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ABL na mídia - Estadão - Artigo Ignácio Loyola Brandão - Aiuruoca é pequena, mas tem orgulhos, como João Vitor, o herói matemático de 14 anos

 

Aos 20 anos, passei por dura prova. Momento decisivo. Para ser aprovado no curso científico, eu precisava, no exame oral, resolver uma equação e tirar 9,47. Missão Impossível. A equação no quadro negro era a coisa mais estranha que eu já tinha encarado. Para não fazer feio diante de uma plateia de alunos e professores, delirei, enchi o quadro negro de tudo que me veio à mente, como sinais matemáticos. Do Pi ao Triângulo Isósceles e aos números primos. O professor percebeu a sacação, eu vinha de duas reprovações e ele sabia que tudo que eu queria era partir para São Paulo. Ele olhou a doideira e lascou 10 dizendo: “Vá! O 10 é pela loucura e imaginação. O seu mundo”. Eu já escrevia para um jornal.

Esse passado me veio agora em Aiuruoca, Minas Gerais, onde tenho casa. A cidade se viu sacudida por um feito que repercutiu no mundo educacional. João Vitor Ferreira da Cunha, 14 anos, acabou de ganhar a Medalha de Prata, na etapa regional, e a de Bronze na edição nacional da 19.ª Olimpíada Brasileira de Matemática. O campeão é filho de nossa colaboradora Rose e de Alci, um administrador de fazenda. O jovem conseguiu uma vitória “gigantesca” aos meus olhos. A conquista dele é relevante. João Vitor é da zona rural de uma cidade de 7 mil habitantes. Aluno de um grande e tradicional colégio? Não. De um desses cursinhos que enchem as rodovias de outdoors? Não. É aluno de umas dessas instituições de ensino que gastam milhões em merchandisings televisivos? Ele estuda na Escola Municipal Nossa Senhora do Rosário do Sagrado Coração no bairro Tamanduá, Aiuruoca. O feito de João Vitor comprova que ainda existem professores que dão tudo em escolas de periferia ou rurais, circulando por ruas ou estradas de poeira e lama, para ensinar. No inicio, João Vitor ia até mal, porém uma troca de professor mudou tudo, o menino penetrou no encanto da matemática. Continuando, e ele disse que vai continuar, talvez resolva problemas clássicos como o Teorema da Bola Cabeluda ou o Analisador Diferencial.

Aiuruoca é pequena, mas tem orgulhos. Terra de Dantas Mota que Carlos Drummond afirmou ser o mais mineiro de todos os poetas. Ali nasceu Isis Valverde, estrela de novelas e filmes. E Sandersom de Queiróz, criador da residência médica e da Unimed. Lá há uma cachaça multipremiada, a Tiê, queijos igualmente coroados, o Goa e o Lejane, pousadas e cachoeiras. Sem esquecer um azeite de oliva, o AIU, premiado em Tóquio, Paris, Berlim e Cartago (Tunísia). Olivais se estendem pelas montanhas, vigiadas pelo Pico do Papagaio. Ali há um herói, João Vitor, matemático.

Matéria na íntegra: https://www.estadao.com.br/cultura/ignacio-de-loyola-brandao/aiuruoca-e-pequena-mas-tem-orgulhos-como-joao-vitor-o-heroi-matematico-de-14-anos/

25/02/2025