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O legado de Vilaça

 

O pernambucano Marcos Vinicios Vilaça encerra o seu mandato como presidente da Academia Brasileira de Letras sob o aplauso e o reconhecimento de todos os segmentos da intelectualidade. Ele abriu a Casa de Machado de Assis para os mais diversos ramos da cultura, promoveu debates e seminários sobre temas palpitantes, modernizou, inovou, informatizou e democratizou os atos da Academia, trazendo-a para mais perto do povo. Ali, na sua gestão, cuidou-se não apenas de literatura, mas também de música popular, de samba, de frevo, de cinema, de artes plásticas – de todas as manifestações do conhecimento sem as quais não se identifica uma nação. Foi uma gestão para ficar na história, a passagem de Vilaça pela ABL.

Ele não nega que seu período de aprendizagem foi iniciado na Academia Pernambucana de Letras, que também dirigiu, sendo ainda muito moço. Na época, Gilberto Freyre deu um depoimento que ainda hoje é lembrado: “Tão jovem, e tão presidente...” E agora, amadurecido, levou essa experiência para a Casa de Machado de Assis, que funciona no Rio de Janeiro mas recebe candidaturas de qualquer parte do Brasil. Por isso, é considerada nacional.

Há poucos dias, quando da posse, no Recife, do advogado e cronista José Paulo Cavalcanti na Academia Pernambucana de Letras, Marcos Vilaça compareceu com aquele que seria seu sucessor na ABL, o jornalista Cícero Sandroni, e num rápido discurso se referiu aos muitos pernambucanos que dirigiram o sodalício de âmbito nacional, entre os quais destacou o caruaruense Austragésilo de Athayde, que teve uma longa gestão e se tornou responsável pela formação do atual patrimônio imobiliário da instituição, numa rua central da antiga capital brasileira.

Em comentário publicado neste mesmo espaço de jornal, tivemos ocasião de comparar a riqueza material da Academia Brasileira de Letras com a constante falta de recursos da sua congênere pernambucana, apesar do equilíbrio financeiro obtido na atual gestão, que acaba de ser renovada por mais dois anos.

Saliente-se que, no discurso de passagem do bastão de presidente ao seu sucessor, no Rio de Janeiro, Marcos Vinicios Vilaça não fez alarde dos rendimentos à disposição da ABL, mas traçou a sua profissão de fé no que considera primordial à atividade que com tanto brilhantismo exerceu durante dois anos: “Eu sempre tive na minha cabeça que uma academia não pode ser exclusiva de letras. Ela precisa ser um espaço com visão ampla das humanidades. Procurei fazer ainda um enlace com academias e instituições estrangeiras”, ressaltou.

O fato, como ficou dito num texto de primeira página do nosso Caderno C, na última segunda-feira, é que a gestão Vilaça renovou a atenção da mídia pelas atividades das academias em todo o Brasil. Ele não apenas levou à sede da entidade pessoas de várias áreas culturais, como comandou um grande programa de doação de livros. “Só este ano, doamos mais de 60 mil títulos para comunidades carentes. Esta semana, dois mil livros foram enviados para um programa interessantíssimo, de biblioteca no metrô de São Paulo”, particularizou.

O seu sucessor fez ainda alguns acréscimos. “A preocupação central da gestão anterior foi unir a academia e a sociedade, um projeto que queremos continuar realizando. Uma forma que Vilaça encontrou de realizar essa união foi reformular o site da instituição, transmitindo os eventos realizados. Com essa proposta, estamos tendo respostas de pessoas de todos os lugares do mundo”, apontou o jornalista e escritor Cícero Sandroni.

Na presença dos dois, o mais recente empossado na Academia Pernambucana de Letras, nosso antigo colaborador José Paulo Cavalcanti, afirmou, no Recife, que Sandroni vai encontrar pela frente muitas facilidades, trilhando um caminho bem construído, mas também terá a dificuldade maior – que é a de substituir à altura um presidente como Marcos Vinicios Vilaça. Todos os presentes pareceram haver concordado com a frase, inclusive aquele que se preparava ainda para ser empossado na presidência da Academia Brasileira de Letras, para cumprir um mandado que terminará em 2009.

Jornal do Commercio (PE) 16/12/2007

16/12/2007 - Atualizada em 16/12/2007