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Artigos

 
  • Nietzsche no século XXI

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ), em 27/04/2004

    Morto há mais de um século, continua Nietzsche sendo ainda motivo de escândalo, no sentido de que ele não nos deixa em paz e, por outro lado, nem nós deixamos sua memória sossegada. Parece que não nos contentamos com o que ele escreveu e exigimos que nos diga mais, que se explique e nos explique. Sentimos que ele nos abriu uma porta, mas não permitiu que entrássemos. Tendo sido ao mesmo tempo filósofo e poeta, diante de sua obra somos levados a querer mais, e só ele nos poderia saciar esta sede.

  • Proposta de paz

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP), em 27/04/2004

    Ainda está meio confuso, mas parece que os Estados Unidos, em sua aliança com Israel, dobraram-se aos argumentos de Ariel Sharon e aprovaram a caçada aos líderes palestinos, quase todos englobados como terroristas. Nem Arafat escapará dessa limpeza de terreno, que não ficará mais limpo pelo fato de fulano ou sicrano terem sido eliminados.

  • Construir a nação

    Diário do Comércio (São Paulo - SP), em 27/04/2004

    Não dou opinião por ter ou não ter uma posição de opção política do que se passa no Brasil de meus dias. O futuro é incerto, sempre - mas por observar, como jornalista, que é, exatamente, a profissão obrigatoriamente de observadores, que a nação está se enfraquecendo nas suas bases e as colunas sobre as quais se sustenta poderão ruir, ao peso das contradições, das crises sem solução, à gestão anárquica dos negócios públicos e, sobretudo, à corrupção que medra como tiririca.

  • Um projeto inteligente

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ), em 26/04/2004

    Há razões de inquietação sobre o futuro da educação brasileira. Ora é a alegada falta de dinheiro, ora é a sua má aplicação como se fosse um carma que se abateu sobre a principal das nossas prioridades. A incompetência é uma característica do setor, com as naturais exceções, o que dá como conseqüência a baixa qualidade dos serviços prestados à população. A revista “Veja” fez um ranking recente sobre o ensino superior, com dados baseados no falecido “provão”. Salvo as universidades públicas, de um modo geral, os resultados foram desastrosos. Revela-se a formação de uma geração muito pouco comprometida com a busca do conhecimento - e mais interessada no discutível diploma que, na verdade, hoje garante muito pouco em matéria de emprego.

  • E onde fica a incompetência?

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 25/04/2004

    Às vezes a gente tem a impressão de que o Brasil é o país mais explicado do mundo. Talvez seja mesmo, até porque se trata de um hábito nacional buscar entender como uma terra tão extensa e rica parece hoje sem esperanças a tantos de nós. A colonização portuguesa, no momento um pouco esquecida, já serviu de explicação principal durante muito tempo. E não relacionada a fatores históricos pouco levados em consideração, ou mesmo ignorados, mas a noções que, de tão primárias, somente denunciam o preconceito ou a desinformação de quem as perfilha. Portugal, um país minúsculo e de população pequena, chegou, durante muito tempo, a ser uma das potências mundiais mais importantes e, no entanto, seu povo seria congenitamente incapaz. Desde pequeno, ouço como teria sido tão melhor se houvéssemos sido colonizados pelos holandeses, pelos ingleses, pelos franceses e assim por diante. Aí, sim, seria sangue bom, herança genética superior, que nos teria assegurado o desenvolvimento que jamais tivemos e talvez jamais venhamos a ter.

  • Variações sobre a fé

    O Estado de São Paulo (São Paulo), em 24/04/2004

    O que caracteriza o pensamento filosófico da Idade Média, que termina com o advento do Humanismo e do Renascimento nos séculos 14 e 15, é a convicção de que a mente humana é capaz de resolver, graças à razão, os problemas que superam os limites da experiência.Já no Mundo Moderno prevalece a idéia, que veio cada vez mais se consolidando desde Bacon a Kant e os pensadores contemporâneos, de que a razão humana não tem capacidade para indagar de questões situadas no plano metaempírico, como, por exemplo, a existência ou não de Deus, a imortalidade da alma ou seu destino ultraterreno.

  • A lingüiça democrática

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) eFolha de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 23/04/2004

    Na década de 80, na América Latina, três países eram democráticos: Venezuela, Colômbia e Costa Rica. Quando da redemocratização da Argentina e do Brasil, eu e Alfonsín, na reunião de Foz de Iguaçu, início de tudo o que viria a ser a nova relação de integração no continente, com a construção do Mercosul, estabelecemos a chamada "cláusula democrática". O primeiro objetivo nosso era fazer voltar a democracia à região. Hoje, todos os países, com a pergunta sobre Cuba, respiram ares de liberdade e governos constituídos em eleições livres.

  • Ao rei tudo. Menos a honra

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 21/04/2004

    Os trabalhos legislativos corriam em Brasília, mornos e monótonos no fim daquela tarde de 3 de setembro de 1968, quando o deputado Marcio Moreira Alves, falando no ''pinga-fogo'', pronunciou um discurso que bem poderia ter ficado inédito, porque proferido para um plenário vazio e que constaria de um registro sem o menor destaque ou importância no Diário do Congresso. Dizia ele mais ou menos o seguinte:

  • O mundo e o indivíduo

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 21/04/2004

    Dois fatos, que aparentemente nada têm em comum, podem servir de reflexão para avaliarmos como ficou difícil o bem comum da humanidade. Bin Laden, que, apesar de comandar uma facção terrorista internacional, não deixa de ser um simples indivíduo, propôs uma trégua a diversos países europeus desde que sejam retiradas as tropas coligadas aos Estados Unidos.

  • O erro de Bush

    Diário do Comércio (São Paulo - SP) em, em 21/04/2004

    Quando Bush foi eleito para a presidência não depositamos em sua candidatura vitoriosa a confiança que milhões de seus compatriotas entenderam de confiar-lhe. Sua aparência de cowboy, sua rusticidade, apesar de bem casado, o fato de ser governador do Texas, um dos mais importantes Estados da União Americana, daria o crédito de que necessitávamos, pois, como é amplamente sabido, todos dependemos dos Estados Unidos em vários setores, principalmente no comercial.

  • Presença de Adonias

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, em 20/04/2004

    Os recentes 40 anos do lançamento do romance de Adonias Filho. "Corpo vivo", sua obra-prima, não obtiveram espaço na imprensa de agora, preocupada, como é natural, com o ano de 2004. Contudo eu vos digo que nesse livro está um momento de eternidade da ficção brasileira. Num país que sente a atração da novidade, novíssimo continua sendo o tipo de narrativa de Adonias Filho, inventor de um tempo.

  • Eu sou leal

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 18/04/2004

    Estava demorando um pouco, mas acabou aparecendo neste governo também. Como se sabe, a imprensa é culpada de tudo o que acontece de ruim. Tem sempre sido assim e não vai mudar. Volta e meia alguém se lembra de que o jornalismo é uma profissão perigosa, mas pouca gente de fato se preocupa com isso, até porque o perigo só é visível para a maioria quando os jornalistas estão cumprindo missões como a cobertura de guerras. Mas o perigo é bem mais amplo e, nesta minha já não tão curta vida, tenho sabido de jornalistas assassinados, agredidos, presos e até obrigados a um tipo de gastronomia peculiar à øprofissão: comer o jornal em que se escreveu alguma coisa que causou o problema denunciado. Comer jornais pode até não ser tão usual hoje em dia, a não ser que o Fome Zero tenha feito mais progressos do que os divulgados, mas, quando comecei a carreira, na Bahia, era corriqueiro, principalmente no interior. Acredito que, com a crescente desvalorização da vida, esse costume vem sendo substituído pelo assassinato mesmo. Sai mais prático e sem tantos problemas, eis que matar ou mandar matar alguém está muito fácil hoje em dia e, segundo me contam, a concorrência é tal que o serviço pode sair por algumas poucas centenas de reais, talvez pagos com cheques pré-datados ou vales-transporte.

  • Quem está fazendo a diferença II

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 18/04/2004

    Na semana passada, comentei sobre heróis anônimos, que conheci durante os encontros da Fundação Schwab. Fui convidado por Klaus e Hilde Schwab para ser um dos fundadores, e desde 2000 não deixo de me surpreender com pessoas cheias de entusiasmo, idéias novas, revolucionárias, e com responsabilidade social.

  • Risco Brasil

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP) eJornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ) em, em 16/04/2004

    As dores de cabeça do presidente Lula não devem ser poucas. Ele assumiu com uma metodologia nova, invenção dos bancos internacionais envolvidos no mercado financeiro, com uma tal avaliação diária da vulnerabilidade dos países emergentes. No nosso caso, apareceu um chamado "Risco Brasil", que a cada dia baixa e sobe, com motivações complexas que ninguém sabe verdadeiramente como se constroem.