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Artigos

  • Netas de Tiradentes

    Fiquei com pena de Tiradentes. De repente está passando à história como sugador da nação. Tinha tantos privilégios que até hoje transmite a quatro trinetos pensões de dois salários mínimos. Não temos realmente o gosto de fazer justiça. O maior de todos os heróis brasileiros não pode ser alvo de notícias que podem levar a conclusões erradas.

  • Uns tirinhos no Egito

    Neste mundo globalizado, de informação em tempo real, o contágio e a imitação fazem com que nada fique isolado e tudo se propague, se expanda como um rastilho de fogo. A internet livre e sem fronteiras fez com que o desejo de sacudir o jugo dos domínios partisse da Tunísia para Egito, Argélia, Jordânia, Barein, lêmen e agora Líbia. Não sendo profeta, apenas vejo que a Arábia Saudita é a próxima vítima ou protagonista.

  • O fogo se espalha

    "A ideia da liberdade não morre nunca" - esta frase foi do herói grego Leônidas, que, mesmo morto, indagado pelo seu inimigo Xerxes, disse esta eterna verdade. Oriente Médio, Golfo Pérsico, Mar Vermelho, Mediterrâneo - diga-se Egito, Líbia, Iêmen, Tunísia, Argélia, Bahrein, Marrocos - há muito tempo preocupam o Ocidente.

  • Eu não morri

    A frase do título foi do meu conterrâneo Gonçalves Dias, quando, naquele tempo da navegação à vela, em que as notícias iam pelo vento, os jornais do Rio de Janeiro noticiaram a sua morte.

  • Maracujá de época

    Descartes, o mais notório dos filósofos que defenderam a "dualidade substancial", isto é, que os homens possuem o corpo e a alma totalmente independentes, um e outra separados, certamente nunca viu nem podia ver um Carnaval brasileiro. É uma festa popular -e demonstrativa de que não há separação alguma.

  • Da minha dita intimidade com o poder

    Outro dia, o grande jornalista e meu amigo, Ancelmo Góis, em sua notável coluna, assegurou que a  minha História da Literatura Brasileira foi levada  pelo dinâmico editor da Leya, de São Paulo, para o senador e  escritor José Sarney e esse levou em mãos um exemplar para Dilma Rousseff, o que me deixou contente. Não por ter intimidade com o poder - já que até agora não me foi conferida essa faculdade, e os que a tem,devem guardá-la eficazmente para si.Nem por ser velho amigo da presidenta (vou usar essa expressão em sua homenagem), já que é a primeira mulher, entre nós, a execer tal cargo e o conhecimento da língua não o veda), desde o Rio Grande do Sul, de onde vim e ela viveu longo tempo e ocupou cargo importante.Se minha intimidade é a convivência da mesma terra e se esse "conviver" nos proporciona o mesmo clima, a mesma paisagem, a mesma temperatura do coração, então sim. Pois a terra é sempre um dom, equilíbrio e nascença da alma. Mas a paixão por Guimarães Rosa que nos une, e a justeza do empenho em trazer de volta ao Brasil Abaporu de Tarsila do Amaral.

  • Chores por mim

    Foi de Lovelock a expressão de que a Terra é um ser vivo. Em sua bilionária história, milhões de vezes ela deu sinal de que ainda não morreu solitária, com um sol apagado.

  • Crise inesperada

    A Líbia não estava na linha de tiro dos Estados Unidos nem da Otan. Com o Iraque, depois de longos anos de guerra fria, todos previam, sem nenhuma contestação, que o desfecho seria um confronto armado.

  • Tapas e beijos

    Nossas relações com os EUA foram sempre de altos e baixos. Não uma incompatibilidade de gênios, mas uma intolerância de comportamentos. Nessa relação, houve momentos românticos e instantes de rusgas.

  • Alencar e seu destino

    No meu tempo, não vi um político ser objeto de opinião tão unânime e receber uma solidariedade tão sem contrastes de todos os segmentos da sociedade quanto José Alencar.

  • O sangue das meninas

    0 Brasil inteiro está tomado de grande comoção e também de grande revolta. Não fomos feitos para viver tragédias desse tipo. Em Realengo, no Rio de Janeiro, um fronteiriço, possesso —esta é a palavra— entre a loucura e a maldade, invade uma escola e atira nos alunos que estavam em classe, faz tombar mortos dez meninas e dois meninos, além de ferir mais 13 estudantes, alguns gravemente.

  • Os plebiscitos

    O trauma provocado pela tragédia de Realengo fez o senador José Sarney pensar em propor um plebiscito (na verdade, um referendum) sobre o uso e a venda de armas.

  • A velha Europa

    Há alguns anos não voltava à Europa. Vejo-a deprimida, como numa sensação de crise insuperável, um pouco aquilo que viveu o Brasil durante muitos anos: o famoso abismo, "estamos à beira do abismo", que o nosso Jânio, no seu pernosticismo verbal, chamava de "dédalo". Desapareceu o brilho dos seus encantos. O contraste com o nosso ânimo é imediato. Saímos da euforia de um Brasil que cresce, em que há empregos e a autoestima voltou e que já fala grosso nos fóruns mundiais.

  • O diabo Bin

    0 mundo midiático transformou santos e diabos em uma vivência coletiva e não mais, como em outros velhos tempos, numa força individual. Logo, eles ganham corações e ódios que se espalham por toda a humanidade. Osama Bin Laden conseguiu aquilo que parecia impossível de ser conseguido: atacar o território dos Estados Unidos. O atentado as torres gêmeas, com quase 3.000 mortos, ocorreu em solo americano e despertou o medo e, mais ainda, o desejo de vingança, transformado em sentimento patriótico.

  • Emigrações, passos do futuro

    Há alguns anos participei em Quéretaro, no México, de uma reunião internacional — na qual entre os presentes estavam Henry Kissinger, Robert McNamara, Takeo Fukuda, Helmut Schmidt e muitos outros experts e estadistas mundiais —, que discutiu os problemas do futuro da humanidade, tema recorrente no InterAction Council. Dois problemas se destacavam entre os muitos que teriam de ser geridos pelos estados nacionais: as migrações e o balanço alimentar.