
Protesto e receita democrática
A passagem do humanista e pensador Régis Debray pelo Rio de Janeiro enriqueceu a prospectiva das próximas semanas, diante do que se pensava fossem os cenários seguros deste segundo semestre.
A passagem do humanista e pensador Régis Debray pelo Rio de Janeiro enriqueceu a prospectiva das próximas semanas, diante do que se pensava fossem os cenários seguros deste segundo semestre.
A partir da denúncia do Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que deve acontecer ainda hoje, o deputado Eduardo Cunha passará de todo-poderoso líder político a investigado na Operação Lava-Jato, o que lhe retira boa parte do poder que esbanjava.
Por mais expressivas que venham a ser as manifestações pró-governo amanhã, não são elas que vão decidir a sorte da presidente nessa altura.
Com a clareada dada pela declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o PSDB tomou uma posição unificada em favor da saída da presidente Dilma diante da crise política que vivemos. O partido não reivindica para si o protagonismo para uma eventual ação de impeachment contra a presidente Dilma, mas declara-se disposto a apoiar tal medida e, mais que isso, garante respaldo político ao sucessor caso o impeachment seja aprovado.
A mudança qualitativa dos protestos ocorridos em todo o país no domingo não se mede em números, mas em símbolos.
Já tivemos a saúva como inimiga preferencial. Ela não acabou com o Brasil, mas fez o que pôde. Policarpo Quaresma e Macunaíma deixaram duas advertências históricas: derrotou o personagem de Lima Barreto que acreditava no Brasil e serviu de mantra para Mário de Andrade lançar seu famoso anátema, "pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são".
As manifestações marcadas para todo o país darão hoje a dimensão da crise que estamos vivendo, e o tamanho das massas nas ruas será decisivo para os desdobramentos políticos, mas não definitivo.
A primeira semana deste mês veio confirmar o ditado segundo o qual agosto é o mês do desgosto. Que o digam os petistas, a começar por José Dirceu, por Dilma e por Lula, que efetivamente não estão vivendo o melhor agosto de sua vida.
Numa das esquinas da Cinelândia havia uma banca que expunha os jornais do dia. Num deles, li a confissão do poeta Drummond declarando estar cansado de ser moderno, preferindo ser eterno.
Aristóteles dizia que o homem é um animal político, e que ele não ^» se associa para buscar unicamente a existência material, mas sim para buscar a felicidade, o que Jefferson repetiria na declaração de independência americana.
Um dos sinais da riqueza em dinheiro sujo é a mudança de escala de nossa corrupção endêmica, que pulou de milhões para bilhões
Vez por outra ressurge na cena brasileira a figura do escritor Gustavo Barroso, que foi um dos mais notáveis antissemitas do nosso país. Agora mesmo, o seu nome aparece no livro Dez mitos sobre os judeus, escrito pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro.
O Brasil tem recursos para se reconstruir. Quem quer viver num país decente tem aliados sólidos nos juízes e procuradores.
Há cruzando os céus de Brasília vários sinais de que o governo Dilma está conseguindo, através de pressões e arranjos políticos de diversas qualidades, neutralizar a tendência de órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de rejeitar as contas do último ano de seu primeiro governo, ou impugnar a chapa eleita em 2014 por diversas irregularidades cometidas.
Os paradoxos da política brasiliense acabam de criar um enigma a ser decifrado: o mesmo relatório que está sendo usado pela base governista para dar mais fôlego à presidente Dilma, pode criar-lhe sérios problemas.