O diretor foi responsável por alguns dos mais importantes filmes do cinema brasileiro a partir da década de 1960 e dirigiu 17 longa-metragens em mais de 60 anos de carreira. Diegues foi também um dos fundadores do Cinema Novo e membro da Academia Brasileira de Letras. Prova de sua importância para o cinema brasileiro é que sete de seus filmes foram escolhidos para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional.
Devido a tudo isso, decidimos listar 13 produções fundamentais da filmografia de Diegues, com o intuito não apenas de homenageá-lo, mas também de ajudar nosso leitor a conhecer melhor a obra desse gigante do cinema nacional. A seguir apresentaremos uma breve biografia de Diegues e depois listaremos em ordem cronológica 13 filmes marcantes da filmografia de Cacá Diegues. Sem mais delongas, vamos lá.
Cacá Diegues – Um alagoano carioca
Carlos José Fontes Diegues nasceu em Macéio, a capital das Alagoas, em 19 de maio de 1940. Diegues era filho de um antropólogo e uma fazendeira e quando ele tinha apenas seis anos de idade sua família se mudou para o Rio de Janeiro, se instalando no tradicional bairro de Botafogo. Foi alí que o futuro cineasta passou praticamente toda a sua infância e adolescência, inclusive, estudando no tradicional Colégio Santo Inácio, instituição católica de ensino particular, localizada no bairro.
Ao concluir os estúdos no colégio, Diegues ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) para estudar direito. Assim que ingresou na universidade, Diegues já ingressou também na vida política universitária, se tornando presidente do Diretório Estudantil e fundando um cineclube. Nessa época também, ele dirige seu primeiro curta-metragem, Fuga (1959). Ainda nessa época, ele também conhece o futuro crítico de cinema e cineasta David Neves e o futuro cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, que se tornaria um dos maiores nomes do cinema nacional.
Ainda na PUC-Rio, Diegues dirige o jornal O Metropolitano e ingressa no Centro Popular de Cultura, que teriam papel fundamental na fundação do Cinema Novo, do qual Diegues seria uma dos fundadores, ao lado de outros grandes nomes do cinema nacional, como Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni e Joaquim Pedro de Andrade. Em 1961, Diegues dirige seu terceiro curta-metragem, Domingo, ao lado de David Neves e Affonso Beato. A produção seria uma das mais importantes do período inicial do cinema novo.
Em 1962, Diegues participa da realização de Cinco Vezes Favela, longa-metragem que é um dos marcos do Cinema Novo. O cineasta dirige um dos cinco episódios do filme, cujos outros quatro episódios foram dirigidos por Marcos Farias, Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Dois anos depois, em 1964, Diegues dirige seu primeiro longa-metragem solo Ganga Zumba. O filme é seguido pelo curta-metragem A Oitava Bienal (1965) e por seu segundo longa-metragem, A Grande Cidade (1966).
Diegues ainda dirigiria o curta-metragam Oito Universitários (1967) e o longa-metragem Os Herdeiros (1969), antes de sair do Brasil devido a decretação do AI-5, durante o regime militar. Nesse período, o diretor mora na França e na Itália. De volta o Brasil, ele dirige os longa-metragens Quando o Carnaval Chegar (1972) e Joanna Francesa (1973), esse último uma co-produção com a França protagonizado pela consagrada atriz e cantora francesa Jeanne Moreau.
Diegues dirige mais dois curtas-metragens até que em 1976 ele coloca seu nome de vez na história do cinema brasileiro com Xica da Silva (1976). O filme se torna um imenso sucesso de público, levando mais de 3 milhões de pessoas aos cinemas e consagrando sua protagonista, a atriz Zezé Motta. Com Xica da Silva, Diegues se torna um diretor popular, mas começa a desagradar parte da crítica, já que o diretor começa a se afastar dos filmes políticos e do Cinema Novo.
Logo depois, em 1978, Diegues confirma a nova direção de seu cinema, com o lançamento do drama Chuvas de Verão. Ainda nos anos 1970, ele ainda dirige Bye Bye Brasil, considerado por muitos seu melhor filme e também amplamente considerado uma das produções mais importantes do cinema brasileiro nos anos 1970. Diegues, inicia os anos 1980, com Quilombo (1984), uma co-produção franco-brasileira e que remonta seu primeiro longa-metragem, Ganga Zumba.
Durante a segunda metade dos anos 1980, o Brasil passa por um momento econômico complicadíssimo e o cinema nacional é bastante afetado. Mesmo assim, nesse período, Diegues consegue dirigir dois longas-metragens, Um Trem para as Estrelas (1987) e Dias Melhores Virão (1989). Com a retomada do cinema nacional após a redemocratização, Diegues dirige Veja Esta Canção, em 1994, e Tieta do Agreste, em 1996. Esse último baseado no livro de Jorge Amado e que também se tornaria um de seus filmes mais conhecidos.
Ainda nos anos 1990, Diegues dirige Orfeu (1999) e no início dos anos 2000, dirige outro de seus clássicos, Deus É Brasileiro (2003), protagonizado por Antônio Fagundes e por Wagner Moura, em início de carreira. O cineasta ainda dirige O Maior Amor do Mundo (2006) e depois fica 12 anos sem dirigir um filme antes de O Grande Circo Místico, em 2018, o que seria seu último filme lançado em vida.
Diegues estava a frente Deus Ainda É Brasileiro, um spin-off de Deus é Brasileiro, quando faleceu em 14 de fevereiro de 2025, aos 84 anos de idade, vítima de uma parada cardiorrespiratória. O filme deve ser lançado ainda nesse ano. Além de cineasta, Diegues também era escritor, cronista e ensaísta e, por isso, em agosto de 2018, foi escolhido para ocupar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras. Durante seus mais de 60 anos de carreira, Diegues teve seus filmes selecionados para competir em festivais de cinema importantes, como os festivais de Cannes, Veneza, Berlim, Nova York e Toronto, entre outros.
Diegues também foi um dos poucos cineastas brasileiros que durante um período complicado do cinema nacional conseguiu produzir cinema comercialmente no Brasil e conseguiu também que seus filmes fossem distribuídos nos Estados Unidos e em países da Europa. Por isso, ele acabou se tornando um dos rostos mais conhecidos do cinema brasileiro no exterior.
Isso também explica porque sete de seus filmes foram escolhidos para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional. Número recorde, que nunca foi alcançado, até hoje, por nenhum outro cineasta brasileiro. Por tudo isso, Diegues foi nomeado oficial da Ordem das Artes e das Letras (l’Ordre des Arts et des Lettres), na França, e também membro da Cinemateca Francesa. Além disso, ele também recebeu o título de Comendador da Ordem de Mérito Cultural e a Medalha da Ordem de Rio Branco, honrarias concedidas pelo governo brasileiro
Agora que você conhece Cacá Diegues um pouco melhor vamos a lista de 13 filmes marcantes da filmografia do diretor. Lembrando que esses filmes foram escolhidos mais por sua importância do que por sua “qualidade”. Até porque, essa último conceito é mais subjetivo. Por esse motivo também, a lista será apresentada em ordem alfabética para evitar que os filmes sejam ranqueados. Sem mais demora, vamos a lista.
Cinco Vezes Favela (1962) – Primeiro longa-metragem com participação de Cacá Diegues
Lançado em 1962, Cinco Vezes Favela pode ser considerado o primeiro longa-metragem da carreira de Cacá Diegues, apesar de ele só ter dirigido um dos seguimentos do filme, que consiste em cinco histórias separadas unidas apenas pela temática em comum: a favela. Cada uma das cinco histórias é dirigida por um diretor diferente. Além de Diegues, os outros diretores são Marcos Farias, Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Os dois últimos, se tornariam grandes nomes do cinema brasileiro.
Produzido pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), Cinco Vezes Favela foi realizado com recursos escassos. No entanto, o filme é atualmente considerado uma das obras pioneiras e um dos grandes expoentes do Cinema Novo. Além disso, Cinco Vezes Favela teve um papel fundamental na carreira de Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman já que foi o primeiro longa-metragem dos três, apesar de a direção ter sido “compartilhada”, que se tornariam nomes importantes do cinema nacional.
Ganga Zumba (1964) – Primeiro longa-metragem de Cacá Diegues
Ganga Zumba é o primeiro longa-metragem solo de Cacá Diegues, já que Cinco Vezes Favela (1962), como dito acima, foi dirigido em conjunto com outros quatro cineastas. Em Ganga Zumba, Diegues conta a história do líder quilombola de mesmo nome que governou o famoso Quilombo de Palmares antes da ascenção ao poder de Zumbi, mas conhecido líder daquele quilombo.
No filme, Antônio Pitanga interpreta Ganza Zumba, em um elenco que conta ainda com Léa Garcia, Eliezer Gomes, Luíza Maranhão, Tereza Raquel e Jorge Coutinho. Além disso, a produção conta também com a participação do músico Cartola e de sua esposa, Dona Zica da Mangueira. Como era comum no Cinema Novo, Ganza Zumba foi filmado em preto e branco e em locação, em Alagoas, onde fica localizado atualmente a região que naquela época era ocupada pelo Quilombo de Palmares. O filme também conta com uma trilha sonora composta por Moacir Santos e canções interpretadas por Nara Leão, que se tornaria esposa de Diegues alguns anos depois.
Joanna Francesa (1973)
Segundo longa-metragem que Cacá Diegues dirigiu depois de voltar do exílio, Joanna Francesa é protagonizado pela consagrada atriz e cantora francesa Jeanne Moreau. No filme, Moreau intrerpreta a dona de um famoso prostíbulo na São Paulo dos anos 1930, que aceita acompanhar um de seus clientes, o Coronel Aureliano, até seu engenho de açúcar em uma pequena cidade do interior de Alagoas. Lá, ela conhece a família do coronel, incluindo seus filhos e sua esposa moribumda, e também tem que lidar com as questões políticas e econômicas locais.
No elenco de Joanna Francesa, além de Moreau, temos Carlos Kroeber, no papel de Coronel Aureliano, além de Eliezer Gomes, como Gismundo. Além deles temos ainda a atuação de Ney Santanna, Helber Rangel e Lélia Abramo, entre outros. Antônio Pitanga, ator frequente dos filmes de Diegues, também faz uma pequena participação em Joanna Francesa, assim como também Fernanda Montenegro, que só “aparece” através de sua voz.
Joanna Francesa conta ainda com uma trilha sonora escrita por Chico Buarque e Roberto Menescal e temas cantados por Fagner, pela própria Jeanne Moreau e por Nara Leão, que na época, era casada com Diegues. Joanna Francesa foi rodado majoritariamente em locação em União dos Palmares, Alagoas. Local onde no século XVII ficou localizado o famoso Quilombo de Palmares que é tema recorrente da obra de Diegues.
Xica da Silva (1976) – Maior sucesso comercial da carreira de Cacá Diegues
Sexto longa-metragem de Cacá Diegues, se não contarmos Cinco Vezes Favela (1962) que foi dirigido em conjunto com outros quatro cineastas, Xica da Silva foi o filme que consagrou o diretor tornando-o extremamente popular no Brasil e também no exterior. O enorme sucesso comercial do filme fez com que Diegues assumisse o status de um dos principais nomes do cinema brasileiro.
Em Xica da Silva, Diegues conta a história real de Chica da Silva, escrava que viveu na região onde hoje fica Diamantina, em Minas Gerais, e que após conquistar o coração do rico contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, não apenas foi alforriada, mas se casou com ele, ascendendo a uma posição de destaque na sociedade local da época, quebrando com isso diversos paradigmas sociais que existiam.
Xica da Silva é protagonizado por Zezé Motta, no papel que a tornou nacionalmente conhecida e por Walmor Chagas, como João Fernandes de Oliveira. O elenco conta ainda com as atuações de Altair Lima, Elke Maravilha, Stepan Nercessian, Rodolfo Arena e José Wilker. A trilha sonora do filme foi escrita por Jorge Ben Jor e Roberto Menescal. Ben Jor escreveu ainda a canção “Xica da Silva” para o filme. A canção acabou se tornando um sucesso e uma das canções mais conhecidas de seu repertório.
Xica da Silva foi um enorme sucesso de bilheteria, sendo visto por mais de 3 milhões de espectadores se tornando a obra comercialmente mais bem sucedida da carreira de Cacá Diegues. O filme também foi o maior vencedor do Festival de Brasília daquele ano, levando para casa os Candangos de Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz, para Zezé Motta. Apesar disso, parte da crítica especializada recebeu com frieza o filme por ele representar um momento de virada na carreira de Diegues, que começava a abandonar o Cinema Novo e os filmes mais políticos.
Xica da Silva transformou Zezé Motta em uma atriz nacionalmente conhecida e tornou Cacá Diegues um diretor comercialmente fiável. Além disso, como dito acima, ele marca uma virada na carreira do diretor que dalí em diante começou a fazer filmes mais populares, desviando-se um pouco da cartilha do Cinema Novo e, de alguma forma também, abandonando os filmes mais politizados. Apesar de a crítica política e social estar sempre presente em toda a obra de Diegues. Por tudo isso, Xica da Silva é um dos filmes mais importantes da filmografia do diretor.
Chuvas de Verão (1977)
Logo após o sucesso de Xica da Silva, Cacá Diegues resolveu dirigir o drama Chuvas de Verão, que foca na vida de um funcionário público recém-aposentado, Afonso, e seu relacionamento com as pessoas a sua volta, incluindo sua vizinha também aposentada, Isaura. O filme toca em uma tema tabu para a época, que é o amor e o sexo na terceira idade. Inclusive, uma das cenas mais marcantes de Chuvas de Verão causou enorme polêmica quando o filme foi lançado e é atualmente considerada revolucionária por muitos, justamente por retratar uma cena de sexo e nudez na terceira idade.
Miriam Pires, que protagonizou Chuvas de Verão ao lado de Jofre Soares, inclusive, quase recusou o papel no filme justamente por acreditar que já não tinha mais idade para expor seu corpo em cena. Além de Miriam Pires e Jofre Soares, o elenco do filme também conta com as atuações de Paulo César Pereio, Rodolfo Arena, Daniel Filho e Marieta Severo, entre outros. Seguindo a tradição dos filmes de Diegues, a trilha sonora de Chuvas de Verão foi composta por um grande nome da música brasileira, Paulinho da Viola.
Na época de seu lançamento, Chuvas de Verão foi recebido com frieza pela crítica especializada, que já não havia se empolgado tanto assim com o filme anterior de Diegues, Xica da Silva. Até porque, as produções representavam um claro afastamento de Diegues dos preceitos do Cinema Novo. Afastamente esse que muitos críticos não aceitavam. Isso fez com que Diegues desse uma longa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, onde denunciava o que ele chamada de “patrulhas ideológicas”, que seriam integradas por jornalistas ligados ao Partido Comunista Brasileiro (que era clandestino na época) que teriam como “missão” detrair qualquer produto cultural que não fosse alinhado aos valores que esse grupo considerava politicamente corretos.
A entrevista de Diegues repercurtiu bastante nos meios intelectuais e culturais brasileiros e a expressão “patrulhas ideológicas” é amplamente utilizada até os dias atuais. Apesar dessa recepção pouco calorosa na época, Chuvas de Verão é atualmente considerado um dos melhores filmes de Cacá Diegues e é uma de suas duas produções incluídas na lista de 100 Melhores Filmes Brasileiros de Todos os Tempos da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).
Bye Bye Brasil (1979) – Melhor filme de Cacá Diegues
Seguindo a sequência de bons filmes nos anos 1970, em 1979 Cacá Diegues dirigiu a comédia dramática Bye Bye Brasil, protagonizada por José Wilker e Bety Faria. A obra conta a história de um circo decadente tentando sobreviver as mudanças trazidas pela popularização da televisão nos anos 1970. Fato que tira do circo seu principal público, os moradores de cidades pequenas do interior do Brasil que por ainda não possuirem televisão buscam por outras formas de entretenimento.
Além de Wilker e Faria, o elenco de Bye Bye Brasil conta ainda com Fábio Júnior, Zaira Zambelli, Jofre Soares, Príncipe Nabor e Marieta Severo, entre outros. Bye Bye Brasil é o segundo filme de Diegues a ser produzido por Luiz Carlos Barreto, que produziu o filme ao lado de sua esposa, Lucy Barreto. Como ocorre com praticamente todos os filmes de Diegues, a trilha sonora de Bye Bye Brasil foi composta por três grandes nomes da música brasileira, Chico Buarque, Roberto Menescal e Dominguinhos.
Bye Bye Brasil foi exibido no Festival de Cannes de 1980, onde competiu pela prestigiada Palma de Ouro, perdendo para o musical dramático All That Jazz – O Show Deve Continuar (1979), de Bob Fosse e para o épico Kagemusha, a Sombra de um Samurai (1980), de Akira Kurosawa, que conjuntamente levaram o prêmio para casa. Bye Bye Brasil também foi o segundo filme de Cacá Diegues a ser escolhido para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, mas acabou ficando fora da disputa.
Atualmente, Bye Bye Brasil é considerado o 18° melhor filme brasileiro da história pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), sendo um dos dois filmes de Diegues a ser incluído pela associação em sua lista de 100 Melhores Filmes Brasileiros de Todos os Tempos. Bye Bye Brasil é também amplamente considerado um dos mais importantes filmes brasileiros produzidos nos anos 1970. Além de tudo isso, a obra foi também um sucesso de bilheteria, levando quase 1,5 milhão de espectadores aos cinemas.
Quilombo (1984)
Cerca de 20 anos depois do lançamento de Ganza Zumba, Cacá Diegues voltou ao tema ao dirigir Quilombo (1984), filme que também se passa no Quilombo de Palmares, mas cobre os períodos históricos relativos a liderança tanto de Ganza Zumba quanto de Zumbi, até a destruição final do local pelo bandeirante Domingos Jorge Velho.
No entanto, se ao dirigir Ganza Zumba, Cacá Diegues ainda era um diretor iniciante, ao dirigir Quilombo, ele já era um nome consagrado do cinema nacional. Por isso, a produção desse último filme é muito maior do que a do filme de 1964. Em Quilombo, o elenco é magistral e conta com alguns dos maiores nomes do cinema nacional da época, liderados por Zezé Motta, que na época já era uma atriz consagrada, justamente por ter protagonizado Xica da Silva (1976), filme dirigido por Diegues.
Além de Motta, temos Antônio Pompêo, como Zumbi, e Tony Tornado, como Ganza Zumba, além de Grande Otelo, Léa Garcia, João Nogueira, Jofre Soares, Jonas Bloch, Chico Diaz, Maurício do Valle, Daniel Filho, Vera Fischer, Milton Gonçalves e uma jovem Camila Pitanga. Antônio Pitanga que protagoniza Ganza Zumba (1964) também está em Quilombo, mas interpretando outro personagem.
Além de um grande elenco, Quilombo também conta com valores de produção de primeira linha, até porque o filme foi co-financiado pela produtora francesa Gaumont. Por isso também, o filme é considerado uma co-produção entre Brasil e França. Quilombo estreou em competição no prestigiado Festival de Cannes, em 21 de maio de 1984. O filme concorreu a famosa Palma de Ouro, mas acabou perdendo para o hoje clássico Paris, Texas, de Wim Wenders.
Um Trem para as Estrelas (1987)
Nos anos 1980, com a aproximação do final da Ditadura Militar e a crise que se abateu sobre a economia brasileira, o cinema nacional foi um dos principais afetados e sofreu bastante. Nesse contexto, após o lançamento de Bye Bye Brasil, Cacá Diegues passou cinco anos sem dirigir um longa-metragem, lançando Quilombo em 1984, filme sobre o qual já falamos. Depois disso, Diegues só iria dirigir outro longa-metragem em 1987, justamente o drama Um Trem para as Estrelas.
No filme, Guilherme Fontes interpreta um jovem saxofonista a procura de sua namorada desaparecida enquanto navega pelas ruas e bairros do Rio de Janeiro. Além de Fontes, o elenco de Um Trem para as Estrelas conta com diversos nomes importantes do cinema e da música brasileira, incluindo Beth Prado, Betty Faria, Cazuza, Daniel Filho, José Wilker, Marcos Palmeira, Milton Gonçalves, Miriam Pires, Taumaturgo Ferreira, Zé Trindade, entre outros.
Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora de Um Trem para as Estrelas é composta por um grande nome da música brasileira, Gilberto Gil. O filme estreou em 15 de maio de 1987 na mostra competitiva do Festival de Cannes, onde concorreu a Palma de Ouro. A obra, no entanto, acabou não levando o prêmio para casa, que foi vencido pelo drama Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat.
Um Trem para as Estrelas também se tornou o terceiro filme filme de Cacá Diegues a representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, mas não conseguiu ser indicado na categoria. Na época, como poucos longa-metragens eram produzidos no Brasil, por falta de recursos financeiros, Diegues se tornaria um dos poucos diretores economicamente viáveis no cinema brasileiro.
Dias Melhores Virão (1989)
Ainda durante o período de vacas magras do cinema brasileiro, no final dos anos 1980, Cacá Diegues conseguiu dirigir mais um longa-metragem, a comédia dramática Dias Melhores Virão, estrelada por Marília Pêra, que conta a história de uma dubladora que sonha em se tornar uma grande estrela de Hollywood. O elenco do filme, conta com grandes nomes do cinema nacional, incluindo diversos atores e atrizes que trabalharam em outros filmes de Diegues, como Paulo José, Zezé Motta, José Wilker, Paulo César Pereio e Jofre Soares.
Como não poderia deixar de ser em um filme de Diegues, a trilha sonora de Dias Melhores Virão foi composta por dois grandes nomes da música brasileira, Rita Lee e seu marido, Roberto de Carvalho. Aliás, Lee também ganhou um papel no filme, interpretando Mary Shadow, a protagonista da série norte-americana que a protagonista do filme e seus companheiros dublam. Dias Melhores Virão foi premiado no Festival de Cartagena, na Espanha e foi escolhido para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, se tornando o quatro filme de Cacá Diegues a alcançar tal feito.
Tieta do Agreste (1996)
Com a redemocratização do Brasil e a retomada do cinema brasileiro a partir da metade dos anos 1990, Cacá Diegues volta a dirigir longas-metragens. Primeiro, com a coletânea Veja Esta Canção (1994) e depois com Tieta do Agreste (1996), sobre o qual falaremos agora. Tieta do Agreste é uma adaptação do livro de mesmo nome do consagrado escritor baiano Jorge Amado, que conta a história de Tieta que ainda adolescente é expulsa pelo próprio pai da pequena cidade de Santana do Agreste no sertão da Bahia e volta ao local 26 anos depois rica e poderosa.
Uma adaptação do livro vinha sendo cogitada desde 1982, quando a famosa diretora italiana Lina Wertmüller adquiriu os direitos sobre o livro, assim que ele foi lançado na Itália. Amiga pessoal de Amado, Wertmüller chegou a recrutar a famosíssima atriz italiana Sophia Loren para o papel principal e a atriz brasileira Claúdia Ohana para o papel de Tieta ainda jovem. No entanto, por motivos desconhecidos a produção foi cancelada, mesmo depois que algumas cenas já haviam sido gravadas.
Depois disso, Sônia Braga tentou adaptar o livro para cinema, com a produção sendo, inclusive, financiada por seu namorado na época, o ator e produtor Robert Redford. No entanto, Braga foi surpreendida com o fato de que os direitos de adaptação de Tieta para a televisão já haviam sido adquiridos por Betty Faria, que acabou protagonizando uma novela produzida pela Rede Globo e baseada no livro.
Com isso, o projeto de Sônia Braga foi arquivado até 1995, quando o filme finalmente saiu do papel pelas mãos de Cacá Diegues. Filmado todo em locação, principalmente no povoado de Picado, no município de Conceição do Jacuípe, no Recôncavo Baiano, Tieta do Agreste foi protagonizado pela própria Sônia Braga e conta com um grande elenco, incluindo, como sempre, diversos atores e atrizes comumente presentes nos filmes de Diegues. Entre os principais destaques do elenco estão, Marília Pêra, Chico Anysio, Cláudia Abreu, Leon Góes, Heitor Martinez, Zezé Motta, André Valli, Jece Valadão, Patrícia França e Daniel Filho.
Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora de Tieta do Agreste foi composta por um grande nome da música brasileira, nesse caso Caetano Veloso, além de ter sido produzida pelo maestro Jaques Morelenbaum. O grande destaque da trilha sonora do filme é a canção “A Luz de Tieta”, composta e interpretada pelo próprio Caetano Veloso em parceria com Gal Costa. A canção acabou fazendo um grande sucesso comercial, se tornando uma das mais conhecidas de Veloso e também se tornando inseparável do filme e da personagem, Tieta.
Tieta do Agreste foi o quinto filme dirigido por Cacá Diegues a ser escolhido para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional. Infelizmente, assim como os outros quatro que vieram antes dele, a produção não conseguiu a indicação. No entanto, a obra se mantêm como um dos grandes destaques da filmografia de Cacá Diegues.
Orfeu (1999)
Cacá Diegues terminou os anos 1990 dirigindo Orfeu, a segunda adaptação para o cinema da peça musical Orfeu da Conceição, escrita por Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim, que conta a história dos personagens da mitologia grega Orfeu e Eurídice, só que trazida para o contexto da favela e do carnaval cariocas. A primeira adaptação da peça para o cinema ocorreu em 1959, com Orfeu Negro, dirigido por Marcel Camus.
Apesar de ter sido filmado no Brasil, com elenco majoritariamente brasileiro, Orfeu Negro foi dirigido por um cineasta francês com uma equipe majoritariamente francesa e, por isso, acabou representando a França no Oscar de Melhor Filme Internacional, onde acabou, inclusive, vencendo essa categoria. Aliás, até esse ano, Orfeu Negro tinha sido a acasião em que o cinema brasileiro passou mais perto de vencer o Oscar nessa categoria.
Nessa segunda adaptação para o cinema, Diegues resolveu atualizar o enredo da peça Orfeu da Conceição, trazendo para o filme o contexto do tráfico de drogas que já era bastante presente nas favelas do Rio de Janeiro nos anos 1990 quando o filme foi feito. Orfeu é protagonizado pelo cantor Toni Garrido e pela atriz Patrícia França. Além deles, o elenco conta ainda com Murilo Benício, Isabel Fillardis, Milton Gonçalves, Zezé Motta e Cássio Gabus Mendes, entre outros.
Como ocorre em praticamente todos os filmes de Cacá Diegues, a trilha sonora de Orfeu foi composta por um grande nome da música brasileira, nesse caso Caetano Veloso. O filme foi exibido em diversos festivais importantes, incluindo o Festival de Cinema de Telluride e o Festival Internacional de Cinema de Toronto. A produção também foi escolhida para representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Internacional, se tornando assim, o sexto filme de Cacá Diegues a obter tal feito. No entanto, diferentemente da adaptação de 1959, a adaptação de Diegues nem chegou a receber uma indicação a premiação.
Deus é Brasileiro (2003)
Imagine se Deus resolvesse tirar férias e viesse ao Brasil em busca de um “santo” para assumir seu lugar nesse período de ausência? Pois é esse o enredo básico da comédia dramática Deus é Brasileiro, que foi o primeiro longa-metragem que Cacá Diegues dirigiu nos anos 2000. O filme é protagonizado por Antônio Fagundes, no papel de Deus, Wagner Moura, em início de carreira, no papel de seu guia, o esperto pescador Taoca, e Paloma Duarte, como Madá, uma jovem que quer muito chegar a São Paulo.
Deus é Brasileiro foi filmado todo em locação nos estados de Tocantins, Alagoas, Rio de Janeiro e Pernambuco. Uma superprodução para os padrões do cinema brasileiro da época, produzido a um custo de cerca de 7 milhões de reais, o filme contou com efeitos visuais de primeira linha que entravam em cena principalmente quando Deus utilizada seus poderes. Apesar de cômico, Deus é Brasileiro traz pitadas fortes de drama e também de crítica social, como não poderia deixar de ser em um filme de Cacá Diegues.
A trilha sonora do filme foi composta por Chico Neves, Hermano Viana e Sérgio Mekler e conta com canções intepretadas por Djavan, Roberta Miranda, Hermeto Pascoal e outros grandes nomes da música brasileira. No elenco de Deus é Brasileiro, além dos três intérpretes já citados acima, estão ainda Hugo Carvana, Stepan Nercessian e Chico de Assis, entre outros.
Deus é Brasileiro foi um grande sucesso de público, levando mais de 1.6 milhões de pessoas aos cinemas e arrecadando mais de 10.6 milhões de reais somente em bilheterias. O filme fez com que Cacá Diegues reencontrasse uma popularidade que ele não experimentava desde os anos 1970. Pode-se dizer que Deus é Brasileiro foi o último filme popular da filmografia de Diegues e também seu último sucesso de bilheteria.
O Grande Circo Místico (2018)
Último filme de Cacá Diegues lançado enquanto ele ainda estava vivo, O Grande Circo Místico conta a história de cinco gerações de uma mesma família circense. Da inauguração do tal circo, na década de 1910, passando por seu apogeu e por seus anos de decadência. O elenco do filme é franco-brasileiro, contando com atores e atrizes dos dois países. O destaque vai para o ator francês Vincent Cassel, que tem carreira internacional destacada, mas que também tem uma forte ligação emocional com o Brasil.
Além dele, o elenco conta também com a atriz francesa Catherine Mouchet e os atores e atrizes brasileiros, Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Mariana Ximenes, Antônio Fagundes e Juliano Cazarré. O Grande Circo Místico custou 3 milhões de reais para ser produzido e foi filmado em locações no Brasil e em Portugal. O filme estreou em 12 de maio de 2018 no prestigiado Festival de Cannes, onde foi exibido na mostra especial e, portanto, fora da competição pela Palma de Ouro.
Como é comum na obra de Diegues, o filme conta com uma trilha sonora composta por dois grandes nomes da música brasileira, Chico Buarque e Edu Lobo. Elogiado e premiado no Brasil, O Grande Circo Místico foi escolhido para representar o país no Oscar de Melhor Filme, se tornando assim o sétimo e último filme de Cacá Diegues a obter tal feito. Infelizmente, assim como os outros seis filmes antes dele, a produção não conseguiu a indicação ao Oscar.
Matéria na íntegra: https://pop.proddigital.com.br/listas/listas-de-filmes/13-filmes-marcantes-de-caca-diegues
18/03/2025