O Eclesiastes 3 ensina: “Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”. Não seria diferente na política, cujo tempo é distinto do tempo da economia. O tempo da política exige pressa, o da economia, cautela. Há, portanto, tempo de plantar e tempo de colher. Mas quando as circunstâncias pessoais do dirigente misturam esses tempos, a chance de dar errado aumenta.
Ao contrário do combate ao déficit fiscal, que o presidente Lula encara com uma visão imediatista, na luta contra a criminalidade o governo está tendo uma postura que exige paciência e o uso da tecnologia para obter sucesso no estrangulamento financeiro das facções criminosas, sejam ligadas ao tráfico, sejam às milícias, que geralmente são a mesma coisa.
Na política econômica, porém, o presidente Lula hoje tem a pressa que não tinha em 2003, quando assumiu pela primeira vez o governo. Naquela ocasião, Lula tinha condições políticas para indicar um banqueiro internacional tucano para presidir o Banco Central. Henrique Meirelles acabara de ser eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás e surgiu do nada como sinal de que o compromisso da Carta aos Brasileiros era para valer.
Tinha também tempo para esperar a estabilização da economia para retomar o projeto petista desenvolvimentista. A nova matriz econômica, baseada no gasto público que provocou a derrocada do equilíbrio fiscal, foi sendo adotada gradativamente, a partir do segundo mandato de Lula, quando Guido Mantega assumiu o posto de ministro da Fazenda no lugar de Antonio Palocci, e prosseguiu no primeiro governo Dilma.
Lula, no primeiro governo, aprendeu a aceitar medidas que iam no sentido inverso da cartilha petista de desenvolvimento, e Dilma, que quase perdeu a reeleição em 2014 para o tucano Aécio Neves, tentou reavivar a política ortodoxa para superar a crise que se alastrava, e convidou o tucano Joaquim Levy para substituir Mantega no Ministério da Fazenda.
O que parecia uma virada de rumo transformou-se em um processo de fritura de Levy, que nunca teve apoio da presidente. Lula está hoje no mesmo ponto em que deixou o governo em 2010. Parece querer resultados imediatos na economia, para ganhar força novamente e enfrentar o Centrão no Congresso, como fazia em outros tempos, quando era extremamente popular, tanto que os políticos não ousavam enfrentá-lo, antes se entregavam em troca de fisiologismo.
No combate à criminalidade, age cautelosamente, mais por não querer assumir de frente o combate, do que por estratégia. O então todo poderoso Chefe do Gabinete Civil de Lula no primeiro mandato, José Dirceu, sonhava ser o “czar antidrogas”, mas essa bazófia nunca se concretizou. Naquela época, pensava-se que a utilização das Forças Armadas no combate ao crime organizado seria a “bala de prata”, e várias ações foram tentadas, até a criação do ministério da Segurança Pública, que não teve continuidade.
Hoje, espera-se que a estratégia correta seja a que o ministro da Justiça Flavio Dino está organizando, pela primeira vez um combate à criminalidade, sejam traficantes, sejam milicianos, que tem a permanência como premissa, e a inteligência operacional como base. Nada de pirotecnia, tudo a longo prazo, sem abrir mão da repressão, necessária.
Saber que não há “bala de prata”, e que não será em meses que a questão será solucionada, é o caminho certo nesse caso. O interessante é que, no caso da economia, a pressa de Lula não casa com a estratégia do ministro da Fazenda Fernando Haddad, que pretende manter a meta de déficit zero para segurar o ânimo gastador do governo. Mas quando o próprio presidente incentiva seus ministros a gastarem, dificilmente essa conta fecha.