Suor masculino atrai homossexuais e mulheres, diz estudo. O suor masculino excita o cérebro dos homens homossexuais do mesmo modo como acende luzinhas no cérebro de mulheres heterossexuais, mas deixa insensíveis os homens heterossexuais. No experimento, o suor era colocado em frascos de vidro a 1 cm do nariz. Folha de São Paulo / Ciência, 10.05.2005
Ele era do tipo machão: alto, musculoso, ombros largos, cintura estreita. E, machão, fazia muito sucesso com as mulheres. Conquisto qualquer uma a qualquer hora, costumava dizer, e isto que poderia parecer gabolice não estava muito longe da realidade: de fato, ele trocava de namorada como quem troca de camisa. Já no mercado de trabalho não tinha tanto sucesso; apesar da excelente aparência, volta e meia estava desempregado e, embora morasse sozinho, tinha dificuldade até em arranjar grana para a comida. De modo que quando leu no jornal um anúncio pedindo homens para um estudo científico foi até o laboratório. O pagamento era modesto, mas quebraria o galho. E o que tinha a fazer era muito simples: cheirar o suor de homens e mulheres ao mesmo tempo em que um aparelho examinava a reação de seu cérebro ao odor.
Terminada a primeira rodada de testes a coordenadora da pesquisa, uma mulher ainda jovem e muito bonita mandou chamá-lo e perguntou-lhe qual era, mesmo, a sua preferência sexual. Gosto de mulheres, disse ele, meio surpreso. Estranho, disse ela, porque seu cérebro mostra que você reage ao suor de outros homens, que é o que acontece com homossexuais. Prometeu revisar o estudo e disse que entraria em contato.
Nos dias que se seguiram viveu um estado de permanente ansiedade. Da qual, no entanto, não falou a ninguém. O único que percebeu alguma coisa foi seu vizinho de prédio, um rapaz simpático, atencioso, que lhe perguntou o que estava acontecendo. Ele hesitou mas acabou desabafando: estou descobrindo que sou um homossexual enrustido, disse, entre lágrimas. O rapaz, condoído, consolou-o como pôde e disse que estaria sempre à disposição para ajudá-lo.
Dois dias depois recebeu um telefonema da coordenadora do projeto: precisavam falar com urgência. Ele foi até o laboratório. Muito cheateada, ela disse haviam lhe dado para cheirar um frasco com rótulo errado: não continha suor de homem, mas sim de mulher.
Na verdade, é o meu próprio suor. Não sei como isto aconteceu...
Perguntou se poderia lhe oferecer alguma compensação pelo transtorno, e, caso positivo, qual seria esta compensação.
Você disse ele, sem hesitar.
Estão vivendo juntos, na casa da pesquisadora. Ela até o sustenta. O melhor dos mundos, e veio na hora certa: o fato é que ele já estava começando a achar o vizinho muito, muito simpático.
Folha de São Paulo (São Paulo) 16/05/2005