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Artigos

  • Furto nas alturas

    "Senhores passageiros, sejam muito bem-vindos ao nosso voo. Como informou o nosso comandante, estamos prontos para decolar. Peço, pois, que afivelem seus cinturões, retornem o encosto da poltrona para a posição vertical e mantenham travada a mesinha à sua frente. A partir desse momento, todos os equipamentos eletrônicos deverão ser desligados.

  • Fazer o quê? O que fazer?

    Quando o Brasil foi eliminado da Copa, ouviram-se comentários irritados contra Dunga, contra jogadores, contra a CBF. Mas a frase mais comum foi o clássico Fazer o quê?, marca registrada do fatalismo brasileiro. Perdemos, fazer o quê? Poderia seguir-se o igualmente habitual seja o que Deus quiser, mas, considerando que o Senhor está um pouco acima das misérias do futebol, as pessoas resolveram, ao menos nesse transe, deixá-Lo em paz.

  • Justiça de pedra

    Não é de admirar que, por muito tempo, o apedrejamento tenha sido uma clássica forma de execução no Oriente Médio. Pedra é coisa que não falta naquela região árida. Além disso, pedra representa a natureza no seu aspecto mais primitivo: usada para liquidar a vida humana, a mesma vida que Deus criou a partir do barro, adquire um óbvio caráter simbólico. A morte por apedrejamento é lenta, cruel, impiedosa, uma morte que supostamente deve ser a punição para os culpados de vários crimes: a blasfêmia, a idolatria e, sobretudo, o adultério.

  • Livrai-nos da tentação

    Andando pelo Jardim do Eden, Adão e Eva avistavam constantemente a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal e seus tentadores, mas proibidos, frutos. Desta maneira, não foi difícil para a serpente induzi-los à transgressão. Será que o mesmo aconteceria se a árvore estivesse a quilômetros de distância, exigindo do primeiro homem e da primeira mulher um longo deslocamento, quem sabe uma viagem? Talvez não. Parafraseando a conhecida expressão, longe dos olhos, longe do estômago. Todo mundo sabe que um refrigerador cheio de coisas apetitosas não perde para fruto proibido algum em matéria de tentação. E o mesmo se pode dizer de um prato cheio. Expressão que, aliás, tem dois sentidos: de um lado significa fartura, abundância; de outro é um apelo à malícia, à safadeza.

  • O direito de mostrar o rosto

    Na próxima semana, estarei na Flip, a já lendária Festa Literária de Paraty, onde participarei em várias atividades, uma das quais aguardo com muito interesse. Coordenarei um painel em que participam dois escritores famosos, o israelense A. Yeoshua e a iraniana (exilada) Azar Nafisi. Se tivesse nascido no Brasil, Azar poderia dizer que seu nome condicionou um destino; de fato, não foram poucas as atribulações pelas quais passou. Filha de um casal conhecido no Irã (o pai foi prefeito de Teerã, a mãe, deputada), Nafisi estudou na Inglaterra e graduou-se em letras na Universidade de Oklahoma. Quando os fundamentalistas tomaram o poder no Irã, começaram seus problemas: recusando-se a usar o véu, ela foi proibida de lecionar na Universidade de Teerã e acabou emigrando para os Estados Unidos. Sua história está em dois livros, o best-seller Lendo Lolita em Teerã e O Que Eu não Contei.

  • O lamento dos excluídos

    Cães excluídos da adoção ganham tratamento vip em SP. Em vez de chihuahuas fofinhos, a advogada Audrei Feitosa, 39, preferiu acolher Kiko, um vira-lata "grande, velho e com dente todo podre". Ela se autodenomina protetora dos cães fracos e indefesos. Para preservar o título, monitora de seu apartamento, em Higienópolis, no centro de São Paulo, o resgate de animais abandonados. Quanto mais idade e problemas de saúde, mais o bicho vira "inadotável", diz. Para os rejeitados, ela e uma amiga mantêm, no sítio de um conhecido em Jundiaí (58 km de SP), cinco canis "de luxo", com ração premium, cobertores e cuidado veterinário. Juntas, pagam a um "caseiro canino"" R$ 200 por animal. Atualmente, são 30. A dona de casa Cleide Jacomini, 51, foi além. Aluga, na Freguesia do Ó, uma casa especialmente para dez cachorros recolhidos na rua. Cotidiano, 5 de julho de 2010

  • O problema do goleiro

    "A angústia do goleiro diante do pênalti". Peter Handke, título de livro, 1970 ELE NÃO poderia ter tido uma infância mais infeliz. Abandonado pelos pais, ambos violentos, ambos transgressores. A mãe, usuária de cocaína, tentara matar uma mulher; o pai tinha sido, mais de uma vez, acusado de furto. Fora criado pela avó, em circunstâncias difíceis.

  • Onde está a felicidade?

    Na semana passada, o Informe Especial de ZH divulgou uma pesquisa mundial feita pelo Instituto Gallup com o objetivo de estabelecer o ranking dos países mais felizes do mundo.Empreendimento complicado, esse. Afinal, o que é mesmo felicidade? Uma definição nos diz que é um estado de espírito ou sentimento, caracterizado por prazer, alegria ou satisfação, mas cada uma dessas categorias é também sujeita a discussões, isso sem falar de outros conceitos com base na biologia, ou na psicologia, ou na filosofia, ou na religião. O Gallup não quis entrar nesses detalhes: pediu aos entrevistados que avaliassem a felicidade em suas vidas numa escala de zero a 10 e fez perguntas relacionadas a sentimentos positivos ou negativos. Saiu daí a lista dos países mais felizes no mundo: Dinamarca, Finlândia, Noruega, Holanda, Costa Rica, Canadá, Suíça, Nova Zelândia, Suécia, Áustria, Austrália, Estados Unidos, Bélgica, Brasil, Panamá. Nota-se que, tal como na Copa, a Europa está bem representada. O Brasil está num 14º lugar, provável resultado da combinação da alegria exuberante do Carnaval e do samba com a pobreza, a violência, e o desgosto com nossa Seleção.

  • A cara (e os números) do Brasil

    O censo que começou no último domingo tem, além de suas finalidades óbvias, um significado simbólico não desprezível. É a marca de um novo Brasil, um Brasil que, para usar a expressão de Cazuza, mostra sua cara, que descobre sua verdadeira identidade – expressa em números. Que nunca desempenharam um papel importante na história, na cultura e no cotidiano de nosso país.

  • A jaqueta mágica

    Moda para a alma: você fica triste, sua jaqueta o acolhe. Pesquisadores criam roupas capazes de detectar alterações emocionais e emitir mensagens de conforto para o usuário. EQUILÍBRIO, 24.AGO.10

  • Conflito e conciliação

    Conciliação e conflito representam importante binômio em nossas vidas, correspondendo mais ou menos ao Eros e Tanatos de Freud, o instinto da vida e o instinto da morte; ou, na mitologia, a Venus e Marte, amor e agressividade.

  • Diagnósticos em debate

    Vocês têm ideia do que seja drapetomania? Provavelmente não. O estranho termo vem do grego, drapetes, fugitivo, e significa mania de fuga. Um diagnóstico médico, portanto. Foi proposto em 1851 pelo dr. Samuel A. Cartwright, da Louisiana, no escravagista sul dos Estados Unidos. Segundo o dr. Cartwright, era um mal que acometia os escravos negros que insistiam em escapar das fazendas. Esse mal, dizia o bom doutor, não tinha tratamento, mas podia ser evitado com a aplicação de chicotadas a escravos rebeldes e também com a amputação – isso mesmo, a amputação – dos dedos dos pés.

  • Gilberto Freire e as duas culturas

    A expressão “as duas culturas” teve origem em uma conferência ministrada em 1959 pelo cientista e escritor Charles Pierce Snow na Universidade de Cambridge,Inglaterra. Publicada em livro, teve enorme repercussão.Snow defendia a idéia de que entre intelectuais e literatos deum lado, e cientistas de outro, há uma distância muito grande,um território que poucos se atrevem a percorrer. Um dos que o fez, e com grande sucesso, foi Gilberto Freyre,homenageado na recente Festa Literária de Paraty. Freyre foi o legítimo homem de vários instrumentos, historiador social,sociólogo, antropólogo, psicólogo, biógrafo, ensaísta,ficcionista, cronista, poeta e pintor, e acima de tudo homem de vasta cultura.