O petismo não sai da rua
Só cresce, nas últimas semanas, o protesto contra o governo interino.
Só cresce, nas últimas semanas, o protesto contra o governo interino.
Entre as muitas vantagens da Operação Lava Jato destaca-se a revelação, em tintas fortes, da evolução do esquema de corrupção montado na política nacional, que atingiu o seu ápice nos anos petistas. Para se ter uma ideia do que estamos falando, basta constatar que todos, simplesmente todos os ministros que ocuparam o Gabinete Civil nas gestões Lula e Dilma são alvos de graves acusações de corrupção.
O que aconteceu ontem a Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara é exemplar de como funcionam as pressões da sociedade numa democracia representativa que, por mais precária que seja, por mais desmoralizada que se encontre, terá sempre a possibilidade de se recuperar, seguindo o sentimento prevalecente no conjunto dos cidadãos.
É notável a mobilidade do papa Francisco em seus desígnios. Enquanto no Vaticano lança a exortação apostólica "Amoris Laetitia" (Alegria do Amor), propondo uma Igreja mais aberta e acolhedora, alcança divorciados e pessoas que se casaram mais de uma vez.
Não adianta se queixar ao bispo; ele está tentando livrar a própria pele. Ninguém mais está a salvo da violência, nem as instâncias abençoadas por Deus.
Em uma das gravações clandestinas do ex-senador Sérgio Machado, ele afirma que depois que o STF decidiu que é possível decretar a prisão com condenação em segunda instância, todo mundo resolveu fazer delação premiada para escapar da cadeia. O fim dessa jurisprudência, que vigorava até 2009 e foi retomada este ano, seria um dos alvos de suposta conspiração política contra as investigações do Lava Jato.
Fazer um mau governo não é condição aceitável para um pedido de impeachment numa democracia representativa, a não ser que exista a previsão do recall na Constituição, instrumento que permite aos eleitores voltarem às urnas para tirar do posto aquele governante que não estiver agradando à maioria. Uma espécie de voto de desconfiança parlamentarista no presidencialismo.
Na rua do Ouvidor, entre a avenida Rio Branco e a rua da Quitanda, ficava naquela época a Livraria José Olympio, onde, certa tarde, deparei com Graciliano Ramos, sentado numa cadeira e fumando cigarro.
Amigo meu, grande editor da fase moderna da literatura brasileira, fazia tudo para que pudesse entrar no partido comunista. A duras penas, conseguiu ser admitido e recebeu de presente uma ida à então União Soviética. Foi animado, mas voltou decepcionado pelos princípios ideológicos adotados pelo partido oficial e gestor do comunismo internacional.
Se a casa está pegando fogo, há que combater logo o incêndio, sem discutir quais bombeiros vieram na viatura.
Impeachment é para impedir mandatos, não a civilidade. Uma lição a ser aprendida pelos iracundos dos dois lados.
Os Procuradores da República estão em pé de guerra contra o que identificam ser uma movimentação orquestrada dos políticos contra a Operação Lava-Jato. A afirmação do coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol de que há um "ataque incisivo" ao combate à corrupção por "alguns políticos específicos", numa referência clara aos líderes do PMDB flagrados em gravações clandestinas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, é a explicitação desse sentimento, e explica muito porque o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot pediu a prisão deles, criando um conflito com o Poder Legislativo que agora o Supremo Tribunal Federal vai ter que mediar.
Só se acentua, nos últimos dias, o crescimento da reação internacional contra o impeachment de Dilma, no protesto formal em organizações latino-americanas, e, já agora, atingindo as Nações Unidas. Vem de par com a perplexidade diante da alegação de crime, por Dilma, quando as ditas “pedaladas” já se registravam como rotina nas apropriações orçamentárias do governo Fernando Henrique Cardoso.
A decisão do juiz Sérgio Moro de transformar em ré a jornalista Claudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, acatando a denúncia da força-tarefa da Lava-Jato que a acusa de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, vem acompanhada de teoria jurídica relativamente nova em nosso sistema, a da “cegueira deliberada”, e pode ter conseqüências graves, como já aconteceu com outros réus da Lava-Jato que tiveram parentes alcançados pela Justiça.
Os políticos que tentam desviar a decisão final pelo impeachment da presidente Dilma para o atalho da convocação antecipada de eleições diretas para a presidência da República sabem que a superação da crise institucional que estamos vivendo não passa pela volta ao poder da presidente afastada Dilma Rousseff , tanto que a proposta é que ela se comprometa a convocar as eleições antes mesmo da votação da etapa final no Senado.