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2016
Em nossa história política, o ano de 2016 ficará provavelmente conhecido pelo impedimento da presidente da República, embora troca de presidentes fora do calendário eleitoral não seja novidade entre nós.
Em nossa história política, o ano de 2016 ficará provavelmente conhecido pelo impedimento da presidente da República, embora troca de presidentes fora do calendário eleitoral não seja novidade entre nós.
Não sei quando, mas, na passagem de um ano para outro, entrevistaram Jânio Quadros, que já havia renunciado à Presidência da República. Perguntaram-lhe o que ele achava dos 12 meses que estavam acabando. Ele respondeu: "Foi um ano poltrão".
Nessa mesma época do ano passado, eu começava uma crônica fazendo ironia: “Quem sabe saindo de cena por uns tempos eu não ajude a resolver a crise política? Se ninguém se considera responsável por ela — nem Dilma, nem Temer, nem Renan, muito menos Cunha — vai ver que o culpado sou eu. Por isso, vou tirar umas semanas de recesso, junto com o do Congresso”.
Ninguém manda em ninguém, mas também ninguém obedece. Essa parece ser uma boa definição da situação atual do país, quando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) discutem entre si publicamente, o Legislativo entra em choque com o Judiciário, e o Judiciário tira da cartola interpretações variadas, de acordo com o juiz ou o ministro que tome a decisão.
Em meio à verdadeira cruzada do senador Renan Calheiros contra o Poder Judiciário, na tentativa obsessiva de aprovar uma legislação que o coloque sob controle, o presidente do Senado vem encontrando, nas falhas das acusações, motivos suficientes para ganhar tempo nas diversas denúncias que tem contra si.
Estamos vivendo uma fase de transição no que se refere ao ensino médio. Há um convencimento geral de que essa etapa intermediária vai muito mal, depois de uma série de tentativas de mudanças. Tivemos o ensino profissionalizante obrigatório, em 1971, com resultados verdadeiramente decepcionantes. Contribuiu para isso a falta de professores especializados e a ausência de laboratórios e bibliotecas devidamente apetrechados.
O Brasil é um país que tenta sem sucesso recuperar o tempo perdido. O Congresso aprovou ontem a limitação dos gastos públicos 11 anos depois que essa proposta foi apresentada pela primeira vez, justamente por um ministro da Fazenda petista, Antonio Palocci, apoiado por um ministro do Planejamento petista, Paulo Bernardo, que foram bombardeados pela ministra também petista da Casa Civil Dilma Rousseff.
Em meio à tensão, soaram como alívio declarações do comandante do Exército de que há chance zero de setores das Forças Armadas se encantarem com a volta ao poder.
Lembro-me do susto e da alegria, da viva emoção na primeira leitura de Poema sujo, adolescente ainda, quando a descoberta do mundo, dentro e fora dos livros, era uma demanda feroz, uma correnteza impiedosa e selvagem. Lembro-me do céu azul, naquela tarde de sábado. Lembro da livraria, em Niterói, da segunda estante do lado esquerdo. E o coração, que batia forte, e do mesmo lado, não me deixava fechar o livro, que continua, desde a década de setenta, vertiginosamente aberto.
Embora faça parte de sua estratégia de defesa, e insinue a possibilidade de anulação da delação do executivo da Odebrecht que o denunciou, o presidente Michel Temer fez bem em chamar a atenção da Procuradoria Geral da República sobre a necessidade de dar celeridade aos processos envolvendo parlamentares dentro da Operação Lava Jato.
A morte de Fidel deu-nos, ineditamente, o que seja a recuperação de um cânon no imaginário político do nosso tempo. Desfrutamos, neste último quinquênio, da convivência com o jogo feito, nada à lembrança, mas ao melhor cotidiano em um dado recado. A imagem icônica tornava-se intemporal na vigília da idade, do corte da figura, na moldura de uma definitiva contemporaneidade. A Cuba de Fidel viveu de uma saturação carismática em que os lances iam mais ao brio do gesto, do que, efetivamente, a contabilização de seus resultados.
É impressionante tomar conhecimento das negociações por baixo dos panos entre parlamentares os mais diversos, dos vários partidos, e diretores da empreiteira Odebrecht, uma empresa que se organizou na clandestinidade para tratar de maneira profissional as demandas dos políticos, que por sua vez organizaram suas carreiras com base no financiamento ilegal de campanhas eleitorais, muitos sabendo que na maior parte tratava-se pura e simplesmente de propina.
A oposição e a situação, apesar das muitas divergências entre si, são entusiastas da solução "educação e saúde", a besta negra que apontam como a necessidade maior do país. Por mais que pareça incrível, foi essa a meta principal (educação e saúde) durante o longo regime comunista instaurado e mantido por Fidel Castro e seus companheiros de revolução.
Por se achar bem maior do que ele, ou então acostumado com a guerra, precisava se alongar no usufruto da paz. Mandou sua esposa representá-lo na entrega do galardão, em Estocolmo. Sartre teve uma atitude mais peremptória e orgulhosa: recusou-se a recebê-lo.
Nessa fase de transição que estamos vivendo, sem saber ao certo aonde vamos parar, a cena política está embaralhada por percepções misturadas, e o país vai ficando um pouco menor. Há um espírito novo nas ruas, e na atuação da Operação Lava Jato que aponta para dias melhores, com o estabelecimento de linhas claras que não podem ser ultrapassadas no trato da coisa pública.