Lá vem ou lá foi, eis a questão
O Globo (RJ), em 30/12/2007
Não sei se alguém já disse isto, mas tudo neste mundo é relativo. Por exemplo, não escondo ou diminuo minha idade, embora não censure quem o faça, mas tampouco a aumento, como já foi minha prática corriqueira. Ao matutar agora, neste fim de ano que como sempre nos traz um estado de espírito diferente, lembro o tempo comoventemente patético em que, na companhia de amigos corajosos, dispensava a carteira de estudante que, em troca da meia-entrada, me denunciava a idade, para enfrentar com a bravura possível a severidade do porteiro do cinema, quando estava passando "filme impróprio". Entregava meu ingresso e me embarafustava pela passagem, antes que meu rosto imberbe e cheio de espinhas chamasse a atenção do porteiro. A maioria deles era simpática, mas havia um (não esqueço a cara dele, baixinho de bigode, hoje certamente falecido e Deus o tenha, embora eu não faça tanta questão), no antigo Cine Glória em Salvador, que me pegava sempre e que quase me fez perder a cena em que aparecia um peito de Françoise Arnoul, num filme em que ela era amante de Fernandel.