Começaremos o ano eleitoral de 2018 sem sequer saber quais serão os candidatos a presidente da República em outubro, o que é fato inédito e explicita a crise moral e política que vivemos. Ao mesmo tempo que estamos superando aos trancos e barrancos a crise econômica, saindo da maior recessão já ocorrida no país, o fator político deve ganhar peso na formação das expectativas.
Sob esse ponto de vista, o economista Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central e atualDiretor do Centro de Economia Mundial da FGV montou os cenários possíveis para o ano que começa amanhã, prevendo umcrescimento do PIB na faixa de 3%. Haverá, segundo Langoni, uma reação lenta do mercado de trabalho, gerando percepção de alguma melhora social, sendo possível que, no meio do ano, a taxa de desocupação volte a um dígito.
Esse reaquecimento, combinado com ganhos reais na massa salarial deve influenciar positivamente as expectativas da classe média, com importantes desdobramentos para as eleições presidenciais. Para Langoni, “será feita uma escolha crucial entre o populismo irresponsável - mas com a atração fatal das soluções mágicas - e a continuidade do ciclo de reformas - de implementação duvidosa".
Apesar desse contexto complexo, para Langoni permanece alta a probabilidade de um cenário econômico positivo que combine expansão mais rápida com inflação baixa e maior mobilidade social. A visibilidade dessa recuperação multidimensional tornará mais difícil a desconstrução da estratégia macro com viés liberal, minimizando as opções radicais. Para ele, a esperada maior volatilidade nos índices de confiança, acompanhando as pesquisas eleitorais, deve ser compensada pela aceleração do ritmo de crescimento em ambiente de inflação baixa.
Esse crescimento será alavancado pela economia mundial, pois, segundo Langoni, o PIB mundial deve sustentar expansão sincronizada liderada pelo comércio internacional. A China, mesmo com restrições do endividamento excessivo, irá contribuir para o avanço rápido dos emergentes e para a estabilização das commodities.
Por outro lado, os efeitos da “Trumpeconomics”, a economia da era Trump nos Estados Unidos, pode trazer problemas internos. Langoni vê na reforma tributária dos Estados Unidos, pelo viés expansionista, uma ameaça ao gradualismo do Fed, o banco central dos Estados Unidos. Na sua análise, eventual alta mais brusca nos juros poderia levar o dólar a novo patamar global de valorização, com impactos negativos sobre as moedas emergentes, inclusive o real.
O maior desafio do governo Temer é o ajuste fiscal incompleto, e o rumo da reforma da Previdência no 1º trimestre será o grande teste de consistência da política econômica. “Será crucial para definir a tendência de risco-país - hoje na faixa de 200 pontos-base (spreads do CDS) - ampliando ou amortecendo as tensões eleitorais”.
Em contraste, “com expectativas ancoradas” na definição de Langoni, a inflação deve permanecer abaixo da meta (IPCA em torno de 4%). Esse é importante trunfo que deve viabilizar a continuidade, pelo Banco Central, de uma política monetária expansionista com a taxa básica de 7% e juros reais de 3%.
No cenário mais provável de Langoni, o avanço mais rápido do PIB será acompanhado de desempenho setorial mais homogêneo, com avanço da indústria e serviços e menor dependência da agricultura. Haverá também maior equilíbrio sob a ótica da demanda: a saída da recessão foi liderada pelo consumo das famílias.
Com a melhora da confiança, marcos regulatórios consistentes e juros reais historicamente baixos, Langoni prevê que o investimento deverá reagir, apontando para a sustentação da retomada.
O ajuste externo bem-sucedido deverá estender-se ao próximo ano: o mega-superávit observado este ano (US$ 65 bilhões) dificilmente será repetido, até porque espera-se maior crescimento das importações, acompanhando o aquecimento do mercado interno.
O cenário externo continuará favorecendo as exportações, mas o ritmo de expansão será mais lento, de 18% para cerca de 10%. Relativa estabilidade do câmbio deve ser mantida, o ajuste externo com trajetória benigna: alta apenas moderada no déficit em conta-corrente, para US$ 30 bilhões, financiado com facilidade, por capitais de longo prazo. O investimento direto estrangeiro permanecerá estável em US$ 80 bilhões.
A solidez das contas externas deverá sustentar o atual patamar da taxa de câmbio (R$ 3,30 / US$), apesar da maior volatilidade associada à evolução das pesquisas eleitorais. Deve-se levar em consideração, entretanto, o viés de desvalorização, refletindo o “efeito Trump” no cenário internacional e o “efeito Lula” no plano doméstico.