem profundamente analisa a organização da contenda política, aquilo que ele chama "a luta pelo poder". Temos de distinguir entre pequenos partidos e partidos pequenos. A linha divisória está na tradição ideológica e nos fins pragmáticos. Os "pequenos partidos" são criados com o aproveitamento de brechas legais para colocar a vida partidária no balcão de negócios. São agrupamentos pessoais, sem nenhuma legitimidade, que fazem dessas minúsculas legendas cartório de registro de candidatos e mercadoria de aluguel de siglas e espaços de televisão. É evidente que há exceções.

  • Opinião: Lágrimas para João Hélio

    A trágica história do menino João Hélio fez despertar uma consciência de culpa na sociedade brasileira com a condescendência com o crime. Não se pode tratar uma pessoa de 16 anos como criança inconsciente. Ele vota, escolhe os dirigentes do país, procria, protesta, opina e exerce direitos de cidadão. Não pode deixar de distinguir o bem e o mal. É um crime contra o próprio adolescente levá-lo ao crime com a certeza da impunidade. Então, o deixamos indefeso contra o aliciamento. Os argumentos contrários são mais abstratos do que concretos, mais românticos do que reais.

  • Palpite Infeliz

    Quando ainda estamos com cheiro de carnaval, me seduz o nome da música do Noel Rosa, título deste artigo. É um dos casos em que mais se aplica àquele fardo da política brasileira de, em momento de calmaria, surgir um anjo negro, chamado por um conterrâneo meu, Gomes de Castro, de "gênio perverso", fazendo das suas.

  • Opinião: China, Kourou e as amazonas

    Vamos imaginar o que foi na idade da pedra lascada o domínio do fogo, ou a descoberta de novas terras, a aventura de navegar contra o vento, entender o funcionamento da natureza, com a terra a girar a uma fantástica velocidade em torno de seu luzeiro maior - como diz a Bíblia - o sol.

  • Opinião: Um susto em Xangai

    Estamos em pleno mundo das expectativas e de contagiante nervosismo. Não só dos homens mas das máquinas também. Os computadores programados para detectar a menor ameaça ou anormalidade ficam mais frenéticos do que cantor de rock. Vejam um exemplo claro e inatacável disso no recente episódio da bolsa de Xangai. Derrubou logo as bolsas do mundo inteiro sem que ninguém soubesse por quê.

  • Opinião: O Ponto G e o QiQi

    Não sei por que tanta celeuma sobre a espontaneidade do nosso presidente em revelar que "todos gostam de sexo" e que as relações com os Estados Unidos esperam o Ponto G. Os que censuram estas franquezas lembrem-se da história do Brasil começando no texto de Pero Vaz de Caminha, a famosa Carta, onde ele descreve as índias nuas e vai logo dizendo que elas "nem fazem caso de encobrir suas vergonhas (…) tão altas e cerradinhas". Nem esconde que todo mundo não queria outra coisa senão ver as maravilhas, que "nós muito bem olhávamos", como confessa.