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Artigos

  • A mulher de hoje

    A posição inferior a que a mulher foi sujeita ao longo dos tempos impediu que ela pudesse participar inteiramente da comunidade, em que tinha um papel específico de amante e de mãe que não deveria ultrapassar. Do ponto de vista literário, por exemplo, o mundo antigo, com exceção de Safo, mostrou-se omisso no permitir destaque feminino em poesia ou prosa. Claro que houve, ainda, figuras que entraram na história, não só a de Joana D'Arc, como também, na literatura medieval, a holandesa Béatrice de Nazareth e Heloísa, além de outra Beatriz, de Antuérpia, que deixou vários poemas de amor.

  • Katherine e Virginia

    Os diários de Katherine Mansfield e Virginia Woolf, hoje publicados em mais de vinte idiomas, revelam o difícil relacionamento que ligou as duas escritoras. Virginia, nascida em 1882 na Inglaterra, pertencia a uma nobreza intelectual de que o "Grupo de Bloomsbury" se transformou em voz e símbolo. Katherine era "colonial", da distante Nova Zelândia, onde nascera em 1888.

  • A dimensão de um poeta

    Poucos escritores podem representar hoje o que foi e o que é a literatura brasileira dos últimos 60 anos como esse ínclito dominador da palavra chamado Lêdo Ivo. Dono de uma poesia dele, só dele, com versos de ásperas e desprotegidas verdades sobre cada um de nós e uma prosa aliciante e límpida tanto em narrativas como em crônicas, vem Lêdo Ivo, desde o começo dos anos 40 do século passado, erguendo uma obra que o coloca no plano central das Letras do País.

  • A certeza e a derrota

    Este romance, "O evangelho da incerteza", de Wanda Fabian, obteve prêmio especial no Grande Concurso Walmap realizado no final dos anos 60 do século passado. Sabia-se naquele tempo, mas sabe-se mais hoje, que se tratava de uma obra-prima da ficção brasileira. Sua nova edição, que sai agora, vinha há muito sendo esperada pelos que acompanharam os lançamentos do Walmap.

  • A clareza de uma poesia

    Se o parnasianismo deixou saudades e de vez em quando volta, outra tendência há que não foi aproveitada com força total, embora tenha produzido alguns de nossos melhores poetas: o simbolismo. E é natural que tal haja ocorrido. Toda literatura é simbólica, apesar de nem toda literatura ser simbolista. No domínio do simbólico está uma preeminência de forma, aliada a uma exatitude de conteúdos que me parece uma das melhores conquistas da corrente de Cruz e Souza, Antonio Francisco da Costa e Silva, Tasso da Silveira e Cecília Meireles.

  • Marly e a poesia brasileira

    A morte calou uma das maiores vozes poéticas deste País quando levou Marly de Oliveira no começo deste junho. Lembro-me como se fosse hoje quando Zora e eu recebemos em casa a jovem Marly, há mais de meio século, e tivemos em mãos seus primeiros versos, ainda não publicados e escritos a mão num caderno de estudante.

  • O Caso Jorge de Lima

    Não há a menor dúvida de que existe, na literatura brasileira, um "caso" Jorge de Lima. Tendo sido, na opinião de muitos críticos e poetas do Brasil e de outras partes do mundo (incluindo o autor destas linhas), aquele que mais longe foi em nossa terra na feitura do verso e no uso da poesia como expressão de um povo e de uma nação, é de se espantar seja ele posto de lado - permanentemente de lado - pela presente comunidade literária do País. Em vida, teria sido normal, por ser católico praticante e ortodoxo, colocá-lo sob suspeita.

  • Um poeta maior

    "Toda tese", escreveu Kierkegaard, "está exposta ao riso dos deuses". Pensando helenicamente, só eles sabem. Ou, de acordo com pretensões posteriores, nem eles sabem. A idéia, porém, é de que nem as teses mais fundamentais podem fugir à análise e à revisão dos que vêm depois. Na arte da palavra, as teses de que os deuses riem, raramente, criam bons poemas, nem inventam boa prosa. Algo mais do que isto será necessário.

  • A força da memória

    Em meu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, usei uma frase que, de vez em quando, repito, levado pela verdade que ela transmite. Esta: "País sem memória está morto e não sabe". Diga-se que o mesmo acontece com regiões definidas, com cidades e até com burgos menores. Louvo, por isto, os livros que registram, discutem e mostram os movimentos culturais de uma região e levantam a memória de trechos de nosso País onde nos reunimos para viver, agir, amar, pensar, enfim, ser. Temos permanente necessidade de guardar o que fazemos: sonetos, narrativas, contos, pinturas, músicas, móveis, prédios, como sinais individualizados de um determinado lugar.

  • Gilberto Freire - 1900-1987

    É fácil falar sobre Gilberto Freyre. É difícil falar sobre Gilberto Freyre. Escritor acima de tudo, exímio dominador da palavra, dono de um estilo que flui com a maciez de uma poesia que finge ser prosa, ergueu Gilberto Freyre toda uma sociedade colonial que nos explica e nos ilumina.

  • O poema além do poema

    Durante alguns anos, na segunda metade do século XIX, no ambiente de efervescência intelectual da Universidade de Oxford, foi Gerard Manley Hopkins considerado uma espécie de herói e tido como capaz de vir a ser a mais certa glória literária de sua geração. Isto de fato aconteceria, mas de maneira diversa da que todos imaginavam porque, em 1866, Hopkins se converteria ao catolicismo para ingressar na Sociedade de Jesus.

  • O nosso Kafka

    Tivemo-lo. E, como era de se esperar, em Minas Gerais. Inclusive, por ser eminentemente mineiro e de lá pouco ter saído. Foi Murilo Rubião (1916-1991), grande contista de nossa literatura, hoje não muito presente nas notícias literárias do País. Nascido em Carmo de Minas, viveu a maior parte de seu tempo em Belo Horizonte. Desde seus primeiros textos viu-se que ele ia além da realidade. Surrealista? Sim, mas só até certo ponto. Simbolista? Sim, no caso de ser identificado, em cada passo de sua narrativa, uma segunda linguagem, simbólica, imanente em seus enredos.

  • Machado e sua obra

    Antecipando as celebrações do centenário da morte de Machado de Assis, acaba de ser publicada nova edição do primeiro texto importante a ter sido lançado após o desaparecimento do escritor. Com ele, seu autor, Alfredo Fujol, firmou seu nome em nossa literatura, num livro em que se revela ao mesmo tempo narrador e analista, levantando a história e a obra de Machado de tal modo que se transformou na base para qualquer estudo posterior a tratar do assunto.

  • Festas do povo

    A memória da colonização brasileira, mantida em cada região através de livros, de monumentos, de festividades populares e de tradições religiosas, ajudou o País a preservar sua extensão geográfica e sua identidade nacional. A cada momento, nossa bibliografia no setor aumenta e vem revelar aspectos regionais em que essa realidade se afirma.

  • História de um tempo

    Nem toda crônica é autobiográfica, mas, com a própria palavra original "cronos" significando "tempo", é natural que muita crônica se apoie no "tempo" de quem a escreve. Não só o grande mestre do gênero entre nós, Machado de Assis, lembrou o passado no escrever sobre o presente, mas deixou uma tradição a que esteve a crônica brasileira sempre ligada. Vejo no livro de Pedro Rogério Moreira, saído agora, "Jornal amoroso", um dos bons escritos biográficos brasileiros do momento. A experiência jornalística contribuiu para que seu estilo autobiográfico atingisse, como atinge, um alto nível de qualidade.