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Artigos

 
  • Agora só falta um ato institucional

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 15/08/2004

    Em episódio que não sei mais se se estuda na História do Brasil, pois nem mesmo sei se ainda se estuda História do Brasil, nos contavam, às vezes com admiração, que D. Pedro, o da Independência, irritado com a primeira Assembléia Constituinte brasileira, por ele considerada folgada e ousada, encerrou a brincadeira e outorgou a Constituição do novo Estado. Decerto a razão não é esta, é antes um sintoma, mas vejo aí um momento exemplar da tradição de encarar o Estado (que, na conversa, chamamos de “governo”) como nosso mestre e os nossos direitos como por ele dadivados. Os governantes não são mandatários ou representantes nossos, mas patrões ou chefes.

  • Transformando o tempo

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 15/08/2004

    TROCO MUITA CORRESPONDÊNCIA eletrônica com Stephan Rechtschaffen, médico que fundou o bem-sucedido Omega Institute em New York. Fui convidado para dar uma palestra lá, mas precisei cancelar em cima da hora. Em seguida, Stephan e eu fomos contactados para juntos nos apresentarmos em Viena, na Áustria, e desta vez cancelei por achar o preço que estavam cobrando absurdamente alto. O fato é que estes percalços, em vez de me afastarem dele, terminaram nos aproximando (o mundo tem situações curiosas).

  • Variações sobre a segurança

    O Estado de São Paulo (São Paulo), em 14/08/2004

    A segurança pessoal e social constitui uma das aspirações primordiais geradas pelo progresso da civilização, até o ponto de que todos nós temos o poder-dever de aspirar por uma ordem pacífica na esfera individual e coletiva.

  • Uma baleia na eleição

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP), em 13/08/2004

    O Rio de Janeiro já foi um porto pescador de baleias. Elas entravam na baía de Guanabara e ali ficavam bailando, como área de alimentação e de criação. Os homens as espantaram na matança secular a que a espécie foi submetida.

  • Querem assassinar o português

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 12/08/2004

    Para abordar o tema, que é recorrente, na cultura brasileira, vale a pena recordar de início um instigante pensamento do escritor mexicano Octavio Paz: “Quando um país se corrompe, a primeira coisa que se degrada é a linguagem.”

  • Gilberto Freyre, o intérprete do Brasil

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ), em 11/08/2004

    Há pessoas que nascem para a realização de uma obra inovadora e há escritores que, desde o começo, parecem destinados a escrever certos livros. Gilberto Freyre inclui-se entre os predestinados a realizar uma missão histórica. Nasceu em Pernambuco e entrou para um colégio americano, onde o idioma inglês se tornou a sua segunda língua. Seu pai fez questão de que ele fosse para os Estados Unidos, onde adquiriu os pressupostos metodológicos essenciais ao estudo da sociedade escravocrata brasileira e do patriarcado rural.

  • O método em Proust

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ), em 10/08/2004

    Há sempre, no caso do maior escritor do século XX, que se atentar para o Método. Pois nisto reside o plano mais largo da obra de Marcel Proust. Livros como o de Edmund White, da maior utilidade no entendimento das "experiências proustianas", estuda com pormenores as figuras que cercaram Proust, principalmente Robert de Montesquieu, mas não se preocupa demasiadamente com a técnica literária do autor.

  • A unidade ortográfica

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP), em 10/08/2004

    Velhíssima questão a da unidade ortográfica do português usado no Brasil e em Portugal. Que a prosódia seja diferente, é natural. Num país imenso como o nosso, há diversas formas de pronunciar as palavras, e o próprio vocabulário admite expressões regionais - o mesmo acontecendo com todas as línguas do mundo.

  • O sucesso escolar

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ), em 09/08/2004

    Durante muitos anos, discutimos as causas do fracasso escolar. Seria falta de recursos, poderia ser o despreparo dos professores, seus baixos salários, currículos excessivamente dimensionados ou até mesmo uma imensa e demorada crise de auto-estima, gravando os sistemas.

  • Saúde para dar e vender

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 08/08/2004

    Acho que estou me tornando um exemplo para a terceira idade, que, aliás, não sei bem o que é, pois uns me dizem que começa aos 60, outros aos 65. Mas já me chamaram de ancião mais de uma vez e venho me adaptando esplendidamente à situação, depois de alguns percalços normais para um principiante. Claro, não sou perfeito e admito que prossigo adiando para a segunda-feira (não esta que vem aí, que está muito em cima; a outra) minha volta ao calçadão. Receio fazer uma imediata legião de desafetos, mas a verdade é que já tentei, já até fixei um sorriso hipócrita na cara ao chegar ao calçadão, mas abomino andar nele, a dolorosa realidade é esta, não dá mais para esconder. Nunca me senti bem nem antes nem depois, mesmo insistindo durante meses. Devo padecer de endorfinopenia incurável, expressão que acho que acabo de inventar agora, para descrever a conclusão de que as famosas endorfinas não gostam, ou desistiram, de aparecer no meu organismo. Será talvez uma das incontáveis deficiências que a Natureza me dadivou, mas o único efeito que andar no calçadão exerce em mim é encher o saco - sem pretender deslustrar nenhum andador extremado, respeito a opção sexual de todos, sou muito politicamente correto.

  • Um tiro no pé

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ), em 06/08/2004

    Em agosto de 1954, exatamente no dia 5, completando agora 50 anos, ocorreram o atentado da rua Tonelero a Carlos Lacerda e a morte do major Rubens Vaz, início do processo que levaria à morte de Vargas. Lacerda foi o maior orador parlamentar que conheci. Ele sabia ser violento, contundente, sarcástico e temerário. Mas era brilhante.

  • Monstros contra deuses

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ), em 04/08/2004

    Sucesso em Hollywood depende menos de talento e mais de estar no lugar certo na hora certa, dizia William Henry Pratt, ator inglês que emigrou para os Estados Unidos em 1913, adotou o nome de Boris Karloff e tornou-se mundialmente conhecido ao interpretar o monstro no filme Frankenstein, do diretor James Whale. O lugar certo para Karloff alcançar o sucesso foi a lanchonete do estúdio da Universal, em Hollywood, onde o diretor Whale tomava chá gelado e, ao vê-lo, impressionou-se com seu rosto.

  • Almoço de trabalho

    Folha de São Paulo (São Paulo - SP), em 04/08/2004

    Por obra e desgraça de um amigo, fui convidado a uma façanha que sempre evitei: um almoço de trabalho. Já ouvi falar em café da manhã igualmente de trabalho, como sempre ouvi falar de disco-voador e de mula-sem-cabeça.

  • Presença de Cyro

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ), em 03/08/2004

    Mesa-redonda, promovida na semana passada pela Academia Brasileira de Letras, tratou da obra de Cyro dos Anjos, sobre a qual falamos Ledo Ivo, Sábato Magaldi e o autor destas linhas.