Para quem escreve – e também para quem lê – Nelida Piñon, que ocupa um nicho único na literatura brasileira, acabou de dar a chave de uma saga. Em sua entrevista a Ubiratan Brasil, edito do Caderno 2 de O Estado de S. Paulo ela revela, sempre com sua intensa capa cidade de manipular palavras e emoções, a chave. Ela diz como, porém ficamos diante de outro problema. Assim é. Mas como saber fazer. Parece simples, fácil, quase irrisório, mas como moldar o material a partir daí?
A revelação equivale a um poema. Nélida conta: “O livro pedia um tipo especifico de, pois eu precisava sentir o cheiro exalado pelas colinas, pelas aldeias, especialmente da região de Sagres. Bastava ohar para um árvore. Como a história se passa no século 19, eu necessitava recuperar isso com precisão.”
Assim nasceu a saga Um Dia Chegarei a Sagres.
No entanto a coisa é mais profunda, simbólica. Mais do que sentir o cheiro, Nélida foi lá e se deixou possuir pelo cheiro das colinas, das árvores, das folhas, da terra, do chão, da poeira, das pedras, do mar, dos peixes, das manhãs e das tardes, de tudo que ficou para sempre impregnado em Sagres, uma finisterra. Uma folha tem o DNA de tudo. Lá estão todas as marcas no chão, no ar, nos cheiros. Nélida recolheu. Nélida foi, entendeu, impregnou-se, escreveu. A diferença é ser alquimista com capacidade de processar tudo nas retortas e cadinhos e tubos de ensaio da alma e da mente , transformando em saga. Nélida é essa maga.