Durante muitos anos, discutimos as causas do fracasso escolar. Seria falta de recursos, poderia ser o despreparo dos professores, seus baixos salários, currículos excessivamente dimensionados ou até mesmo uma imensa e demorada crise de auto-estima, gravando os sistemas.
Hoje, ainda de forma lenta, mas progressiva, anota-se um interesse maior pela escola. Fala-se numa discutível universalização, mas é evidente que há mais gente freqüentando os bancos escolares, resultado talvez da motivação mais presente na sociedade brasileira.
E surgiu uma novidade, com a inversão das expectativas. Ao contrário do fracasso escolar, discute-se o sucesso escolar, como meta de que não podemos nem devemos nos dissociar. Converso com o secretário de educação do Estado do Rio de Janeiro, professor Cláudio Mendonça, e me surpreendo com o seu entusiasmo, no que representa a segunda unidade econômica do País. O Rio de Janeiro, no seu sistema de ensino, está vivendo uma fase inusitada, fruto certamente de uma preocupação saudável com a qualidade, outrora relegada a uma categoria inferior.
Conta-me o jovem educador que o seu projeto, intitulado "O sucesso escolar", está indo de vento em popa, com o pleno apoio da governadora Rosinha Garotinho, para que dê frutos no menor espaço de tempo possível. De que se trata? Cláudio, com entusiasmo, afirma que já fizemos todo tipo de experiência, nacional ou estrangeira, na avaliação da rede pública. Temos a reprovação pura e simples substituída pela aprovação automática, de resultados praticamente nulos. As crianças chegam à oitava série do ensino fundamental sem entender o que são capazes de escrever, sem autonomia de raciocínio, sabendo muito pouco de disciplinas essenciais, como é o caso da Matemática. Isso é bom para o futuro dessa gente? Trata-se na verdade de um exercício falho do que entendemos por cidadania. Não será assim que voltaremos a liderar a educação brasileira.
A providência foi criar o projeto ligado ao sucesso escolar. Iniciado durante as férias escolares, irá até o fim de dezembro, melhorando os índices de aprovação dos alunos da rede pública e promovendo uma discussão pedagógica com professores e especialistas sobre métodos de ensino e avaliação. Haverá aulas de reforço para alunos de 200 unidades que apresentam maiores dados de evasão e repetência. O acompanhamento será feito também em outras 600 escolas, através de psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, para conversas com os mestres de cada unidade. O objetivo é melhorar a avaliação do aluno e a abordagem de determinadas disciplinas. A preferência é pela utilização de recursos humanos da própria escola.
Pretende o secretário Cláudio Mendonça, agradável surpresa, atingir 80 mil alunos, com quase mil turmas. Modesto, ele afirma que a iniciativa chegou-lhe aos ouvidos numa reunião com 80 diretores. Tem o mérito de ter sabido ouvir, o que se faz tão pouco. O sucesso escolar será uma realidade.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) 09/08/2004