Paixões inúteis
Os intolerantes, que estão destilando ódio contra e a favor, não devem se esquecer de que, em política, o inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã, e vice-versa.
Os intolerantes, que estão destilando ódio contra e a favor, não devem se esquecer de que, em política, o inimigo de hoje pode ser o amigo de amanhã, e vice-versa.
Nada como uma grande dificuldade para estimular a ação dos que estavam inertes diante dos problemas. O governo acena agora com um grande plano de reformas estruturais a ser apresentado até o fim do ano, enquanto tenta descobrir uma saída para o déficit orçamentário que oficialmente acontecerá no próximo ano, se não houver uma solução negociada com o Congresso.
A troca de dossiês, jornais contando os podres de uns e outros, a suspeita generalizada e, em parte, confirmada de que o clima geral é de corrupção, obrigam-me a uma paráfrase de Stendhal –autor de minha devoção.
O depoimento de Marcelo Odebrecht à CPI da Petrobras revela ao país um dos pontos fulcrais de nossa crise moral: uma confusão tão enraizada entre o público e o privado que empresários e agentes públicos muitas vezes perdem a noção do que seja legítimo, isso se considerarmos que as explicações do ex-presidente da maior empreiteira brasileira são sinceras, e não mais uma demonstração de cinismo como tantas que temos visto nos últimos anos.
Assisti, constrangido, à sessão da CPI que está discutindo, mas não ainda decidindo, o escândalo que não sei por que é chamado de Lava Jato, como se o Brasil fosse um carro enlameado que podia ser limpo com um jato da água. Evidente que a nação está cheia de lama, mas com lama ou sem lama poderia andar e chegar ao destino de um país que pretende tornar-se grande e respeitado pela comunidade internacional.
Vou hoje comentar o discurso que Lula fez na abertura da Marcha das Margaridas, em Brasília, há algumas semanas. Apesar do atraso com que o faço, parece-me oportuno comentá-lo pelo caráter exemplar da maneira como, ele, ex-presidente da República, manipula os fatos da realidade nacional.
O juiz Sérgio Moro, que atua na Operação Lava-Jato, compara-a à Operação Mãos Limpas, o famoso combate na Itália contra a corrupção, ocorrido na década de 90. Considerado um dos maiores especialistas em combate à lavagem de dinheiro – e por isso atuou junto à ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão - é um estudioso do caso italiano e publicou em 2004 na revista do Conselho de Justiça Federal um artigo em que traça paralelos entre o Brasil daquela época e a Itália.
A crise política que atingiu o país, considerada uma das mais graves da História, com suas ramificações, tem ocupado tanto o espaço do noticiário e de nossa atenção que não vem permitindo mudar de foco, dando a impressão de que aqui, no nosso terreno, tudo anda melhor, o que não é bem assim.
Não foi por acaso que o ex-presidente Lula anunciou ontem a possibilidade de vir a disputar a presidência da República em 2018, ao fim de uma semana em que o boato de que estaria prestes a ser apanhado na Operação Lava-Jato dominou o mercado político brasileiro.
Deparamos, nos últimos dias, nos Estados Unidos, o desponte do vice-presidente Biden como alternativa a Hillary na sucessão de Obama. Até há pouco, o nome da ex-secretária de Estado surgia mais como uma candidatura de estrito testemunho e resistência, num quadro que se via maciçamente favorável aos republicanos.
O depoimento ontem do presidente do BNDES Luciano Coutinho na CPI, e a sabatina do Procurador-Geral da República Rodrigo Janot na Comissão de Constituição e Justiça do Senado na quarta, deixaram pelo menos alguns pontos obscuros que nossos parlamentares não souberam apontar.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, revelou ontem em sua sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado que o processo pedido pelo PSDB, com base em parecer do jurista Miguel Reali Jr., acusando a presidente Dilma Roussef de crime comum pelas pedaladas fiscais, está em curso, e estão sendo ouvidas as pessoas relacionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como responsáveis pela política econômica no primeiro governo.
O TSE definiu ontem uma maioria para abrir uma ação de investigação sobre as contas da campanha eleitoral da presidente Dilma em 2014, mudando de patamar a atuação do Tribunal com relação ao pedido do PSDB para impugnar o diploma da chapa vitoriosa por abuso de poder político e econômico.
Numa audiência com o então ministro da Educação, Cristo-vam Buarque, a que compareceram Antônio Oliveira Santos, Ernane Galvêas, Bernardo Cabral e este articulista, em 2003, foi-lhe apresentado projeto de construção de uma exemplar escola média, patrocinada pelo Sesc do Rio de Janeiro.
Os três chegaram mais ou menos ao mesmo tempo, mas de lados diferentes. Um pela direita, onde funcionava o templo "Evocação a Deus de Todos os Homens". Outro pela esquerda, na direção do cemitério clandestino, onde estavam enterrados alguns adversários da última ditadura. Finalmente, chegou o terceiro e último, que não veio de direção alguma, brotou inesperadamente do chão, num caminho de terra que não dava para nenhuma parte.